Underneath #1
O Troy começou a correr na esperança de conseguir ir a tempo da primeira ronda do campeonato de Surf de Crystal Waters. A adrenalina começou rapidamente a pulsar nas suas veias. A energia contagiante só o fazia correr mais depressa. Ele ia conseguir, finalmente, mostrar o surfista que é. Com tanto entusiasmo, Troy nem conseguiu ver com quem colidiu e caiu. Primeiro, preocupou-se com a sua prancha, e depois com a pessoa com quem chocou.
- Vê por onde andas - disse o rapaz.
- O que...? - Troy encarou o rapaz. Os seus olhos não acreditavam no que viam. Porém, aquele tom de azul dos seus olhos não enganavam, ou aquele sorriso. - Ryan? Ryan Bennett?
- Estava a perguntar-me quanto mais tempo irias demorar a perceber. Francamente, andas a ficar mais burro ou é só impressão minha? - Ryan sorriu a estender-lhe a mão.
Troy levantou-se e abraçou-o, ignorando por completo a mão dele.
- O que fazes aqui? Desapareceste da face da Terra. Já lá vão...
- O que fazes aqui? Desapareceste da face da Terra. Já lá vão...
- Seis anos, penso eu - completou ele.
- Tu desapareceste, Ryan - Troy afastou-se, mostrando a sua dor no rosto.
- Eu sei, e desculpa. Mas agora estou de volta. De vez.
- O que te aconteceu?
- Bem, longa história - o sorriso dele rapidamente desvaneceu-se.
- Podes contar-me essa história toda depois de vencer o campeonato, combinado?
- Não me lembro de seres tu a fazer os acordos.
- Muito aconteceu desde que desapareceste, Bennett - Ryan riu-se. - Vá, vamos. Tenho um campeonato para ganhar - os dois começaram a correr para a praia.
Ryan e Troy chegaram à praia a tempo. Troy vestiu o fato de surf, ainda um pouco molhado, e colocou cera na sua prancha. Faltavam dois minutos para o toque. Ele não reconheceu nem metade dos participantes e por isso conseguiu acalmar-se um pouco. Só tinha de se preocupar em dar o seu melhor e talvez, se conseguisse ganhar, poderia mostrar ao seu pai que surfar não é algo que tenha de se preocupar. Iria resolver tudo. Ficaria tudo bem.
Ryan e Troy chegaram à praia a tempo. Troy vestiu o fato de surf, ainda um pouco molhado, e colocou cera na sua prancha. Faltavam dois minutos para o toque. Ele não reconheceu nem metade dos participantes e por isso conseguiu acalmar-se um pouco. Só tinha de se preocupar em dar o seu melhor e talvez, se conseguisse ganhar, poderia mostrar ao seu pai que surfar não é algo que tenha de se preocupar. Iria resolver tudo. Ficaria tudo bem.
Troy lançou uma última olhadela a Ryan, ainda em choque em vê-lo ao seu lado de novo, e o toque soou: uma buzina altíssima, inconfundível. Troy correu para o mar e deitou-se na prancha, remando para longe da costa. A brisa refrescante acariciava o seu rosto. Atrás de si, as pessoas gritavam pelo nome do seu favorito e assobiavam. Troy conseguiu ouvir o assobio de Ryan entre todos aqueles gritos. Apesar de todos aqueles anos separados, foi como nunca tivesse realmente desaparecido mesmo que Ryan estivesse sempre consigo na água, em todos os campeonatos que conseguiam ir.
As ondas estavam ótimas. Ele só teria de apanhar uma boa onda e ganhava pontuação suficiente para a final. Olhou atentamente para o mar e estudou-o. Alguns surfistas já estavam a apanhar ondas mas eram muito fracas, ao ver dele. Até que surgiu uma perfeita. A Tal. Troy remou até ela, olhou em redor e, felizmente, nenhum outro surfista estava a querer roubá-la. Troy mergulhou com a prancha, levantou-se e entrou na onda. Assim que ela estava pronta, Troy fez um bottom turn, subiu para o cimo da onda e fez um carve acentuado. Em seguida, colocou-se no tubo da onda, e, completamente cego pela vontade de ganhar, Troy decidiu fazer um aerial- girar depois de ir para cima da onda. Apesar de ter treinado vezes sem conta, ele não estava preparado para fazer o tipo de aerial que queria. A aterragem desta manobra é complicada e inevitavelmente, Troy caiu da prancha. A crista da onda embateu em cima do seu corpo fazendo-o perder o controlo e a consciência, afogando-o. Troy ficou inconsciente por minutos, porém, algo na sua mente acordou. Memórias despertaram. Memórias que não eram completamente dele. Enquanto o seu corpo caía na escuridão do mar, a sua mente submergia para a luz. Uma mulher, de longos cabelos lisos de um ruivo flamejante apareceu. Os seus olhos vermelhos como o sangue que deveriam assustá-lo, encantavam-no. Troy estava mesmo à frente dela com a sensação de que a conhecia tão bem quanto a si próprio, mas também sabia que nunca a tinha visto antes. A luz branca vindo por detrás dela obrigava-o a manter um olho fechado.
