Leva-me Contigo - VIII


O meu telemóvel não parava de tocar, e eu só pensava "porque raio coloquei aquele toque?" e "despacha-te Margarida". Finalmente, quando pude atender, a Mia soltou cada fúria contida em si pelos gritos que soltou para mim. 

- ESTÁS MAIS QUE ATRASADA OK! ESTÁS A OUVIR-ME?! EU ESPERO QUE SIM! - gritou Mia.
- Ai ai ai, desculpa... - tentei dizer, meio atrapalhada.
- Unf Mar, que demora ya! O que andaste a fazer? Ah não espera, deixa-me adivinhar. 
- Martim - dissemos em uníssono.  
- Pois, já era de adivinhar. Enfim, vamos mas é aproveitar a nossa tarde - disse ela, estendendo a mão para mim.

Como era de prever, o meu estômago começou a dar sinais de vida e berrou o mais alto que pode. 

- Eh lá Mar, que foi isso? - disse Mia a gozar comigo.
- Que piada, tenho fome. Vamos comer? 
- Que tens fome já eu percebi, sim vamos. 
- Eheh que bom. 
- Ahaha, já tinhas saudades disto - confessou. 
- Oh, eu também tonta - disse eu.  

Depois de almoçar, fomos às compras e eu gastei menos do que pensava. Não havia muita coisa gira nas lojas, até a Mia, que passa a vida em comprar e compra praticamente tudo o que vê, não gastou muito. Isso significa uma coisa: mais compras para o mês que vem, e o mês está a acabar! Ehehe. Fomos para um parque ali perto e conversámos. 

- Chegou aquela altura da tarde em que o assunto é rapazes. Podes começar a falar miga - disse eu a Mia. 
- Oh, há um rapaz....
- Há sempre um rapaz! Conta-me - interrompendo-a. 
- Ele chama-se Lourenço. 
- Oh god estás a gozar comigo? A minha tia chama-se Mia e é casada com o tio Lourenço, oh god, que destino ok? 
- Tens a noção que estás sempre a dizer que eu ainda ia encontrar um rapaz chamado Lourenço e ser como os teus tios? Tens de arranjar frases melhores Mar. 
- Desculpa, mas era o momento perfeito para dizê-la outra vez.
- É. Pronto, continuando. Ele tem namorada. 
- What? 
- Ah pois, e ela é bem bonita. 
- Oh cala-te, já te viste ao espelho? És a morena mais gira de todas ok. 
- Tu sim é que és, tens uns olhos azuis lindos, e um sorriso lindo. E eu? Puf. 
- Cala-te, só dizes disparates. És linda, tens olhos cinzentos azulados, tens o cabelo ondulado castanho, tens um sorriso perfeito, és linda ok? - disse-lhe com toda a sinceridade que ela precisava.
- Mesmo assim...Sei lá, com ele é diferente. 
- É sempre miga. Não vais ser é uma bitch e acabar com o namoro deles, porque ele há-de acabar com ela, acredita.
- Quando? No dia de São Nunca à tarde é?
- Tens que acreditar que vai, ou é isso, ou esquece-o. 
- Pois...Tem de ser.
- Vais ver que tudo vai correr bem. 
- Então, conta coisas sobre tu e o Martim. 
- Vão ótimas como sempre. Gosto mesmo dele sabes, é tudo tão bom com ele, um conto de fadas tornado realidade.
- Tem cuidado se não acaba em tragédia. 
- Porque é que és sempre má para ele? 
- Não sou má, estou a avisar-te apenas. 
- Se ele não gostasse de mim, não me aturava por tanto tempo não achas? 
- É capaz, mas nunca se sabe - disse ela. 

Tive que voltar para casa no final da tarde, os tios, quase todos os tios, iam lá jantar. Despedi-me da Mia, e entrei em casa. Ao abrir a porta senti a palma de alguém a bater na minha cara, doeu imenso. Soltei um berro do tamanho do mundo. 

- AHAAHAHAH 
- Claro, só podia. 
- Então, estás boa ? - disse o meu tio Lourenço. 
- És horrível. Ainda me pergunto como a mãe aturou-te tanto tempo, ou melhor, a tia. 
- É o charme - fingindo um ar sedutor de galã. 
- Não sei qual - disse. 

Cumprimentei o tio Diogo, irmão da mãe, e a tia Nádia. Fui ter com a minha mãe as tias na cozinha, ajudei-as a cozinhar umas coisinhas e a minha mãe foi para a sala ter com o meu pai,assim como a tia Nádia, até que fiquei a conversar com a tia Mia. God, tanta tia e tio. 

