Underneath: Short Story #4
Ryan estava a dizer adeus à mãe quando ouviu o sinal de outra chamada na linha. Desviou rapidamente o telemóvel do ouvido e viu a fotografia de Melody a fazer uma careta no ecrã ao lado da imagem da mãe. Ele despediu-se com beijinhos e prometeu ligar no dia seguinte. Atendeu por fim a chamada de Melody.
- Olá, estamos quase a sair de casa. Precisam que levemos jantar ou assim?
- Não, bastam as bolachas, obrigado.
- Está bem. Até já - e desligou.
Nem um minuto passou e Melody e Violet apareceram na sala com um saco grande.
- Boa noite - disseram elas.
- Olá - disse Ryan que sorriu e colocou o telemóvel no bolso das calças do pijama.
- Jantaram bem? - perguntou Violet, dando uma olhadela ao apartamento.
- Sim. Ficaram com muito trabalho depois de sairmos?
- Um pouco. Mas os vossos pais e os Planetas ajudaram e despachou-se tudo num instante - respondeu Violet.
- Ainda bem.
- Um pouco. Mas os vossos pais e os Planetas ajudaram e despachou-se tudo num instante - respondeu Violet.
- Ainda bem.
- Isto aqui é mais confortável do que pensava - comentou Melody, observando o sofá cinzento repleto de almofadas, o tapete fofo por baixo dele, o balcão da cozinha decorado com uma pequena planta num vaso branco. - Onde está o Troy?
- No quarto - Ryan suspirou. - Acho que adormeceu.
- Está a dormir no chão? - perguntou Violet.
- Não - ele abanou a cabeça. - Passado quase uma hora de chegarmos, vieram montar-nos o beliche. Pousa ali o saco, Vi - Ryan indicou-lhe o balcão e conduziu-as ao quarto deles por um curto corredor que no seu final tinha uma janela altíssima e uma planta alta num dos cantos da parede.
- Está a dormir no chão? - perguntou Violet.
- Não - ele abanou a cabeça. - Passado quase uma hora de chegarmos, vieram montar-nos o beliche. Pousa ali o saco, Vi - Ryan indicou-lhe o balcão e conduziu-as ao quarto deles por um curto corredor que no seu final tinha uma janela altíssima e uma planta alta num dos cantos da parede.
Nas paredes já haviam algumas fotografias mas muitas das molduras estavam vazias. Toda a casa cheirava a nova e a perfume, claramente desprovida de adolescentes e a sua confusão. Havia caixas aqui e acolá, fossem elas com roupa, bandas desenhadas ou decoração. Ambas julgaram que tudo estaria arrumado mas ao notarem os olhos cansados de Ryan perceberam que isso era assunto para o dia seguinte. O apartamento em geral era pequeno e o suficiente para os dois: um quarto, uma sala e cozinha conjunta, uma casa de banho e um armário de arrumações. O que ambas gostaram nele foram as janelas que deixavam entrar muita luz.
Ao entrarem no quarto, em frente à casa de banho, de paredes num tom azul-acinzentado, viram que este estava imaculado. As duas secretárias, uma virada para a janela alta e larga, outra para a parede, continham o computador portátil de cada um, os seus livros para a faculdade, vários suportes de canetas, alguns dicionários (os de Troy estavam num estado muito pobre) e algumas fotografias. Entre elas estavam uma estante estreita preenchida apenas na última prateleira. Na parede oposta à da janela estava um armário branco grande de madeira. Era visível o toque das mães Evans e Bennett naquele apartamento. Pelo quarto havia caixas com roupa t, roupa r e sapatos escritos.
As gémeas descalçaram-se e colocaram os sapatos no pequeno espaço entre o caixote do lixo e a porta e deleitaram-se no tapete macio. Violet aproximou-se da cama de baixo do beliche onde Troy dormia profundamente com a mão no peito. Primeiro, passou a mão no rosto dele, em seguida, apertou-lhe o nariz suavemente, apenas para o despertar, e viu os olhos azuis esverdeados de Troy brilharem com a luz. Ele piscou os olhos várias vezes para se habituar à luminosidade e depois sorriu ao vê-la.
- Já vieram... - murmurou e passou a palma da mão pelo olho, massajando-o. - Que horas são?
