Underneath #50 Parte II
Luna e Sol teletransportaram-se para o sotão onde guardavam algumas das coisas que as gémeas usaram em crianças. Não estavam ali apenas para recolher os materiais, mas sim para enfrentar assuntos do passado.
- Sol, eu sei o que estás a pensar... O que eu disse... Bem...
O seu marido estava a alguns passos mais adiante de costas viradas para ela. De certo modo, ela não percebia o comportamento dele mas por outro lado compreendia totalmente. Depois das gémeas terem nascido, os dois concordaram em não terem mais filhos, mas Sol sempre trouxe o assunto à conversa. Luna sempre pensou que era uma espécie de piada ou que não devia levar a sério... Até agora. Tantos anos a ignorar as suas deixas para aceitar os bebés que nada lhe eram.
- Luna, não estou zangado - abanou a cabeça e colocou o braço de modo a Luna poder agarrar-lhe a mão. - Mas...
- Eu sei. Desculpa - ela apertou com ambas as mãos a mão de Sol. - Mas vê isto como uma oportunidade. Reviver aqueles momentos em que aprendem a andar e a falar, as suas primeiras palavras... As pequenas discussões entre nós se seria mamã ou papá - Sol sorria com ela. - Se calhar... - ela mordeu o lábio, nervosa. - Se calhar até podemos voltar a tentar se conseguirmos ajustar-nos à rotina.
O sorriso dele desapareceu.
- Eu não quero que te sintas obrigada a isso. E eu sei que se engravidasses agora seria um grande risco, Luna. Um risco que não precisas de correr.
- Sim, mas eu consigo aguentar. Aliás, imagina que nos calham outro par de gémeos?
- Não digas essas coisas - Sol colocou o dedo nos lábios dela a sorrir de novo -, que ainda acontecem. Queres mesmo comprar tudo a dobrar de cores diferentes?
- Agora a pensar nisso, a nossa família é muito pequenina.
- Luna...
- Sol, eu estou a falar a sério - os seus olhares prenderam-se um no outro. - Ver aqueles bebés fez-me querer voltar a ser mãe. Quero voltar a ver o que nós criamos a crescer, a aprender a andar e a falar. E nada me fará mais feliz do que ter outro filho contigo.
- Tens a certeza?
Ela assentiu com a cabeça levemente e sorriu. Sol abraçou-a, colando o seu corpo ao dela com um sorriso enorme no rosto. Em seguida rodopiou-a e os dois beijaram-se.
- Devemos contar à Melody e à Violet?
- Agora não... Contamos se acontecer.
- Mas e os Planetas bebés? Vamos acolher um?
- Se nos calharem gémeos de novo, com um dos bebés, tens o quinteto que sempre quiseste.
- Luna, isso são muitos miúdos duma vez só.
- É por isso que vamos esperar até o bebé Planeta ser um bocadinho maior - disse ela.
- Tu já tens um plano nessa cabecinha, não tens?
- Sempre - beijou-o e afastou-se rapidamente. - Agora - exclamou -, temos de ver quais mantas podemos levar... Oh, temos de comprar fraldas. Sol, anota - disse agachada junto a uma caixa. - E vamos precisar também de leite e alguns...
- Agora não... Contamos se acontecer.
- Mas e os Planetas bebés? Vamos acolher um?
- Se nos calharem gémeos de novo, com um dos bebés, tens o quinteto que sempre quiseste.
- Luna, isso são muitos miúdos duma vez só.
- É por isso que vamos esperar até o bebé Planeta ser um bocadinho maior - disse ela.
- Tu já tens um plano nessa cabecinha, não tens?
- Sempre - beijou-o e afastou-se rapidamente. - Agora - exclamou -, temos de ver quais mantas podemos levar... Oh, temos de comprar fraldas. Sol, anota - disse agachada junto a uma caixa. - E vamos precisar também de leite e alguns...
◄◊►
- Quer dizer... Eles têm de ir registar as crianças nos serviços - disse Melody, enquanto lia um capítulo do livro de físico-química.
- Para além de que os nomes deles são super estranhos... Silver ainda vai, mas Qaya e Noir?
- Tenta Srebaryan - observou Ryan.
- Vocês não querem ter um irmão ou irmã? - perguntou Troy.
Elas olharam uma para a outra e depois Violet respondeu-lhe:
- Não é bem isso... É que...
- Estamos muito bem as duas - completou Melody. - Já viste a diferença de idades?
- A diferença de idades é enorme - concordou Violet.
- É verdade - admitiu Troy. - Mas vejam isto como uma boa adição à família. Vocês perderam a Mondy e o Plutão... E agora vão ter um novo Brown.
As duas olharam para os pais e não conseguiram evitar imaginá-los com um bebé nos braços. Elas até gostaram do que viram, principalmente o sorriso nos rostos deles.
- Vocês e a mania dos últimos nomes - disse Melody, voltando a tomar atenção ao manual.
- Se calhar tens razão, Troy.
- Não tenho sempre? - disse ele a Violet.