- Quem és tu? - murmurou.
Troy julgou estar morto.
- Tema - ela chamou.
A sua voz era doce, melodiosa e familiar.
- Não te esqueças... - disse enquanto ia sendo puxada para a luz. A tal mulher estava lentamente a desaparecer na luz branca.
- Não! Espera... - ele estendeu o braço na esperança de agarrar-lhe a mão mas não conseguiu.
- Não te esqueças... Não te esqueças de mim. Procura-me.
Troy acordara. Ofegante, começou a tossir a água salgada que engolira. Estava desorientado e nervoso. Várias pessoas se encontravam à volta dele.
- Ele está bem - ouviu Ryan afirmar. - Ainda não é hoje, amigo.
- O que aconteceu? Tive uma boa pontuação? O que se passa?
- Só podes estar a gozar comigo, Evans - Ryan deu-lhe uma mão. Troy levantou-se. Ainda estava atordoado. - Tiveste sorte em sair dali vivo.
Troy lançou-lhe um olhar.
- Tiveste um quatro e meio. E só não tiveste menos porque o teu aerial foi mesmo muito bom apesar da aterragem.
- Talvez se entrar na segunda ronda...
- Seis anos, Evans. Seis anos e ainda continuas um idiota - Ryan colocou o braço de Troy nos seus ombros.
- O que estás a fazer?
- Ainda não reparaste no corte enorme que tens na perna? Como esperas conseguir andar sem a minha ajuda?
Troy olhou para a costas da perna ensanguentada.
- Boa, mesmo a calhar, um corte na perna. - A dor começou a alastrar-se, especialmente com aquela água salgada no corpo. - Sem prémio ou boa pontuação e agora um corte na perna... tudo o que eu preciso.
- Pois, já calculava.
Troy começou a sentir grandes dores da perna. A caminho do bar dos seus pais, ele só conseguia encarar o chão. Porém, por meros segundos, ele subiu o olhar e teve a imediata sensação de que estava a olhar para a mulher do seu sonho. No entanto, os seus olhos enganaram-no bem porque a rapariga não tinha nenhuma semelhança com ela, mas os seus olhos... Os seus olhos transmitiam-lhe a mesma sensação de familiaridade, conforto. Desatento, Troy pisou em alguma pedra e por esse fragmento de segundos, a rapariga desapareceu.
- Está tudo bem?
- Hum, sim - respondeu, enquanto abanava a imagem da mulher da sua cabeça - Sim, podemos continuar.
Ele estava tão convencido que quando chegasse ao bar iria ficar de castigo até aos 30 anos de idade que quando a sua mãe praticamente não lhe ligou nenhuma foi um choque. Charlotte estava tão entretida a falar com o Ryan que nem se lembrou de dar um sermão ao Troy. Porém, mais tarde naquela noite, ele realmente levou o sermão da sua vida.
- Então Ryan, como estão os teus pais?
- Bem. Eles decidiram ficar a matar saudades da casa e a desfazer as malas.
- Diz aos teus pais que eles são bem vindos para jantar, quando quiserem, em nossa casa. Que tal este fim de semana? Temos tanto para falar.
- Obrigado - agradeceu. - Irei falar com eles assim que chegar.
- Nós sentimos muitas saudades vossas. Ele sente muitas saudades tuas - Troy encarou a sua mãe em descrença. O que lhe passou pela cabeça para dizer tal coisa? - Sabias que ele faz corridas de bicicleta pela tua casa todos os sábados? É que já nem é outra coisa sem ser hábito agora.
- Mãe, a sério, para - Troy murmurou entre dentes.
- Não, continue, estou a gostar - o rosto de divertimento do Ryan estava a irritá-lo completamente.
- Ele também usa aquela pulse-
- Mãe, já chega. Ryan, queres ir comer?
- Oh sim, acabei de fazer aqueles hambúrgueres que tu adoravas tanto - comentou Charlotte.
- Ainda adoro, tenho tantas saudades da sua comida - admitiu Ryan.
Troy sorriu a ver a sua mãe e o seu melhor amigo a falarem como nos velhos tempos. Ele impressiona-se sempre com a lábia do Ryan, sabe sempre o que dizer para agradar. Parece que nada mudou nele nestes seis anos. Mas nem tudo o que parece, é.