- Demasiado cedo para estares a dormir, Evans - queixou-se Ryan que se sentou na cadeira da sua secretária. Porém, Ryan não parecia estar qualificado para dizer tal coisa.
- Eu disse que não tinha pregado olho ontem à noite - justificou. - Bem, mas já acordei. Vamos lá comer as tais bolachas.
- Estou à espera de prová-las desde que soube que iam ser feitas! - comentou Ryan com um bocejo.
- Prometemos que são as melhores bolachas - assegurou Melody, já a levantar-se em busca do saco na cozinha.
Ao ver que a irmã estava mais entretida a falar com o namorado, ela lançou um olhar pedinte a Ryan que se levantou da cadeira, preguiçosamente, e caminhou atrás dela. Ele queria tanto dormir quanto Troy e estar com os olhos abertos era um sacrifício que ele continuava.
- Queres algum sumo, Mel? - perguntou ele abrindo o frigorífico abastecido de tudo e mais alguma coisa.
- Sim, para vos acordar - respondeu, tirando a caixa com as bolachas grandes e redondas decoradas com os seus respetivos símbolos astrais do saco. - Mas nada com gás.
- Também acho que não temos nada com gás - respondeu, observando o interior do frigorífico de cima a baixo.
Ele tirou uma garrafa de iced tea do frigorífico e sacou de quatro copos do armário vidrado. Pegou em pratos pequenos e guardanapos e foi equipado atrás de Melody para o quarto. Troy já estava de pé, com o tronco nu em frente ao armário meio vazio à procura do pijama.
- Eu não trouxe o meu - disse Melody que parou na porta. Ryan quase que caiu em cima dela.
- Não faz mal - assegurou-lhe Troy. - Eu e o Ryan emprestamos qualquer coisa - e colocou uma t-shirt azul escura.
Despiu as calças e num ápice tinha uns calções em xadrez vestidos.
- Agora vamos lá provar essas bolachas.
Ryan distribuiu os pratos, os guardanapos e entregou um copo a cada um. (Nenhum deles usou os pratos.) Colocou um pano de cozinha entre eles e Melody pousou a caixa com as bolachas no centro, perto da garrafa de sumo. Troy pegou numa das bolachas com o seu símbolo de Estrela, cheirou-a e deu-lhe uma trinca.
Primeiro encontrou os bocados de chocolate que encheram a sua boca de súbita felicidade e derreteram passado instantes. Depois, o sabor do açúcar no topo adicionou uma textura mais mole, doce e suave. Estavam crocantes e saborosas. Naquele momento, Troy não se lembrava de algo tão bom quanto aquilo.
- Isto é o melhor mimo de todos - suspirou Troy.
- Podem aparecer cá todos os dias se vierem com estas bolachas - acrescentou Ryan, já prestes a comer a segunda.
- Não, não - disse Violet. - Para a próxima são vocês a fazerem-nos um mimo.
Ryan e Troy entre-olharam-se e os rostos decididas das gémeas não deixavam margem para dúvidas.
- Tudo bem - aceitou Ryan, meio a brincar, meio a levar a sério a proposta delas.
- Vê lá em que nos estás a meter, Bennett.
- Estou com expectativas muito altas, rapazes - disse Melody, trincando a sua bolacha. - Não desapontem.
Melody lançou-lhes um olhar malicioso e intenso que raramente tinham visto. Isto calou-os, surpreendidos com o brilho âmbar dos olhos de Marte e os lábios de Violet curvaram-se num sorriso.
- Está prometido - garantiu Troy. - Vão até chorar de felicidade quando provarem o nosso mimo.
- Evans...
- Queremos ver isso - disse Violet.
- Não se entusiasmem tanto... - murmurou Ryan, preocupado.
- Estamos a brincar, Ryan. Mas mesmo assim, não é suposto falharem - disse Melody.
- Pois é. Eu acordei demasiado cedo para acabar a camada de açúcar.
- Shhh - fez Troy, colocando o dedo nos lábios dela. - Não fales em dormir que eu ainda caio para o lado.
- Podia dormir aqui... - Ryan assentia lentamente - no chão - disse ele com um olhar vazio preso nas bolachas.