- Tia, conta-me a tua história com o tio Lourenço. 
- Para quê? Já não a ouviste 100 vezes? 
- Oh sim, mas quero ouvi-la outra vez. 
- Então, conheci-o quando andava no 12º ano, ele era novo na escola e bonito. - Ele é mesmo bonito - Então, comecei a falar com ele, descobri que ele não era só brincalhão como demonstra ser, mas sim também um querido, simpático, romântico e tudo aquilo que não tinha encontrado naqueles anos todos. 
- Amo ouvir a vossa história. Continua tia. 
- Então, eu gostava dele, como toda a gente tinha reparado menos ele. Ele nunca mais decidia pedir-me em namoro e estava achar que havia algo de errado comigo. Mas na passagem do ano novo de 2011 para 2012, ele pediu-me em namoro e eu obviamente aceitei, o meu ano não podia ter começado melhor. Desde então que namoramos, até que ele pediu-me em casamento quando tínhamos 22, então estamos 20 anos casados. E, como sabes, o Filipe viaja demais para os 17 anos dele. 
- Pois é, gosto imenso de vê-lo, ele sai mesmo ao tio, é pena não estar tanto connosco- a minha tia Mia riu-se e a tia Nádia entrou. 
- Acho que vou ter com o Lourenço, avisa-me quando o relógio fazer o som para tirar as coisa do forno está bem? 
- Sim Tia. - ela saiu da cozinha e estava curiosa para ouvir mais histórias - Tia, conta-me a sua história com o tio. 
- Já vi que hoje andas muito curiosa - sorriu-me. 
- Conta! 
- Pronto, eu estava num café, em Sintra. Ele estava com um grupo de amigos, estavam a passar o fim de semana lá, e ele diz que quando me viu foi amor há primeira vista, mas tenho as minhas dúvidas, ahah. Então, ele meteu conversa comigo, não lhe dei muita trela, mas ele sempre conseguia encontrar-me. No último dia que eles ficaram em Sintra eu dei-lhe o meu numero, ele tinha passado o fim de semana todo atrás de mim e a tentar impressionar-me e eu pensei "porque não?" então, dei-lhe o numero, e falámos por telemóvel durante dias. Passado uma semana fui a Cascais, não lhe contei nada, não tínhamos combinado nada, mesmo sabendo que ele morava lá, não me ocorreu que ele se cruzasse comigo e não foi que ele se cruzou? 
- JURA? - disse eu, muito surpreendida. 
- Juro, fomos conversar, passamos a tarde juntos e diria que foi perfeita. Continuámos a conversar por telemóvel e sempre que podíamos íamos ter um com o outro. Nessa altura tínhamos 20 anos, se não me engano.
- Mas vocês separam-se não foi? O tio disse-me que houve tempos menos fáceis entre vocês. 
- Sim, começámos a namorar mas discutíamos demasiado, e decidimos terminar. Não gosto de complicações e quando algo não está certo há que por um fim. 
-Puff, e depois chegas-te a namorar mais alguém? 
- Cheguei, mas havia algo de especial com o teu tio, e nunca foi a mesma coisa. Mas o destino fez com que nos juntássemos outra vez e BOOM, cá estamos, 14 anos juntos. 
- Oh quem me dera ter uma história como a vossa, ou como a dos meus pais, ou até como a da Tia Mia e do Tio Lourenço, tiveram tanta sorte.
-Vais ver que o teu final feliz vai chegar, mas até lá, o teu coraçãozinho vai apanhar muitos sapos pelo caminho. Eu especialmente nunca fui muito sortuda no amor, foi uma sorte encontrar alguém como o Diogo. 
-É, ele é muito porreiro - sorri. 
-Pois é...Mar, que horas são? Tenho de ir buscar os gémeos à natação. 
-São sete e meia. 
- Ups, já estou atrasada, beijinhos, diz à tua mãe que já venho. 
- Esta bem, beijinhos. 


Será que eu e o Martim vamos conseguir aguentar tanto tempo como eles? Quero acreditar que sim, mas algo me faz duvidar disso constantemente.

- Pai, quando é que foi criado o Facebook? - perguntei.
- Não sei, mas já é um site velhinho sabes. 
- Sim, ninguém o usa, só eu que ainda vou lá ver o que vocês falavam há biliões de anos atrás. 
-Ainda existe? Será que está lá o meu perfil? Oh Mar mostra-nos. - disse a minha mãe empolgada.
- Oh mãe....
-Que foi? Mostra vá. 
-Mostra lá Mar - insistiu o meu pai -, a tua mãe tem com cada foto. 
-Olha que tu também não tens moral. 
-Pelo menos não sou eu que tem fotos a fazer duck face! AHAH - disse o meu pai, a rir-se. 
-Foste gozada Iara, já não dá. - disse o meu tio Diogo. 
-Calem-se, pelo menos não é ela que tem fotos de tronco nu a dizer 'swag' - disse Mia. 
-Puff foram rapazes - disse a minha mãe.
-Vocês são uns cromos está bem? está bem - disse eu. 
-Vou ver do jantar! - disse a minha mãe, toda furiosa da vida. 
-Vai lá amor - disse o meu pai. 
-Agora já é amor não é? 
-Parece que alguém vai dormir no sofá...- disse o meu irmão. 

Para mudar de assunto perguntei sobre a tia Vanessa e o tio Afonso. Maior parte dos meus tios não são tios, são amigos dos meus pais, mas são família para mim. 

- Eles não puderam vir, estão no Porto a fazer sabe-se lá o quê - disse o meu pai. 
- Hum, está bem.

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