- Até tiveste graça, Evans.
O telemóvel de Ryan vibrou e ele levantou-se.
- Onde vais? - perguntou Melody.
- A Catarina quer que vá buscá-la. Até já - disse, desaparecendo numa luz azul-marinho.
- Tão exibicionista - comentou Melody, baixando o olhar para o manual.
Durante o jantar, as gémeas não se contiveram e perguntaram aos pais o futuro da família. Catarina estava agora sentada ao lado de Jade e as duas conversavam sobre os bebés e o tudo o que aconteceu, apesar de Melody ter-lhe dado um sumário.
- Vocês vão mesmo adotar uma das crianças?
- Pudemos dar-lhes outros nomes? - sugeriu Violet.
- E onde vai o bebé dormir?
- Nós não vamos ceder o nosso quarto.
- Acalmem-se... - pediu Sol, nervoso.
- Sim, nós vamos adotar um dos bebés. E não, não precisam de ceder o vosso quarto. A nossa casa tem quatro quartos se bem se recordam.
- E qual deles vamos acolher?
- Nós estávamos a ponderar um rapaz - começou o pai.
- E por essa ordem vamos acolher o Noir - concluiu Luna, a sorrir nervosamente como o marido.
Mercúrio, que estava muito expectante, ficou irritado com a escolha do casal.
- O único ruivo na família sou eu - disse ele.
- Tu não és ruivo - contradisse Jade calmamente. - Chegámos à conclusão que a Silver e o Qaya são muito mais chegados e por isso decidimos não separá-los. Assim, fico com um pequeno casal.
O sorriso de Jade era imenso, como se tivesse esperado a vida toda por isto.
- Parece que temos um novo irmão, Vi.
Nenhuma das duas soube como reagir à notícia... Aconteceu tudo tão rápido. Ainda assim, elas tinham uma faísca de excitação a arder dentro delas.
- Agora já tenho motivos para comprar roupinhas natalícias para bebés - disse ela, a sorrir para os pais.
Os quatro trocaram abraços e depois de comerem, todos foram ver se estava tudo bem com as crianças. Nessa mesma noite, os Brown levaram o pequeno Noah para casa onde o instalaram no quarto do casal. Melody e Violet insistiram em novos nomes e um por um, todos concordaram. Afinal, era o começo de uma vida nova. Vida nova, nome novo, diziam elas. Violet aconselhou dar-lhes nomes com as mesmas iniciais e Jade lutou muito para que Silver e Qaya mantivessem os seus nomes usando a favor o verdadeiro nome de Silver - Srebaryan.
- Para além do mais, as crianças são minhas - acabou por dizer. - Eu decido.
- Calma, Jade. Ainda causas um tremor de terra - brincou Mercúrio erguendo as mãos.
Catarina esgueirou-se do grupo e levou um tabuleiro com o jantar para Júpiter.
- Estás a dormir? Trouxe-te o jantar - disse ela, ligando as luzes.
- Estou quase a desmaiar de fraqueza - refilou. - Vocês deviam tomar melhor conta dos vossos pacientes. E de onde vem esse choro irritante?
- Primeiramente, és um paciente porque agiste como um idiota. Se não tivesses tentando matar-me, estarias bem de saúde - ela pousou o tabuleiro na mesa ao lado da cama. - Segundo, chamam-se bebés e enquanto estiveres ferido, vais ter de te habituar.
- Alguém está de bom humor - comentou ele, sentando-se com dificuldade.
Ela pousou o tabuleiro no colo dele e nem lhe respondeu. Júpiter atacou a comida como se não tivesse comido à semanas mas era compreensível, Sol e Jade eram ótimos cozinheiros. Catarina sentou-se no banco de madeira junto à cama e reparou nas ligaduras limpas de Júpiter.
- Quem tas mudou?
- O teu ex - respondeu ele, a beber um gole da coca-cola.
Os olhos dela abriram-se ligeiramente e sentiu um grande desconforto com a resposta dele.
- O que foi? Não é verdade?
- É - respondeu, relutante. - Mas não voltes a dizer isso. Ele chama-se Troy.
Júpiter encolheu os ombros.
- Para mim, é o teu ex.
Ela respirou fundo, tentado ignorar o que acabou de sair da boca dele.
- Vocês conversaram?
- Não... Depois de perguntar-lhe se o tinhas deixado, o teu... o Troy ficou aborrecido - disse ele.
- Nem sei porque continuo a contar-te coisas se as tratas como uma piada - disparou Catarina. Ela levantou-se. - Não sobrou sobremesa por isso deixei-te uma pêra na mesa - e dirigiu-se para a porta.
- Calma lá - disse Júpiter. - Eu não tratei isto como uma brincadeira.
- Ai não? - ela virou-se. - Depois de te contar, a primeira coisa que fizeste foi rir e agora nem levas a sério o que eu posso estar a sentir.
Júpiter tinha os olhos azul bebé postos nela e as mãos deixaram-se cair em cima do tabuleiro.