As gémeas fitaram-se e depois olharam para os rapazes. Os dois tinham olheiras debaixo dos olhos, os ombros caídos de cansaço e nenhuma energia no corpo. Passado minutos de silêncio decidiram deixá-los descansar. Ambas levantaram-se.
- É melhor irmos embora.
- Não não não - disse Troy, abanando a cabeça. - Fiquem - e agarrou a mão de Violet.
- Vocês estão a dormir em pé, ou melhor, sentados - observou Melody, fitando Ryan.
- Amanhã só temos de organizar o apartamento. Aguentamos mais um pouco, não achas, Evans? - sorriu, ainda a fitar a caixa de bolachas.
- Claro! Claro.
Violet com a mão na anca, encarou a irmã sem saber o que fazer. Os dedos dela já estavam a entrelaçar-se com os de Troy.
- Fiquem. Pode ser, Mel? - perguntou Troy.
Melody ficou a ponderar alguns instantes, até finalmente ceder.
- Fiquem. Pode ser, Mel? - perguntou Troy.
Melody ficou a ponderar alguns instantes, até finalmente ceder.
- Pronto, tudo bem.
Troy e Ryan sorriram apesar deste último parecer um autêntico zombie.
- Vamos para a sala - disse Violet agarrando as mãos de Troy para levantá-lo.
- Nãããooo - resmungou ele.
- Anda lá, dorminhoco!
- Vamos, Ryan - Melody estendeu as suas mãos para Ryan as agarrar. Ele pegou nelas com muita preguiça. - Anda lá.
Ele levantou-se e ergueu-se como uma torre, pousando os braços nos ombros de Melody, de olhos meio abertos, meio fechados. Melody fitou a irmã e Troy sem saber o que fazer com o rapaz. Ele tinha cedido ao sono em segundos. Violet e Troy encolheram os ombros e dirigiram-se para a sala. Ryan e Melody foram atrás.
- Tens a certeza que não queres ir dormir já?
- E deixar-te a fazer de vela? - murmurou.
- É só por isso que ainda estás de pé?
- Não. Também quero ver o filme.
- O filme... Está bem.
Ryan sorriu.
Troy e Violet estavam a abrir o sofá-cama para os quatro caberem. Ryan provavelmente iria ficar com os pés de fora. Melody saiu dos braços de Ryan e foi arrumar as bolachas e o sumo do quarto, trazendo tudo para a cozinha. Quando acabou de colocar os pratos no balcão, Troy desligou a luz da sala e estendeu dois cobertores pelo sofá. As gémeas entretanto vestiram uma t-shirt e boxers dos rapazes.
- O filme vai começar, Mel - disse Violet. - Despacha-te.
- Era mais fácil se o génio do Troy tivesse deixado a luz ligada.
- Ignora isso, Melody. Vem deitar-te - pediu Ryan.
Ela largou os pratos e foi para o sofá. A irmã estava entre os rapazes, ela e Troy ligeiramente mais para a sua esquerda.
- Queres ficar no meio ou no canto? - perguntou Ryan.
- Meio.
Ryan mexeu-se para o canto do sofá e Melody sentou-se, envolvendo-se no cobertor que partilhava com ele.
Ryan mexeu-se para o canto do sofá e Melody sentou-se, envolvendo-se no cobertor que partilhava com ele.
- Vais gostar desta almofada, Mel - disse a irmã.
Violet entregou-lhe uma almofada fofa e rectangular verde.
Violet entregou-lhe uma almofada fofa e rectangular verde.
- Obrigada.
- Tudo pronto? - perguntou Troy.
- Sim.
Troy clicou em play e o filme começou. O ecrã da televisão ficou inicialmente negro, preenchendo a sala de um tom escuro onde a única luz provinha da luz lá de fora. Apareceram os créditos iniciais com uma música familiar e pompeante. A introdução do filme começou, obrigando-os a tomarem atenção ao ecrã.
Em quinze minutos de filme, Ryan começou a mostrar sinais de que ia adormecer: a cabeça dele estava inclinada para o lado, mal se mexia e os olhos só abriam com muito esforço.
- Ryan - murmurou Melody.
- Hum?
- Abre os olhos.
- Hum-hum.
Ele deitou-se. Os seus pés saíram para fora do sofá e ficaram tapados pelo cobertor. A cabeça dele estava perto da anca de Melody.
