The Garden #35



Luna 



- Sol, isto é lindo! - exclamei sem fôlego algum. 
- Ainda bem que gostas porque vamos passar aqui o dia. 
- Podíamos passar é a vida toda! 
- Depois da confusão passar, quem sabe?
     Sol agarrou-me pela cintura e deu-me um beijo na bochecha. 
- Se a confusão passar, não é? 
- Não penses dessa forma. 
- Não posso evitar, Sol. 
- Evita por hoje, pode ser? 
     Assenti. Sol colocou a mão livre no meu rosto e deu-me um beijo na testa. 
- Vá, vamos encontrar um lugar parar irmos almoçar. 
- Estou esfomeada! 
     A cada passo que dava, o local onde estávamos surpreendia-me mais. Um gigantesco jardim com árvores de copas enormes, flores de todas as cores, e arbustos tão verdes e saudáveis. O ar que este lugar emanava fazia-me sentir calma e até poderosa. Sentia-me completamente sã e serena. Os raios de Sol passavam por entre as ramagens das árvores formando sombras deslumbrantes e acolhedoras. Este lugar para além de emanar paz e calma, emanava também poder. 
- Que lugar é este, Sol? 
- Já sentiste, não já, o poder?
     Assenti.
- Bem, este é o jardim onde Terra pratica, praticava, não sei bem, magia. 
- Terra? Terra, Planeta, forma humana, essa Terra? 
- Sim, Luna, essa Terra - soltou um sorriso. 
- E nós podemos entrar nele, assim do nada? 
- Desde que, antes de entrarmos, prometa-mos que não iremos fazer mal ao local. Isto é praticamente um lugar sagrado. 
- Uau.
     Fiquei sem palavras.  
- Anda, temos de andar mais um pouquinho. 
     Sol e eu caminhámos mais para a frente e deparámos-nos com um lago azul esverdeado. A Luz e o Ar combinavam-se numa harmonia perfeita e eu não podia estar mais deslumbrada. 
- Vamos ficar aqui, não é? 
- Vamos andar um pouco mais até encontrarmos umas mesas. 
- Já vieste aqui muitas vezes? - Fiz uma pausa e acrescentei - Com outras mulheres? 
     Sol olhou-me divertido, como se a pergunta fosse uma piada. Porém, respondeu-me com um tom sério. 
- Já vim aqui várias vezes, sim. Mas é a primeira que venho acompanhado, Luna. 
      Franzi o sobreolho. Sol riu-se. 
- Estás a rir do quê? 
- De ti, tonta. Achas mesmo que iria trazer qualquer mulher para este sítio? 
- Não... Mas...
- Nem mas, nem meio mas. 
     Fiz questão de largar o assunto nesse momento, revirei os olhos e sorri - Podemos ir comer? 
- Estamos quase lá. 
     Continuámos a caminhar e fomos para o lado direito do lago, onde encontrámos as tais mesas para pousar a nossa mala cheia de comida e roupa. Presumi que depois de comermos fossemos nadar. Não consegui evitar estar um pouco receosa e nervosa. Não sou a melhor nadadora do mundo. E se me afogasse? Só o pensamento deixava-me agitada. 
- Passa-se algo? 
- Não, nada. Só tenho fome - menti. 
- Deixa de te preocupar. Eu estou aqui - tocou-me no ombro. 
- Eu sei - movi-me consoante o seu toque - obrigada. 
- Se quiseres podes ir dar uma volta enquanto preparo o almoço. 
- Está bem.  
     Fiz o que ele sugeriu e fui andar pelo lago. Apesar do medo que sentia em entrar nele, não podia negar que era magnífico. Cresciam flores por toda a parte, o que tornava o local colorido e perfumado. Existiam árvores altíssimas e no lado onde estávamos, elas cercavam-nos. Os raios brilhavam intensamente. Consegui aperceber-me de que no jardim existiam vários pássaros e alguns esquilos. Se calhar devia ter trazido o Percy. Estar fechado em casa o tempo todo deve ser aborrecido, mas também, ele está com o meu pai. E a pensar bem no assunto, ele é ainda muito pequeno. 
     Por falar nele... será que o pai e a mãe já cá vieram? Isto parece ser o Resort Para Casais e não um local sagrado para praticar magia da Terra. 
     Terra... Será que ela aparecerá por cá? Será que a irei ver? 
     Bem, se a visse aposto que ela me iria dizer para derrotar o Tema, porque se não, estamos todos em apuros. Mais ainda.
     Tenho mesmo de esquecer o Tema e o caos que ele trouxe por algum tempo.
     Uma parte de mim tinha medo pela Vénus. Como será amar algo que pode não ter potencial algum para o bem? Tudo o que é bom tem algo mau dentro de si e vice-versa. Mas será que ela consegue chegar ao lado bom dele? Será que ele se vai deixar ir pelo que sente por ela? Que a Lua queira que sim porque se não estamos todos tramados. 
- Luna, o almoço está pronto! 
- Vou já! 
     Obriguei-me a esquecer Tema e o caos por este dia. Sol, depois de ter preparado isto tudo, não merecia que a minha cabeça estivesse cheia de preocupação. Neste dia, era só eu e ele.  





