The Giants #49



Sol 



     A frescura do curativo de Vénus diminuía a cada segundo e a dor começava a ser mais intensa. Ele e Vénus estavam a caminhar por muito tempo, pelo menos era o que parecia, e a saída estava longe de ser encontrada. Sol começara a reparar que Vénus hesitava nos seus passos, suava e a sua respiração começava a fugir-lhe.
- Hey, Vénus - ela não o encarou ou respondeu. - Vénus - murmurou de novo e não recebeu resposta.
     Sol chegou mais perto dela e colocou uma mão no seu braço.
- Vi - chamou, e ela finalmente olhou-o. - Temos de descansar um pouco. Vamos parar por algum tempo. 
- Eu... - fechou os olhos e respirou fundo, muito lentamente. - Eu estou bem. 
- Pois estás. Estás mesmo muito bem. 
      Passou pelo corpo de Vénus uma tontura que não a abalou tão facilmente quanto pretendia mas Sol pegou nela na mesma. Ele deitou-a no chão arenoso apesar das suas reclamações. 
- Está calada - Sol mandou ao encostar e sentar-se junto à parede.
     Ela revirou os olhos e curvou os lábios num sorriso divertido. Sol reparou que Vénus iria dizer algo mas as palavras morreram nos seus lábios sem chance de serem ouvidas.
- Encosta a cabeça junto às minhas pernas. O chão não é confortável, principalmente se estás nesse estado. 
- Eu já disse que estou bem... - ela viu de soslaio o olhar sério de Sol. - Mas tudo bem eu deito-me. 
- Precisamos de água. 
- Tu é que és o Sol, a grande Estrela, faz tu alguma coisa. 
     Sol não evitou as gargalhadas. 
- Pensava que estavas demasiado fraca para dizer piadas - replicou ele. 
- O meu cérebro ainda funciona.
     Sol encontrou o olhar dela.
- O que foi?
     A voz dela estava cansada, fraca, rouca.
- Tenho de ir procurar água, Vénus - disse ele. 
- E onde é que pensas encontrar água neste túnel cheio de areia? 
     Vénus tinha razão. Sol suspirou, passou a mão pelo cabelo e desejou que Vénus apoiasse a sua decisão pelo menos uma vez. Ele fez um gesto para Vénus se afastar e levantou-se. Concentrou a energia que lhe restava e chamas formaram-se nos seus punhos. 
- O que pensas que estás... - Vénus não terminou a frase pois Sol começou a dar murros na parede. - Perdeste a cabeça?! Sol! Pára! - gritou ela.
     Sol nem a ouvia. A adrenalina pulsava nas suas veias em força e ele tinha de continuar. Vénus agarrou nos seus braços mas foi em vão. Sol não parava, parecia uma máquina, e estava tão determinado que não via mais nada. As rochas rapidamente deixaram de se fazerem sentir nas suas mãos. As chamas agora subiam dos seus pulsos para os braços, dando ainda mais força.
- Sol! - Vénus exclamou e Sol acordou. 
     Ele fitou-a com um sorriso e do buraco aberto na parede via-se uma paisagem belíssima de um rio e árvores de fruto. 
- Parei - afirmou com um sorriso vitorioso no rosto e mãos no ar. 
     Os dois avançaram para a paisagem perfeita que se encontrava à frente deles, prontos para saciarem a fome e a sede. Vénus soltou um sorriso rápido e deu-lhe um toque no ombro bom. Sol sorriu também.
- És doido - murmurou Vénus baixinho, mas Sol ouviu-a bem e sorriu.