- Ryan - tornou a chamar.
Não obteve resposta. Violet olhou para ela de relance e depois tornou a tomar atenção ao enredo.
Melody deitou-se, impaciente.
- Ryan? - ele não se moveu. Melody abriu-lhe um dos seus olhos. - Ryan, acorda.
- Mel - murmurou -, pára - ele abriu um pouco os olhos para fitá-la.
Melody deu-se conta da proximidade entre os dois: os seus narizes quase se tocavam, a mão dela tinha ficado parada no rosto dele e de repente ficou muito quente debaixo do cobertor.
- Estás a perder o filme.
- Deixas-me vê-lo amanhã? - perguntou, fechando os olhos de novo.
- Que remédio. Parece que não dormes à uma semana.
Ryan sorriu.
- Bem... não é mentira.
- Então eu deixo-te - e virou o rosto, encarando o filme e Ryan alternadamente.
A cabeça dele mexeu-se na almofada tentando ficar confortável e depois Melody sentiu a testa e a bochecha dele no seu braço e o cabelo despenteado e macio no seu ombro. O rosto dele estava quase todo tapado pelo cobertor e a sua respiração aquecia o braço de Melody. Ela não se atreveu a mexer-se.
Quando Melody começou a ceder ao sono, foi a vez de Violet. Troy, incrivelmente, tinha aguentado até uma hora e dez minutos de filme e dormia agora. Melody mexeu-se com cuidado e ficou de costas para a irmã, esticando o braço, delicadamente, em que Ryan dormia profundamente. Dobrou o braço livre e colocou a mão debaixo do queixo.
Parecia surreal o que ela via diante de si. Ryan estava mesmo ali, mesmo perto dela. Isso agitou o seu coração. Ela julgou que não iria conseguir adormecer agora que começara a pensar no rapaz adormecido ao seu lado, na vontade que tinha de acariciar o seu cabelo e aproximar-se ainda mais dele, na mão que quase agarrava a dela, mas Melody lentamente fechou os olhos, relembrando o abraço de despedida. Adormeceu a sorrir.
E acordou quando o relógio marcou as nove, envolvida pelos braços de Ryan, com o rosto dele nas suas costas. Ela não se lembrava como os dois tinham ficado tão próximos durante a noite. Quando fechou os olhos, adormeceu a valer.
Lentamente virou-se: o rosto de Ryan ficou acima do seu peito, os seus braços ainda a envolviam. Melody baixou-se um pouco e foi quando ele despertou. Estavam face a face.
- Bom dia.
Ryan mexeu os braços e as mãos pararam na cintura dela, uma muito perto da sua marca.
- Bom dia - disse ela.
- Dormiste bem?
Melody assentiu.
- O meu hálito está péssimo, não está? Desculpa, eu vou agora...
- Não, não está - disse Melody a sorrir suavemente.
O hálito dele não estava assim tão mau. Após tantas manhãs a seguir a pernoitadas nas casas uns dos outros, ela já que estava mais ou menos habituada.
- Ainda bem - sorriu.
Ryan voltou-se para o lado e espreguiçou-se. Tornou a bocejar e passou a mão pelo cabelo desalinhado. Depois, num movimento confortável e seguro, voltou a colocar os braços à volta de Melody, pousando a cabeça junto ao peito dela. Ele ouvia perfeitamente o som do coração dela. - Não me apetece sair daqui - e fechou os olhos por instantes, guardando aquele momento mais um pouco na sua memória, quase a adormecer de novo.
Ela sorriu e tentou acalmar o batimento furioso do seu coração. Melody tinha a certeza de que estava vermelha, porém, Ryan não conseguia vê-la o que descansou-a um pouco. O que estava a acontecer naquele momento era algo que ela nunca sonhara mas tal como ele, Melody não queria sair dali. As suas mãos encontraram o cabelo dele e massajaram-no por fim. Ela percebeu finalmente que Ryan era mais que seu amigo e que isso talvez não fosse uma coisa má. Ela queria estar ali, envolvida nos braços dele, e ele queria estar ali, a envolvê-la com os seus braços.