- Não foi de propósito, desculpa - pediu ele, realmente arrependido. - Nunca pensei que estivesses tão ligada a esse rapaz. Desculpa.
No fundo, Catarina pensava que não iria ver o dia em que Júpiter se desculparia a alguém e estava extremamente surpreendida que tenha sido a ela. O Planeta nem sequer tinha-se desculpado por tentar matá-la e no entanto está agora arrependido de ter magoado os seus sentimentos. Por muito que quisesse continuar chateada, ela sentia uma obrigação de brincar com a expressão dele.
- Estás desculpado - disse e voltou a sentar-se no banco. - É incrível como te desculpas mais facilmente por magoar os sentimentos de uma rapariga do que tentar matá-la com as mãos à volta do seu pescoço.
- Para a próxima, não digo nada - resmungou, voltando a atacar o prato.
- Se fores esperto, não hás de precisar - ripostou ela.
Troy ficou na mesma com o seu quarto e os bebés mudaram-se para o quarto de Jade que ficava ligeiramente acima do complexo com a cozinha, sala e varanda, ligados por uma escada pequena e curva. Júpiter fartou-se de queixar-se e Jade teve de dar-lhe um chá para o ajudar a dormir, caso contrário ainda estariam a ouvir os seus reclames. Urano, que bebeu três garrafas de vinho, estava completamente inconsciente e Mercúrio teve de o levar para casa com ele. O seu cansaço juntamente com a bebida fez com que ele só acordasse no dia seguinte quase no final da tarde. Antes de desaparecer, Mercúrio disse-lhe que ia trazer-lhe Eve para ela passear livremente pela floresta um pouco. Troy gostou da ideia e ficou com vontade de explorar a floresta onde Jade vivia. A vontade foi tanta que os seus sonhos foram preenchidos pelas cores da terra em vez das habituais sombras e vozes negras.
◄◊►
Tudo o que via por detrás das pálpebras era uma luz branca ondulante. Mãos prendiam os seus braços na cama e ele teria entrado em pânico se não tivesse ouvido a voz de Violet. Troy ainda tinha o toque dos fios negros de Saeva marcados na pele. Antes de abrir os olhos, a voz de Ryan acompanhou a da personificação de Vénus.
- Acorda, dorminhoco - disse ela.
Troy conseguia distinguir o sorriso na sua voz.
Ele acordou com um sorriso muito subtil.
Os seus olhos esperavam encontrar o seu quarto na ala hospitalar mas em vez disso encontraram as paredes azuis do quarto da sua casa e logo se apercebeu da diferença entre os colchões. Depois viu Violet e Ryan, de pé, junto à cama à espera que ele se levantasse ou dissesse algo.
- Acho que ele se esqueceu, Ryan - murmurou ela e Troy não a ouviu.
- Porque me trouxeram? - perguntou, bocejando.
- Veste-te lá, Evans. Temos de tomar o pequeno-almoço.
- Os teus pais estão à espera.
Troy levantou-se e deu uma olhadela pelo quarto. Estava todo arrumado. Não havia boxers no canto da cama ou calções mal secos junto ao armário. O cheiro a menta que a mãe deixava pelo ar estava mais predominante que alguma vez antes. A sua linda prancha estava de pé na parede do fundo com as ceras bem arrumadas ao lado. Instantaneamente, ele fez o seu caminho até ela e pegou-a. O seu estado estava tal e qual como a tinha deixado: perfeitamente gasta. Encostou a testa junto à prancha e o cheiro e a frescura do mar correu pelos seus braços acima causando pele de galinha.
Depois do seu momento com a sua adorada prancha, Troy abriu as portas do armário branco e tirou de lá uma t-shirt azul colocando por cima uma camisa branca. Agarrou nuns calções e calçou os seus ténis favoritos. Levantou-se e pousou para os dois amigos.
- Estás muito lindo, Evans, sim - disse Ryan, colocando a mão no ombro dele. - Agora, vamos.
Os três desceram as escadas e Ryan e Violet tiveram de se esforçar muito para conterem o entusiasmo. Assim de chegaram no final das escadas, Troy parou abruptamente, olhando estupefacto para o conjunto de pessoas na sua sala, a mãe a segurar um bolo e o pai e Luna a tirarem fotos que nem maníacos.
- Surpresa! - gritaram eles.
Charlotte fez um gesto e todos começaram a cantar:
- Parabéns a você, nesta data querida... Muitas felicidades, muitos anos de vida! - Troy sentiu as mãos de Ryan nos seus ombros. - Hoje é dia de festa, cantam as nossas almas, para o menino Troy... Uma salva de palmas!
- Como... Eu esqueci-me completamente - disse ele, ainda surpreendido mas com um grande sorriso no rosto.
A mãe aproximou o bolo de ananás e chantili - o seu favorito - com "Parabéns Troy!" escrito e dezassete velas azuis. Luna tinha a câmara ao rubro. Ele não tinha palavra alguma e limitou-se a soprar para as velas. Depois de Charlotte afastar-se, todos vieram abraçá-lo e dar-lhe os parabéns. Os braços quentes da Catarina foram os primeiros a alcançá-lo.