Luna 



- A-oh... Isto não é bom - disse assustada. 
- Luna, estás a ouvir-me? - A avó gritou. - Usa os poderes, já! 
     Antes de poder raciocinar, um gigante aproximou-se de mim e o seu braço aumentou e atingiu-me pela barriga, atirando-me para longe. Nem tive tempo de gritar com o embate no chão. Sentia o meu corpo a encolher-se com a dor.
- Luna! - ouvi. 
- Eu estou... Eu estou bem - respirei fundo. 
     Levantei-me, pronta para fugir deste circo de gigantes mas pareceu-me que estes monstros tiveram outra ideia. Um deles colocou a sua atenção em mim e veio na minha direção. Os seus braços feitos de ramos, lianas e folhas aumentou e iriam agarrar-me, mas concentrei-me. Os seus olhos negros como ónix não me assustaram. Aliás, sentia-me animada agora.
- Ar! - chamei. 
     Abri as palmas das minhas mãos e bolas gigantes de ar formaram-se a partir delas. Estava a conseguir deter o gigante, mas não iria aguentar por muito tempo. Atirei outra bola de ar para o rosto da criatura e, felizmente, ela ficou atordoada dando hipótese de poder correr e esconder-me atrás dumas rochas caídas. Assim que consegui pôr-me a salvo, vi a avó, o meu pai e Mercúrio a lutarem contra as bestas. Mercúrio usava fogo para combatê-las e ele estava a conseguir queimar grande parte dos gigantes. Já o meu pai usava gelo para os deter. A avó esquivava-se facilmente dos ataques por ser pequenina e rápida. Atacava os monstros com Luz de modo a cegar os seus pequenos olhos. Ao observar os gigantes durante algum tempo, percebi onde estava o seu ponto fraco. 
- Vá lá, Luna - respirei fundo. - Tu consegues. Tens de conseguir - disse para mim mesma.
     A covardia estava a alastrar-se pelo meu corpo como uma doença mas obriguei-me a respirar fundo, abanar o medo para longe e por entre passos rápidos e esquivos, cheguei perto de um gigante. Mercúrio reparou em mim em primeiro lugar e empatou o monstro com fogo. Corri até à parte de trás da perna do gigante e comecei a trepar. Em relação a ela, eu era muito pequena. Olhei rapidamente para Mercúrio e ele tinha uma expressão interrogativa no rosto. Retomei a subida depois de lhe retribuir o olhar. Enquanto subia, o cheio das plantas parecia intensificar-se, entrando pelo nariz e tornando tudo denso até os meus olhos começarem a arder. Abanei essa sensação. Tinha de continuar.
Ao chegar no pescoço da besta, ela deu por mim. Soltou um berro numa voz anti-natura e tentou tirar-me de cima dele. Deixei cair-me para o peito dele e agarrei-me a uma liana que nascia do seu pescoço. 
- Tarde de mais amigo - sorri vitoriosa e com uma lâmina de água cortei a única flor que se encontrava no lugar do coração. 
     Instantaneamente, os braços do gigante cederam e caíram juntamente com o seu corpo. Antes de cair de rabo no chão com o gigante em cima de mim, saltei e Mercúrio apanhou-me.
- Bem jogado, netinha - e deu-me um sorriso divertido.
- Obrigada - sorri-lhe de volta.
     O nosso momento de divertimento acabou quando outros três gigantes ainda nos assombravam. Notava-se que a avó estava a cansar-se muito mais rapidamente que nós e por isso certifica-mo-nos que ela ficava num lugar seguro. À vez, cada um de nós matou um gigante e assim que todos caíram, os portões abriram-se e vimos uma bela paisagem de um rio e árvores de fruto. Ouvi o meu estômago roncar e fiquei com água na boca de ver tanta fruta. Olhei para Mercúrio, para a  avó e para o meu pai que estavam atrás de mim. A avó estava apoiada em Mercúrio e o meu pai olhava maravilhado para a vista para lá dos portões. Sorri. Parecia que agora tudo iria ficar bem.



Tema 



     Tema e Noir estavam a caminhar por aquele labirinto sem fim e as paredes estreitavam-se cada vez mais. As flores de fogo e os picos ficavam cada vez mais perigosos.
- Porque não voamos por cima disto tudo? 
- Queres mesmo saber? 
     A hesitação de Noir foi como uma resposta para Tema. Eles chegaram a um ponto do labirinto em que já não podiam andar lado a lado. Noir, que estava atrás de Tema, começou a tagarelar.
     Noir, por favor cala-te. 
     E de súbito, o seu desejo concretizou-se. Tema sorriu, satisfeito. Continuou o seu caminho como se nada fosse. Porém, ele achava estranho o seu parceiro estar tão calado. 
- Noir? - Tema perguntou sem o encarar e não obteve resposta.
     Tema olhou para trás e viu o seu amigo encurralado por lianas, ramos e trepadeiras. Noir não conseguia falar nem sair daquela armadilha. Tema voltou atrás para socorre-lo mas um gigante, feito dos mesmos componentes que prendiam Noir, colocou-se no seu caminho. As paredes do labirinto alargavam-se à medida que o gigante crescia. Tema praguejou.
     O monstro atacou-o com o braço e Tema esquivou-se. Tema recuou alguns passos e analisou o gigante, tentando descobrir o seu ponto fraco. No entanto, ele atacou-o antes que o pudesse deter. Tema caiu no chão de barriga para cima. Fechou os olhos para acalmar a dor e quando os abriu viu o pé do gigante em cima de si, pronto para esmagá-lo.
     Tema rolou para o lado e colocou-se de joelhos com a mão na barriga a tentar suprimir a dor. Apressou-se a levantar e recuou longos passos. Tema encarou o monstro e correu com as palmas das mãos abertas, em direção à criatura, com gelo a saírem delas. O gelo atingiu o gigante no rosto e ele desorientou-se. Tema trepou o monstro acima e cortou-lhe a cabeça com uma lâmina, prateada e fina, e arrancou-lhe a flor que o dava vida. Tema saltou do monstro antes que caísse com ele e passou o dedo pelo fino corte que tinha feito no lábio, limpando o risco de sangue. Sorriu para Noir quando as lianas cederam e libertaram-no. Tema avançou até ele e estendeu-lhe a mão.
- Quase apostava na vitória do gigante.
- Duvidas das minhas capacidades, Senhor Capturado por Ervinhas?
      Noir baixou a cabeça, riu-se e fitou-o.
- Em minha defesa, as ervinhas tinham picos.
     Eles riram-se e caminharam em frente. Depararam-se com um beco e os arbustos abriram-se a meio. Uma onda de Luz engoliu Tema e Noir e ambos foram levados para longe. 

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