As ondas estavam ótimas. Ele só teria de apanhar uma boa onda e ganhava pontuação suficiente para a final. Olhou atentamente para o mar e estudou-o. Alguns surfistas já estavam a apanhar ondas mas eram muito fracas, ao ver dele. Até que surgiu uma perfeita. A Tal. Troy remou até ela, olhou em redor e, felizmente, nenhum outro surfista estava a querer roubá-la. Troy mergulhou com a prancha, levantou-se e entrou na onda. Assim que ela estava pronta, Troy fez um bottom turn, subiu para o cimo da onda e fez um carve acentuado. Em seguida, colocou-se no tubo da onda, e, completamente cego pela vontade de ganhar, Troy decidiu fazer um aerial- girar depois de ir para cima da onda. Apesar de ter treinado vezes sem conta, ele não estava preparado para fazer o tipo de aerial que queria. A aterragem desta manobra é complicada e inevitavelmente, Troy caiu da prancha. A crista da onda embateu em cima do seu corpo fazendo-o perder o controlo e a consciência, afogando-o. Troy ficou inconsciente por minutos, porém, algo na sua mente acordou. Memórias despertaram. Memórias que não eram completamente dele. Enquanto o seu corpo caía na escuridão do mar, a sua mente submergia para a luz. Uma mulher, de longos cabelos lisos de um ruivo flamejante apareceu. Os seus olhos vermelhos como o sangue que deveriam assustá-lo, encantavam-no. Troy estava mesmo à frente dela com a sensação de que a conhecia tão bem quanto a si próprio, mas também sabia que nunca a tinha visto antes. A luz branca vindo por detrás dela obrigava-o a manter um olho fechado.
- Quem és tu? - murmurou.
Troy julgou estar morto.
- Tema - ela chamou.
A sua voz era doce, melodiosa e familiar.
- Não te esqueças... - disse enquanto ia sendo puxada para a luz. A tal mulher estava lentamente a desaparecer na luz branca.
- Não! Espera... - ele estendeu o braço na esperança de agarrar-lhe a mão mas não conseguiu.
- Não te esqueças... Não te esqueças de mim. Procura-me.
Troy acordara. Ofegante, começou a tossir a água salgada que engolira. Estava desorientado e nervoso. Várias pessoas se encontravam à volta dele.
- Ele está bem - ouviu Ryan afirmar. - Ainda não é hoje, amigo.
- O que aconteceu? Tive uma boa pontuação? O que se passa?
- Só podes estar a gozar comigo, Evans - Ryan deu-lhe uma mão. Troy levantou-se. Ainda estava atordoado. - Tiveste sorte em sair dali vivo.
Troy lançou-lhe um olhar.
- Tiveste um quatro e meio. E só não tiveste menos porque o teu aerial foi mesmo muito bom apesar da aterragem.
- Talvez se entrar na segunda ronda...
- Seis anos, Evans. Seis anos e ainda continuas um idiota - Ryan colocou o braço de Troy nos seus ombros.
- O que estás a fazer?
- Ainda não reparaste no corte enorme que tens na perna? Como esperas conseguir andar sem a minha ajuda?
Troy olhou para a costas da perna ensanguentada.
- Boa, mesmo a calhar, um corte na perna. - A dor começou a alastrar-se, especialmente com aquela água salgada no corpo. - Sem prémio ou boa pontuação e agora um corte na perna... tudo o que eu preciso.
- Pois, já calculava.
Troy começou a sentir grandes dores da perna. A caminho do bar dos seus pais, ele só conseguia encarar o chão. Porém, por meros segundos, ele subiu o olhar e teve a imediata sensação de que estava a olhar para a mulher do seu sonho. No entanto, os seus olhos enganaram-no bem porque a rapariga não tinha nenhuma semelhança com ela, mas os seus olhos... Os seus olhos transmitiam-lhe a mesma sensação de familiaridade, conforto. Desatento, Troy pisou em alguma pedra e por esse fragmento de segundos, a rapariga desapareceu.
- Está tudo bem?
- Hum, sim - respondeu, enquanto abanava a imagem da mulher da sua cabeça - Sim, podemos continuar.
Ele estava tão convencido que quando chegasse ao bar iria ficar de castigo até aos 30 anos de idade que quando a sua mãe praticamente não lhe ligou nenhuma foi um choque. Charlotte estava tão entretida a falar com o Ryan que nem se lembrou de dar um sermão ao Troy. Porém, mais tarde naquela noite, ele realmente levou o sermão da sua vida.
- Então Ryan, como estão os teus pais?
- Bem. Eles decidiram ficar a matar saudades da casa e a desfazer as malas.
- Diz aos teus pais que eles são bem vindos para jantar, quando quiserem, em nossa casa. Que tal este fim de semana? Temos tanto para falar.
- Obrigado - agradeceu. - Irei falar com eles assim que chegar.
- Nós sentimos muitas saudades vossas. Ele sente muitas saudades tuas - Troy encarou a sua mãe em descrença. O que lhe passou pela cabeça para dizer tal coisa? - Sabias que ele faz corridas de bicicleta pela tua casa todos os sábados? É que já nem é outra coisa sem ser hábito agora.
- Mãe, a sério, para - Troy murmurou entre dentes.
- Não, continue, estou a gostar - o rosto de divertimento do Ryan estava a irritá-lo completamente.
- Ele também usa aquela pulse-
- Mãe, já chega. Ryan, queres ir comer?
- Oh sim, acabei de fazer aqueles hambúrgueres que tu adoravas tanto - comentou Charlotte.
- Ainda adoro, tenho tantas saudades da sua comida - admitiu Ryan.
Troy sorriu a ver a sua mãe e o seu melhor amigo a falarem como nos velhos tempos. Ele impressiona-se sempre com a lábia do Ryan, sabe sempre o que dizer para agradar. Parece que nada mudou nele nestes seis anos. Mas nem tudo o que parece, é.
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