- Nunca pensei estar tão contente por teres feito dezassete - disse ela. - E pela tua cara, nem te lembravas...
Troy aproveitou cada segundo daquele abraço.
- Feliz aniversário, Troy - Catarina afastou-se e deu-lhe um beijo na bochecha.
Ele manteve os olhos fechados até ela afastar-se e mostrar-lhe o seu sorriso.
- Obrigado.
Catarina deu lugar a Luna.
- Oh, Troy, parabéns! - A câmara quase o atingiu na cabeça. - Espero que este ano te corra bem melhor e desejo-te tudo de bom.
- Obrigado Luna - sorriu.
Ela afastou-se, voltando a colocar a câmara a postos e o flash voltou em ação. Ele então prestou atenção à sala pela primeira vez, notando nos três grupos de balões azuis e brancos espalhados pela sala. Havia uma mesinha com waffles e panquecas, café, chá e leite acompanhado com o chocolate em pó, e um cesto com pão, junto à lareira. Noah estava a dormir numa cadeira-auto em cima do sofá com Sol ao lado. Troy estava a ler a faixa pendurada por cima das portas para a cozinha quando Melody o abraçou.
- Troy, feliz aniversário!
- Deve ser uma ocasião muito especial para receber um abraço - brincou ele.
- Não estragues o momento! - abraçou-o com mais força.
Troy riu-se e ela afastou-se.
- Espero que gostes do teu presente - disse ela, indicando-lhe um dossier com um laço estrelado brilhante. - É toda a matéria que precisas para o primeiro exame de uma forma muito fácil - sussurrou, tapando um lado da boca.
- Melody!
- Shh, não digas à tua mãe - ela sorriu. - Ela ainda vem atrás do meu pescoço.
- Combinado. Obrigado - ele sorriu.
Ryan foi ter com ele e Melody esgueirou-se para o pé da irmã.
- Como é que te esqueceste do teu dia favorito?
- Podes culpar-me? - disse, passando a mão pela nuca. - Tecnicamente, o meu aniversário foi festejado à semanas quando matámos o Saeva.
- O meu presente para ti é melhor que vários dias inconsciente - avisou ele.
- Não era preciso dares-me nada, Bennett!
- Eu quis... para compensar os seis anos fora.
Desde que Ryan tinha voltado foi como se ele nunca tivesse ido embora. Mas ao trazer o assunto, havia demasiadas memórias em que ele não fazia parte e por muito que lhe custasse, ele sabia que para Ryan era muito pior. Portanto, negar algo dele por aqueles seis anos parecia um autêntica rejeição.
- Obrigado, Ryan - Troy abraçou-o.
Ryan sorriu levemente.
- Então - ele afastou-se -, onde está o meu presente?
- Lá fora - Ryan indicou com o polegar o exterior.
- Bennett... - o sorriso dele abriu-se. - O que é que estás a tramar?
O sorriso de Ryan tornou-se matreiro e divertido e Troy fez o seu caminho para a rua.
- Troy, onde vais? - perguntou o pai.
- Temos de cortar o bolo, querido!
- Voltamos já! - disse Ryan para os Evans.
Troy abriu a porta de casa e viu, a brilhar com a luz, a bicicleta para que ele estava a poupar desde que tinha 15 anos, embrulhada com um grande laço vermelho. Ele mal conseguia formar palavras. Tudo o que conseguia fazer era suspirar.
- Só posso estar a sonhar... - murmurou Troy, tocando na bicicleta. - É ainda melhor ao toque...
- Um passarinho chamado Catarina contou-me que estavas a poupar desde que tinhas um ano de idade...
- Que exagero, Ryan - comentou Catarina. - Mas está lá perto.
- Então, gostas?
- Se eu gosto? Eu adoro! - Troy quase levantou a bicicleta no ar com entusiasmo. - Isto deve ter-te custado tanto, Bennett...
- Cala-te lá com isso. É o teu presente de aniversário. Aceita e pronto.
Troy assentiu.
- Vamos dar uma volta?
- Nem pensar nisso! - gritou-lhe a mãe da porta. - Temos um bolo para cortar! E ainda nem tomaste o pequeno-almoço!
- Acorda, dorminhoco - disse ela.
Troy conseguia distinguir o sorriso na sua voz.
Ele acordou com um sorriso muito subtil.
Os seus olhos esperavam encontrar o seu quarto na ala hospitalar mas em vez disso encontraram as paredes azuis do quarto da sua casa e logo se apercebeu da diferença entre os colchões. Depois viu Violet e Ryan, de pé, junto à cama à espera que ele se levantasse ou dissesse algo.
- Acho que ele se esqueceu, Ryan - murmurou ela e Troy não a ouviu.
- Porque me trouxeram? - perguntou, bocejando.
- Veste-te lá, Evans. Temos de tomar o pequeno-almoço.
- Os teus pais estão à espera.