O engraçado entre eles os dois era que inicialmente não se conseguiam ver à frente. Mas ao encontrarem uma causa em comum, alguém em comum - Troy -, foi como se tivessem quase apagado o terrível início. Tudo pelo que passaram uniu-os como um grupo que, para todos, era inseparável e Melody adorava isso. Adorava que todos eles, Violet, Ryan, Troy e ela fossem, primeiro que tudo, amigos. O que aconteceu com a Vi e o Troy, Melody também via isso a acontecer com ela e o Ryan. Ela não sabia se estava a imaginar, se era um desejo vindo das profundezas do seu ser, algo que não era real, mas Melody não queria largar essa possibilidade. Sabia demasiado bem estar nos braços dele para ser só algo que amigos fazem. Ainda assim, outros rótulos pareciam muito fortes e maduros para o que eles tinham e sentiam.
- Ryan?
- Hum?
- O que é que... O que estamos a... - ela murmurava.
- Não sei, Mel - respondeu ele, num murmúrio também. - Mas sabe bem, não sabe?
Ryan afastou-se, subindo o corpo ligeiramente para fitá-la e os pés aqueceram assim que encontraram o sofá. De alguma forma, ele sentia-se incrivelmente seguro de si mesmo. Sempre pensou que quando se aproximasse de Melody iria começar a tremer por todos os lados e corar que nem um tomate. Mas o calor do corpo dela fazia mais do que simplesmente aquecê-lo: acalmava-o. E ter este sentimento recíproco também ajudava. Ele sempre achou que não era correspondido por causa do impacto que Axel teve nela, ou por Melody dar-se tão bem com Benjamin que irritava. Porém, tudo agora parecia claro como água.
Melody e Ryan fitaram-se e ela assentiu com a cabeça, com os olhos abertos e os lábios fechados. Ryan mostrou o seu sorriso charmoso em que ela conseguiu encontrar alguma calma devido à familiaridade.
- Importas-te se eu adormecer? Ainda me sinto cansado.
- Já são nove horas, Ryan. Queres acordar a que horas? Às duas da tarde?
- Shh - fez ele. - Os pombinhos estão a dormir ainda - ele verificou se Violet e Troy ainda dormiam por cima do ombro dela. - E é sábado, Mel - ele voltou a abraçar-se a ela. - O que vai custar mais umas horas de descanso?
Ela ficou surpreendida com a facilidade com que os dois se aproximavam e ficavam envolvidos por uma bolha intima e secreta. Melody gostava desse sentimento, do secretismo, de algo somente entre eles os dois. Os olhares da Vi e do Troy já se tornavam irritantes.
- Se estiverem todos a dormir não é lá muito interessante ser a única acordada - admitiu e voltou a colocar as mãos no cabelo castanho de Ryan num gesto natural mas tímido.
- Então dorme comigo - Ryan já tinha os olhos fechados. - As horas vão passar num instante.
- Não sei se vou conseguir. Mas dorme, Ryan, que precisas.
- Tens a certeza?
- A hum, absoluta - e Melody beijou-lhe o cimo da cabeça pela primeira vez.
Parecia surreal o que ela via diante de si. Ryan estava mesmo ali, mesmo perto dela. Isso agitou o seu coração. Ela julgou que não iria conseguir adormecer agora que começara a pensar no rapaz adormecido ao seu lado, na vontade que tinha de acariciar o seu cabelo e aproximar-se ainda mais dele, na mão que quase agarrava a dela, mas Melody lentamente fechou os olhos, relembrando o abraço de despedida. Adormeceu a sorrir.
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E acordou quando o relógio marcou as nove, envolvida pelos braços de Ryan, com o rosto dele nas suas costas. Ela não se lembrava como os dois tinham ficado tão próximos durante a noite. Quando fechou os olhos, adormeceu a valer.
Lentamente virou-se: o rosto de Ryan ficou acima do seu peito, os seus braços ainda a envolviam. Melody baixou-se um pouco e foi quando ele despertou. Estavam face a face.
- Bom dia.
Ryan mexeu os braços e as mãos pararam na cintura dela, uma muito perto da sua marca.
- Bom dia - disse ela.
- Dormiste bem?
Melody assentiu.
- O meu hálito está péssimo, não está? Desculpa, eu vou agora...
- Não, não está - disse Melody a sorrir suavemente.
O hálito dele não estava assim tão mau. Após tantas manhãs a seguir a pernoitadas nas casas uns dos outros, ela já que estava mais ou menos habituada.
