The Recovery #40



Mercúrio 



     Ao acordar, Mercúrio sentiu uma enorme dor de cabeça e um cheiro a mel no espaço. Quando os seus olhos viram o rosto diante de si, como primeira reação, sorriu, mas logo percebeu que Mondy não o encarava da mesma forma e então o sorriso desapareceu. 
     Preparou-se para dizer algo como "Está tudo bem?" ou "Passa-se algo?" no entanto as memórias acertaram-lhe como uma flecha. Mercúrio perdera o controle. Deixara-se possuir pela raiva e quase que ia matando Tema, o Tal da sua Irmã. 
- Ainda bem que te lembras. 
A voz dura e triste de Mondy pesou-lhe nos ombros e no coração. Ele tinha mesmo feito asneira, e uma das grandes. 
- Mondy... desculpa. Eu... Eu perdi o controle. - Ele colocou a mão no rosto a tentar controlar a dor de cabeça. 
- Não é a mim que tens de pedir desculpa, Mercúrio. - Mondy respirou fundo. - Tens bem a noção do que fizeste? - Ele preparou-se para responder mas a voz da sua Tal perfurou qualquer palavra que iria sair da sua boca. Mondy levantou-se e desviou o seu olhar do dele e disse: 
- Tu quase matas-te a tua Irmã... Atacas-te o Sol e o Plutão e ias matando o Tema. - Fitou-o. - Mercúrio, o que se passa contigo? 
- Mondy, ele quase que te matou! - Levantou-se e ficou um pouco tonto mas isso não o impediu de continuar. - Eu só queria que ele tivesse o troco na mesma moeda. 
- E ele teve. Acredita que sim. Mas esta tua... - hesitou à procura de palavras - Esta tua sede de vingança foi longe de mais. Eu quero que o Tema  fique longe das nossas vidas para sempre, acredita, mas não desta forma. Sabes que mais? Depois desta tua loucura tu não és melhor que ele. Estás a agir como ele, Mercúrio. 
- Ouve, desculpa-me, está bem? Agi de cabeça quente. E eu não sou nada como o Tema. Tu sabes bem disso. - Mercúrio fitou-a, à procura de indícios de que ela não acreditava realmente naquilo. 
- Eu já te disse que não é a mim que tens de pedir desculpa. 
      Mercúrio passou a mão pelo cabelo a pensar em como iria sair desta trapalhada toda. 
- A Vénus já não está cá. Tema levou-a com a pouca energia que lhe restava.
- Eu vou falar com ela e com os outros, mas, por agora, podes ficar comigo? - Mondy hesitou em responder. - Por favor, Mondy. - Mercúrio olhou-a com os olhos tristes e cheios de saudade na esperança de que ela visse o quão ele precisava dela. 
- Eu fico... - disse baixinho e hesitante. - Eu fico. - Soltou-lhe um sorriso curto e estendeu-lhe a mão. - Mas por pouco tempo. - Mercúrio puxou-a para si e abraçou-a forte. Mondy retribuiu-lhe o abraço e não o queria largar. Ele sorriu e beijou-lhe o cima da cabeça. Mercúrio sabia que ela acabaria por ficar com ele o tempo que fosse necessário, o tempo que ele quisesse e precisasse, porque quando a sentiu nos seus braços, ele e Mondy recuperaram todos os fios perdidos da sua Ligação e desta vez eles não iriam desistir um do outro, nunca mais.



Tema 



     Após o incidente que tinha havido com Mercúrio, Tema usara as últimas porções de energia que tinha em si e trouxe Vénus para a casa deles. Ele temia que ela não sobrevivesse a viagem. Ela gastara demasiada energia  ao parar Mercúrio, mas Vénus é forte. Já tinham passado uma, duas, três horas desde que Tema aplicara o curativo na sua Tal e ela parecia não acordar. 
      Tema não tinha descansado nada de jeito desde que chegara. Estava demasiado preocupado com a Vénus para fechar os olhos por alguns momentos e descansar. Ele levantou-se, do canto da cama onde estava sentado, e foi à casa de banho. Colocou as mãos em cima do lavatório e encarou-se no espelho. Os seus olhos não estavam à espera do que viram: o nariz inchado, rodeado de sangue e decerto partido, o seu olho esquerdo negro, assim como zonas do maxilar, fios de sangue seco a saírem pela boca, dois arranhões; um por cima da sobrancelha loura e outro na testa. Tinha hematomas nas bochechas, o maxilar dorido e zonas levemente queimadas que precisavam de água fria. Suspirou. Abriu a torneira e molhou um pouco a toalha. De seguida começou a limpar os ferimentos. Tema soltou um gemido de dor. Não se tinha apercebido de qualquer dor  física até agora. Porém, não o incomodava assim tanto. Já se tinha habituado à dor. Ela era mais que sua conhecida, aliás. E Tema, lá no fundo, até acreditava ser merecedor dela. 
- Deixa-me fazer isso por ti - disse Vénus da porta da casa de banho.
      A sua cara estava pálida e tinha olheiras salientes, porém, trazia um sorriso. 
- Vénus... O que estás a fazer em pé? - Tema pousou a toalha no lavatório e foi ter com ela. Agarrou no seu braço e colocou-o nos seus ombros, oferecendo-lhe apoio. Rapidamente levou a sua Tal para a cama de onde ela não devia ter saído.
- Ia ajudar-te a limpar os ferimentos... - Vénus colocou a sua mão no rosto dele. - Estás tão ferido.
- Tu estás mais, Vénus. Tens noção que te ias matando? - As palavras dele pretendiam atacar, mas soaram calmas. 
- Resultou não foi? Tu não morreste portanto resultou. Valeu a pena. - Vénus deslizou a sua mão até à do seu Tal.
     Tema sentiu o calor do corpo dela apoderar-se do seu. Essa sensação agradava-o imenso. Tema inclinou-se e deu-lhe um beijo doce e suave. Colocou as suas mãos no seu rosto e quando os lábios deles se afastaram, ele fitou os olhos vermelhos dela que lhe faziam lembrar rubis. As bochechas dela ficaram coradas e o seu sorriso era capaz de iluminar mil e uma galáxias. Sentia também, no entanto, uma grande dor no maxilar e nos lábios.
- Não me voltes a fazer uma coisa destas, está bem? 
- Tu é que não me voltes a fazer uma coisa destas. 
- Combinado. - Sorriu-lhe e beijou-a de novo. 
     Depois, Tema deixou Vénus limpar-lhe as feridas mas não deixou-a usar qualquer poder de Cura nele. Ele sabia que ela ainda estava muito fraca e assim que ela acabara de tratar dele, fora a sua vez de tratar dela.
     Tema não é um mestre de culinária por isso fez  o melhor que pode: massa com molho enlatado.
Logo depois de comerem, Vénus deixou-se adormecer no peito dele e ambos caíram num longo sono, envolvidos no calor um do outro sem se lembrarem que alguma vez estiveram separados.