Troy levantou-se e deu uma olhadela pelo quarto. Estava todo arrumado. Não havia boxers no canto da cama ou calções mal secos junto ao armário. O cheiro a menta que a mãe deixava pelo ar estava mais predominante que alguma vez antes. A sua linda prancha estava de pé na parede do fundo com as ceras bem arrumadas ao lado. Instantaneamente, ele fez o seu caminho até ela e pegou-a. O seu estado estava tal e qual como a tinha deixado: perfeitamente gasta. Encostou a testa junto à prancha e o cheiro e a frescura do mar correu pelos seus braços acima causando pele de galinha.
Depois do seu momento com a sua adorada prancha, Troy abriu as portas do armário branco e tirou de lá uma t-shirt azul colocando por cima uma camisa branca. Agarrou nuns calções e calçou os seus ténis favoritos. Levantou-se e pousou para os dois amigos.
- Estás muito lindo, Evans, sim - disse Ryan, colocando a mão no ombro dele. - Agora, vamos.
Os três desceram as escadas e Ryan e Violet tiveram de se esforçar muito para conterem o entusiasmo. Assim de chegaram no final das escadas, Troy parou abruptamente, olhando estupefacto para o conjunto de pessoas na sua sala, a mãe a segurar um bolo e o pai e Luna a tirarem fotos que nem maníacos.
- Surpresa! - gritaram eles.
Charlotte fez um gesto e todos começaram a cantar:
- Parabéns a você, nesta data querida... Muitas felicidades, muitos anos de vida! - Troy sentiu as mãos de Ryan nos seus ombros. - Hoje é dia de festa, cantam as nossas almas, para o menino Troy... Uma salva de palmas!
- Como... Eu esqueci-me completamente - disse ele, ainda surpreendido mas com um grande sorriso no rosto.
A mãe aproximou o bolo de ananás e chantili - o seu favorito - com "Parabéns Troy!" escrito e dezassete velas azuis. Luna tinha a câmara ao rubro. Ele não tinha palavra alguma e limitou-se a soprar para as velas. Depois de Charlotte afastar-se, todos vieram abraçá-lo e dar-lhe os parabéns. Os braços quentes da Catarina foram os primeiros a alcançá-lo.
- Nunca pensei estar tão contente por teres feito dezassete - disse ela. - E pela tua cara, nem te lembravas...
Troy aproveitou cada segundo daquele abraço.
- Feliz aniversário, Troy - Catarina afastou-se e deu-lhe um beijo na bochecha.
Ele manteve os olhos fechados até ela afastar-se e mostrar-lhe o seu sorriso.
- Obrigado.
Catarina deu lugar a Luna.
- Oh, Troy, parabéns! - A câmara quase o atingiu na cabeça. - Espero que este ano te corra bem melhor e desejo-te tudo de bom.
- Obrigado Luna - sorriu.
Ela afastou-se, voltando a colocar a câmara a postos e o flash voltou em ação. Ele então prestou atenção à sala pela primeira vez, notando nos três grupos de balões azuis e brancos espalhados pela sala. Havia uma mesinha com waffles e panquecas, café, chá e leite acompanhado com o chocolate em pó, e um cesto com pão, junto à lareira. Noah estava a dormir numa cadeira-auto em cima do sofá com Sol ao lado. Troy estava a ler a faixa pendurada por cima das portas para a cozinha quando Melody o abraçou.
- Troy, feliz aniversário!
- Deve ser uma ocasião muito especial para receber um abraço - brincou ele.
- Não estragues o momento! - abraçou-o com mais força.
Troy riu-se e ela afastou-se.
- Espero que gostes do teu presente - disse ela, indicando-lhe um dossier com um laço estrelado brilhante. - É toda a matéria que precisas para o primeiro exame de uma forma muito fácil - sussurrou, tapando um lado da boca.
- Melody!
- Shh, não digas à tua mãe - ela sorriu. - Ela ainda vem atrás do meu pescoço.
- Combinado. Obrigado - ele sorriu.
Ryan foi ter com ele e Melody esgueirou-se para o pé da irmã.
- Como é que te esqueceste do teu dia favorito?
- Podes culpar-me? - disse, passando a mão pela nuca. - Tecnicamente, o meu aniversário foi festejado à semanas quando matámos o Saeva.
- O meu presente para ti é melhor que vários dias inconsciente - avisou ele.
- Não era preciso dares-me nada, Bennett!
- Eu quis... para compensar os seis anos fora.
Desde que Ryan tinha voltado foi como se ele nunca tivesse ido embora. Mas ao trazer o assunto, havia demasiadas memórias em que ele não fazia parte e por muito que lhe custasse, ele sabia que para Ryan era muito pior. Portanto, negar algo dele por aqueles seis anos parecia um autêntica rejeição.
- Obrigado, Ryan - Troy abraçou-o.
Ryan sorriu levemente.
- Então - ele afastou-se -, onde está o meu presente?
- Lá fora - Ryan indicou com o polegar o exterior.