- Ainda bem - sorriu.
Ryan voltou-se para o lado e espreguiçou-se. Tornou a bocejar e passou a mão pelo cabelo desalinhado. Depois, num movimento confortável e seguro, voltou a colocar os braços à volta de Melody, pousando a cabeça junto ao peito dela. Ele ouvia perfeitamente o som do coração dela. - Não me apetece sair daqui - e fechou os olhos por instantes, guardando aquele momento mais um pouco na sua memória, quase a adormecer de novo.
Ela sorriu e tentou acalmar o batimento furioso do seu coração. Melody tinha a certeza de que estava vermelha, porém, Ryan não conseguia vê-la o que descansou-a um pouco. O que estava a acontecer naquele momento era algo que ela nunca sonhara mas tal como ele, Melody não queria sair dali. As suas mãos encontraram o cabelo dele e massajaram-no por fim. Ela percebeu finalmente que Ryan era mais que seu amigo e que isso talvez não fosse uma coisa má. Ela queria estar ali, envolvida nos braços dele, e ele queria estar ali, a envolvê-la com os seus braços.
O engraçado entre eles os dois era que inicialmente não se conseguiam ver à frente. Mas ao encontrarem uma causa em comum, alguém em comum - Troy -, foi como se tivessem quase apagado o terrível início. Tudo pelo que passaram uniu-os como um grupo que, para todos, era inseparável e Melody adorava isso. Adorava que todos eles, Violet, Ryan, Troy e ela fossem, primeiro que tudo, amigos. O que aconteceu com a Vi e o Troy, Melody também via isso a acontecer com ela e o Ryan. Ela não sabia se estava a imaginar, se era um desejo vindo das profundezas do seu ser, algo que não era real, mas Melody não queria largar essa possibilidade. Sabia demasiado bem estar nos braços dele para ser só algo que amigos fazem. Ainda assim, outros rótulos pareciam muito fortes e maduros para o que eles tinham e sentiam.
- Ryan?
- Hum?
- O que é que... O que estamos a... - ela murmurava.
- Não sei, Mel - respondeu ele, num murmúrio também. - Mas sabe bem, não sabe?
Ryan afastou-se, subindo o corpo ligeiramente para fitá-la e os pés aqueceram assim que encontraram o sofá. De alguma forma, ele sentia-se incrivelmente seguro de si mesmo. Sempre pensou que quando se aproximasse de Melody iria começar a tremer por todos os lados e corar que nem um tomate. Mas o calor do corpo dela fazia mais do que simplesmente aquecê-lo: acalmava-o. E ter este sentimento recíproco também ajudava. Ele sempre achou que não era correspondido por causa do impacto que Axel teve nela, ou por Melody dar-se tão bem com Benjamin que irritava. Porém, tudo agora parecia claro como água.
Melody e Ryan fitaram-se e ela assentiu com a cabeça, com os olhos abertos e os lábios fechados. Ryan mostrou o seu sorriso charmoso em que ela conseguiu encontrar alguma calma devido à familiaridade.
- Importas-te se eu adormecer? Ainda me sinto cansado.
- Já são nove horas, Ryan. Queres acordar a que horas? Às duas da tarde?
- Shh - fez ele. - Os pombinhos estão a dormir ainda - ele verificou se Violet e Troy ainda dormiam por cima do ombro dela. - E é sábado, Mel - ele voltou a abraçar-se a ela. - O que vai custar mais umas horas de descanso?
Ela ficou surpreendida com a facilidade com que os dois se aproximavam e ficavam envolvidos por uma bolha intima e secreta. Melody gostava desse sentimento, do secretismo, de algo somente entre eles os dois. Os olhares da Vi e do Troy já se tornavam irritantes.
- Se estiverem todos a dormir não é lá muito interessante ser a única acordada - admitiu e voltou a colocar as mãos no cabelo castanho de Ryan num gesto natural mas tímido.
- Então dorme comigo - Ryan já tinha os olhos fechados. - As horas vão passar num instante.
- Não sei se vou conseguir. Mas dorme, Ryan, que precisas.
- Tens a certeza?
- A hum, absoluta - e Melody beijou-lhe o cimo da cabeça pela primeira vez.
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