- Pronta para ir para a água? - perguntou Sol enquanto tapava a luz solar que bronzeava o meu corpo. 
- Hum - mordi o lábio - tem mesmo de ser? 
- Tem pois. 
     Estiquei-lhe a mão e ele agarrou-a, levantando-me e puxando-me para si.  
- Não te preocupes, eu não te deixo ir. -
     Sorri, pouco convencida e nervosa.
- Vai correr tudo bem, anda lá.  
- Sabes que ficas super jeitoso nesses calções? 
- Eu fico jeitoso de todas as maneiras - respondeu-me ao entrelaçar os seus dedos nos meus. 
     Mais obrigada do que por vontade própria, caminhei para água fria junto com Sol. Arrepiei-me. A água estava gelada e a cada passo que dava, mais medo tinha. Sol largou a minha mão e avançou mais no lago.
- Sol, onde vais? 
- Continua, Luna. Até onde estou, consegues sentir o chão. 
- Mas Sol...
- Continua. Anda lá. 
     Fiz o que ele dizia e continuei. Tinha a sensação de que Sol, a cada passo que dava, se afastava mais, mas a verdade era que, aos poucos, ia perdendo o medo e não me importava de ter a água a envolver-me. 
     A água já estava até ao meu peito e o facto de poder ir até ao meu pescoço aterrorizava-me. 
- Se não quiseres ir mais longe, ficamos aqui. 
- Sim, por favor.
    Sorri-lhe ainda nervosa. 
- Mas com uma condição. 
- Então? 
     Sol olhou para mim com ar de malandro e percebi logo que ele iria molhar-me toda. 
     Ele começou a aproximar-se de mim e a atirar água. Comecei a fugir a rir-me.
- Sol, não!  
- Sabes que não me consegues escapar. 
- Tentar não custa, sabes? 
     Sol perseguiu-me até eu não ter mais força para correr. Agarrou-me pela cintura e levantou-me, tirando os pés da água. Começámos a atirar água um para o outro até estarmos totalmente encharcados. 
     Quando me preparei para dar o meu último ataque antes de me render, a água ganhou vida. Ao mexer os braços, grossos fios de água voaram em direção a Sol, atacando-o realmente. 
- Oh não... Sol, estás bem?
     Aproximei-me dele e tentei ver como ele estava.
     Sol colocou a mão na cabeça e levantou-a.
- Hum, acho que sim... Como fizeste isso, Luna? 
- Não sei. 
- Sabes o que isso significa, certo? 
- O quê? 
- Que tens afinidade com a Água.  
Não consegui evitar a minha expressão de choque. Eu tenho afinidade com os três elementos da Lua? Como é que isso é possível? Ar, Luz e agora Água... Como? 
- Isto é... 
- Isto é fantástico, Luna!
     Sol abraçou-me, com um sorriso gigantesco nos seus doces lábios. Retribui-lhe o abraço, com um sorriso incrédulo no rosto, e na minha mente agradeci à Lua por me ter dado outra maneira de ajudar o meu Tal e o Universo. 

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