- Bennett... - o sorriso dele abriu-se. - O que é que estás a tramar?
O sorriso de Ryan tornou-se matreiro e divertido e Troy fez o seu caminho para a rua.
- Troy, onde vais? - perguntou o pai.
- Temos de cortar o bolo, querido!
- Voltamos já! - disse Ryan para os Evans.
Troy abriu a porta de casa e viu, a brilhar com a luz, a bicicleta para que ele estava a poupar desde que tinha 15 anos, embrulhada com um grande laço vermelho. Ele mal conseguia formar palavras. Tudo o que conseguia fazer era suspirar.
- Só posso estar a sonhar... - murmurou Troy, tocando na bicicleta. - É ainda melhor ao toque...
- Um passarinho chamado Catarina contou-me que estavas a poupar desde que tinhas um ano de idade...
- Que exagero, Ryan - comentou Catarina. - Mas está lá perto.
- Então, gostas?
- Se eu gosto? Eu adoro! - Troy quase levantou a bicicleta no ar com entusiasmo. - Isto deve ter-te custado tanto, Bennett...
- Cala-te lá com isso. É o teu presente de aniversário. Aceita e pronto.
Troy assentiu.
- Vamos dar uma volta?
- Nem pensar nisso! - gritou-lhe a mãe da porta. - Temos um bolo para cortar! E ainda nem tomaste o pequeno-almoço!
◄◊►
Um pouco antes da hora de almoço, Ryan e Melody fecharam-se na sua bolha e começaram a falar dos exames e do Spongebob deixando-o a ele, Violet e Catarina de parte o que tornou tudo um pouco estranho. Passado meia hora de conversa embaraçosa, Jade apareceu na cozinha por uma luz verde. Tinha no peito a bebé loira, Silver, e nas costas, Qaya.
- O Mercúrio já fechou o bar para clientes.
- Está tudo bem por lá, Jade? - perguntou Steve um pouco preocupado.
- Sim. Não vi nada de invulgar - respondeu ela. - Vamos?
- As surpresas ainda não acabaram, querido - disse Charlotte a Troy.
O grupo juntou-se e Luna, Sol e Jade teletransportaram-os para o bar dos Evans junto à praia.
Quando lá chegaram, Troy viu um bar completamente diferente do habitual. Quase todas as mesas que ficavam junto às amplas janelas tinham desaparecido, apenas duas restavam que estavam cheias de doces e sobremesas. As cadeiras que as acompanhavam também tinham desaparecido deixando só os bancos altos junto ao balcão e bar. Na parede do fundo estava um palco de madeira, amplificadores, um tripé com um microfone e uma pequena televisão ligada a um computador. Mais ou menos a meio do bar estava uma bola de espelhos. Em cima das janelas, estavam fitas decorativas azuis bem como na parede do local de karaoke. Pelas janelas, Troy conseguia ver as duas maiores mesas estilo piquenique da esplanada juntas, decoradas com arranjos de flores em vasos esguios de vidro.
- Chegaram finalmente... - bufou Mercúrio com um avental atado à cintura e um pano sujo no ombro despido. - Sinceramente, Steve, podias ter fechado o bar pela manhã...
- Eu avisei-te - disse Steve Evans. - Tu é que teimaste.
Mercúrio revirou os olhos e cruzou os braços. Depois olhou para Troy e lembrou-se.
- Oh, pois. Parabéns, Troy.
- Obrigado - agradeceu ele, meio constrangido.
- Ora, e que tal irmos lá para fora? Está um dia tão bonito - sugeriu Luna. - Sol, vais ver o almoço, por favor? Chama-me se precisares.
- Oh, deixem-se estar - disse Charlotte. - Eu e o Steve podemos tomar conta disso.
- Graças a Deus - suspirou Mercúrio, tirando o avental e pousando o pano no balcão. - Nunca mais quero ver uma frigideira na minha vida.
Troy, as gémeas, Catarina e Ryan tinham saído entretanto.
Antes de Charlotte conseguir acalmar o marido, Steve já tinha ido chatear a cabeça do Planeta que ficou muito calado a ouvi-lo depois de tentar ripostar. Sol e Luna ficaram muito estáticos a olhar para eles, não percebendo como Steve tinha tanta autoridade sobre Mercúrio.
- Luna...
- Sim, estou a tratar disso - disse ela, clicando no botão da máquina sem parar.
Charlotte deixou o casal para trás e pediu a Mercúrio para ir descansar um pouco lá fora, um bocadinho envergonhada pelo comportamento do marido.
- Tens de parar com o hábito de ralhar com as pessoas como se ainda estivesses na tropa, Steve - disse-lhe ela, a pegar no pano e no avental de Mercúrio.
- Ora, se ele não reclamasse do que se comprometeu a fazer eu tinha ficado quieto!
Sol aproximou-se dos Evans e Luna saiu do bar, com Mercúrio a agarrar na cadeira de Noah.
- O que vamos fazer para o almoço?
- Muita coisa - disse Charlotte, esperando que Mercúrio tenha pelo menos colocado os frangos nos fornos.