Luna 



- Importas-te de estar quieto? Estou a tentar usar isto do betadine bem.
- Estou a tentar - disse Sol numa cara de dor.
- Estás a ser um maricas, isso sim. Quase nem se vê a ferida, Sol.
     A cara que ele fez deu-me vontade de rir. Ele estava realmente a sofrer por uma ferida de nada.
- Pronto, já está. Já acabei com o teu sofrimento.
     Ele levantou-se e colocou o seu braço à volta dos meus ombros.
- Mercúrio realmente perdeu o controle.
     Hesitei em dar qualquer resposta apesar de ele não me ter perguntado nada. Eu compreendia completamente de onde surgira a raiva do Mercúrio. Eu tinha essa raiva dentro de mim e escolhi guardá-la, Mercúrio escolheu mostrá-la. Só que ele não devia ter chegado ao ponto que chegou... Ele magoou pessoas que nada tiveram a ver com o assunto... Sol, Vénus, o meu pai... Ele foi longe de mais.
- Pois foi.
- O que tens?
- Nada. Absolutamente nada.
      Antes que Sol pudesse bombardear-me com perguntas, fui ter com o meu pai na esperança de ele precisar de ajuda.
- Luna, estou bem.
- Mas estás a sangrar.
- Já não estou. O sangue secou.
- Então isso quer dizer que veio de algum lado, logo estás ferido, logo deixa-me ajudar-te.
     Ele suspirou e fez-me a vontade. Por uns bons 30 minutos consegui escapar-me de Sol, mas assim que o meu pai decidiu subir as escadas para ir para o antigo quarto do Sol  descansar (de certeza que a avó e o Mercúrio devem estar agarradinhos por este andar), Sol fez questão de fazer-me um inquérito.
- O que se passa contigo, Luna?
- Hum? Como assim?
- Estás estranha desde do almoço.
     Ele reparou que eu iria enrolar o assunto até ele desistir, e por isso, insistiu ainda mais. E então decidi contar-lhe das minhas visões.
- Eu não queria esconder-te isto. Por favor, não te zangues, está bem?
- Está bem. Conta-me o que é.
- Prometes?
- Prometo.
- Bem, eu tenho visões.
     Ele ficou, claramente, chocado quando lhe contei. Acho que ele esperava que eu dissesse que matei não sei quantos ou algo do género. Mas logo a seguir, consegui sentir que ele ficara um pouco perturbado por não lhe ter contado desde do início.
- Então é por isso que não te senti à bocado... Foi porque o teu espírito se tinha deslocado para outro local.
- Sim, mais ou menos isso, sim. Acho eu.
- Esta não foi a tua primeira, pois não?
    Abanei a cabeça. Sentei-me mais perto dele e contei-lhe como tudo começou. Até lhe contei que tinha visto que ele iria aparecer quando estivesse com Tema no jardim. Só de pensar nessa noite fico com um nojo e uma tristeza enorme. Acho que nunca me irei perdoar, mas Sol perdoou-me e isso é tudo o que preciso.
- Pelo menos contaste-me. Sou o único que sabe?
- Sim, e vai permanecer assim. A única pessoa que precisa de saber, és tu. - Abracei-me ao seu braço e coloquei a cabeça no seu ombro. - E desculpa ter-te escondido isto. Não sabia bem como irias reagir a cada visão que tivesse.
- Não faz mal, Luna. Estou contente que me tenhas contado. - Sorriu-me.
- Vamos para cima? Acho que por hoje já tivemos ação suficiente.
- Sim. Aliás, tenho de repousar. Estou ferido. - Disse enquanto se apoiava em mim para levantar.
- Sim, Sol. Muitíssimo ferido, deveras - revirei os olhos e sorri.


     Quando eu e Sol nos deitámos na cama e eu estavas prestes a fechar os olhos para um descanso merecedor, fui invadida por uma luz branca e cor de rosa e tudo à minha volta desapareceu. Eu só reconheci a sua figura quando olhei com atenção.
- Lua?
- Luna, tens de protegê-lo... Protege-o!
- Lua! O que se passa? Proteger quem?
- Luna, é importante que o protejas. Ele tem de viver! Protege-o... -      Num milésimo de segundo, tudo voltou ao normal. O calor do Sol percorria cada canto da minha pele e eu estava envolvida nos seus braços, porém, a minha mente estava a milhas de distância e eu não sabia o que fazer. E então um sussurro no ar se pronunciou: "Protege-o...". Nesse momento eu percebi que o futuro que tenho à minha espera, não é nada do que eu realmente pensava. 

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