◄◊►
Troy via-se distraído facilmente pelo mar azul e fresco atrás de si. As ondas não estavam grandes mas ele sabia que daqui a algumas horas estaria perfeito para surfar, nem que fosse por uma hora. Quando os pais e Sol começaram a trazer o almoço para as mesas, Troy tinha fome suficiente para conseguir repetir apesar de ter comido quatro pratos de panquecas com xarope. As gémeas foram as únicas a comentar o seu apetite e Ryan ficou muito alegre por ver que certas coisas nunca mudam.
Os bebés dormiram durante quase o almoço inteiro e Jade era a única, dos três que os acolheram, a parecer bem disposta e nada cansada. Por baixo dos olhos de Luna não era visíveis olheiras mas os seus olhos estavam muito cansados e em Sol já se verificavam círculos escuros. Catarina e Jade pareciam segredar muito e de vez em quando riam uma para a outra. Troy estava muito contente por ela estar tão integrada neste grupo como qualquer outro. Sem ela, nada à sua volta teria o mesmo significado. Ele ficou a pensar nos tópicos de conversa que as duas teriam e quando se apercebeu que Júpiter poderia ser um deles ficou ligeiramente mal disposto.
Outro duo muito pouco convencional era o seu pai e Mercúrio que conversavam animados sobre tudo desde a guerra a receitas fáceis e deliciosas para fazer em menos de 20 minutos. O Planeta parecia ter colocado de lado o seu cansaço e estava agora muito mais sociável. Sempre que olhava para Mercúrio, Troy via Mel e Mondy e pensava no que poderia ter sido dele se a sua filha não tivesse morrido. Depois lembrava-se de Plutão e de como abandonou a sua família em busca de um futuro incerto com a filha de Mondy. Enquanto esteve no Mundo dos Espíritos, não viu o espírito do Planeta e isso só podia significar que as coisas não aconteceram como planeado. Por muito que lhe custasse admitir, Mercúrio era um homem protector e até amável, incapaz de abandonar os seus. Plutão que tinha tudo para ser feliz, que possuía o que o primeiro não tinha - uma filha -, escolheu abandonar tudo. E Troy tinha a sensação de que Mel não tinha herdado apenas a aparência do pai.
Após duas horas rodeados pelos pratos principais do almoço, Charlotte e Jade buscaram as sobremesas: pudim de leite condensado, cupcakes de cenoura com raspas de chocolate, bolo de bolacha, gelado de limão e de baunilha. Troy conseguiu comer de tudo e inclusive foi ele que acabou com os cupcakes. Um pouco depois, os pais disseram-lhe que iam voltar a reabrir o bar e por isso Troy pôde ficar com os seus amigos na praia enquanto que os adultos voltaram para casa retornando só por volta da hora do jantar. As gémeas despediram-se do seu novo irmão já mais habituadas a ele e dos pais. Jade deu um beijinho a toda a gente e um abraço especial a Troy, e foi a primeira a ir-se embora, levando os bebés chorões consigo. O grupo, antes de fazer o seu caminho até à praia, ajudou os Evans a arrumarem tudo e voltaram a colocar as mesas nos seus lugares. Mercúrio ficou por mais uma hora a lavar os pratos e os copos e parecia muito chateado por Urano ainda não ter colocado os pés no bar e não responder às suas mensagens. Ryan e Troy pensavam que o Planeta nem sabia mandar mensagens quanto mais ter um telemóvel seu. Charlotte deu uma toalha de praia para Troy e um beijo prolongado na bochecha, e assim, as gémeas, Ryan, Troy e Catarina partiram para a praia.
Como tinha previsto, o mar ficou perfeito para surfar assim que ele tinha acabado a digestão. Ele e Ryan foram buscar as pranchas, por teletransporte, a casa, e logo quando voltaram à praia, vestiram os seus fatos de surf. Troy estava mais que empolgado e Catarina comparou-o a um cão com o seu brinquedo favorito. Em circunstâncias normais teria ripostado e dado-lhe um beijo mas só chegou a ripostar.
- Evans, está quieto! Não consigo fechar-te o fato assim - ralhou Ryan.
Depois enceraram as pranchas e ataram o leash à volta do tornozelo.
- Se o mar não ficar flat, que tal uma lição de surfe do mestre? - perguntou ele às gémeas com um sorriso convencido e as sobrancelhas levantadas.
- Anda lá, Evans! - exclamou Ryan já a chegar à beira da água. - Estás com medo de perder contra mim?
Troy sorriu-lhe com a ambição renovada e foi atrás de Ryan que já tinha posto os pés na água. Ao correr em direção ao mar, a frescura das ondas bailou na sua pele e ao tocar na água, ligeiramente aquecida pelo sol, ele sentiu-se finalmente em casa. Os braços perfuraram o mar salgado com animo e força. Ao mergulhar, Troy nunca se tinha sentido tão bem. A água lavou-lhe o que restava das marcas que a Escuridão lhe deixou, e, sabendo que tudo tinha acabado, já não havia nada que o pudesse ferir como os fios negros feriram.
Os bebés dormiram durante quase o almoço inteiro e Jade era a única, dos três que os acolheram, a parecer bem disposta e nada cansada. Por baixo dos olhos de Luna não era visíveis olheiras mas os seus olhos estavam muito cansados e em Sol já se verificavam círculos escuros. Catarina e Jade pareciam segredar muito e de vez em quando riam uma para a outra. Troy estava muito contente por ela estar tão integrada neste grupo como qualquer outro. Sem ela, nada à sua volta teria o mesmo significado. Ele ficou a pensar nos tópicos de conversa que as duas teriam e quando se apercebeu que Júpiter poderia ser um deles ficou ligeiramente mal disposto.
Outro duo muito pouco convencional era o seu pai e Mercúrio que conversavam animados sobre tudo desde a guerra a receitas fáceis e deliciosas para fazer em menos de 20 minutos. O Planeta parecia ter colocado de lado o seu cansaço e estava agora muito mais sociável. Sempre que olhava para Mercúrio, Troy via Mel e Mondy e pensava no que poderia ter sido dele se a sua filha não tivesse morrido. Depois lembrava-se de Plutão e de como abandonou a sua família em busca de um futuro incerto com a filha de Mondy. Enquanto esteve no Mundo dos Espíritos, não viu o espírito do Planeta e isso só podia significar que as coisas não aconteceram como planeado. Por muito que lhe custasse admitir, Mercúrio era um homem protector e até amável, incapaz de abandonar os seus. Plutão que tinha tudo para ser feliz, que possuía o que o primeiro não tinha - uma filha -, escolheu abandonar tudo. E Troy tinha a sensação de que Mel não tinha herdado apenas a aparência do pai.
Após duas horas rodeados pelos pratos principais do almoço, Charlotte e Jade buscaram as sobremesas: pudim de leite condensado, cupcakes de cenoura com raspas de chocolate, bolo de bolacha, gelado de limão e de baunilha. Troy conseguiu comer de tudo e inclusive foi ele que acabou com os cupcakes. Um pouco depois, os pais disseram-lhe que iam voltar a reabrir o bar e por isso Troy pôde ficar com os seus amigos na praia enquanto que os adultos voltaram para casa retornando só por volta da hora do jantar. As gémeas despediram-se do seu novo irmão já mais habituadas a ele e dos pais. Jade deu um beijinho a toda a gente e um abraço especial a Troy, e foi a primeira a ir-se embora, levando os bebés chorões consigo. O grupo, antes de fazer o seu caminho até à praia, ajudou os Evans a arrumarem tudo e voltaram a colocar as mesas nos seus lugares. Mercúrio ficou por mais uma hora a lavar os pratos e os copos e parecia muito chateado por Urano ainda não ter colocado os pés no bar e não responder às suas mensagens. Ryan e Troy pensavam que o Planeta nem sabia mandar mensagens quanto mais ter um telemóvel seu. Charlotte deu uma toalha de praia para Troy e um beijo prolongado na bochecha, e assim, as gémeas, Ryan, Troy e Catarina partiram para a praia.
- Evans, está quieto! Não consigo fechar-te o fato assim - ralhou Ryan.
Depois enceraram as pranchas e ataram o leash à volta do tornozelo.
- Se o mar não ficar flat, que tal uma lição de surfe do mestre? - perguntou ele às gémeas com um sorriso convencido e as sobrancelhas levantadas.
- Anda lá, Evans! - exclamou Ryan já a chegar à beira da água. - Estás com medo de perder contra mim?
Troy sorriu-lhe com a ambição renovada e foi atrás de Ryan que já tinha posto os pés na água. Ao correr em direção ao mar, a frescura das ondas bailou na sua pele e ao tocar na água, ligeiramente aquecida pelo sol, ele sentiu-se finalmente em casa. Os braços perfuraram o mar salgado com animo e força. Ao mergulhar, Troy nunca se tinha sentido tão bem. A água lavou-lhe o que restava das marcas que a Escuridão lhe deixou, e, sabendo que tudo tinha acabado, já não havia nada que o pudesse ferir como os fios negros feriram.
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As ondas duraram a tarde toda e todos ficaram na praia até os virem chamar para jantarem. Ryan conseguiu, de alguma forma, colocar Melody em cima de uma prancha e fazê-la entrar no mar. No entanto, as coisas não correram como queriam: Melody fazia questão de tentar as coisas sozinha enquanto que Ryan dizia-lhe especificamente para fazer certo movimento pois era o que os iniciantes deveriam fazer. Já Catarina tinha aproveitado para dar uns mergulhos e exibir ao Ryan a sua perícia numa prancha. Ele ficou estupefacto.
- Bem, depois de tu desapareceres o Troy precisou de um companheiro de surf. Durou três meses - explicou ela. - Mas ainda pratico... De vez em quando.
Quando Troy tentou tirar Violet da sua missão em bronzear-se, ela mal se aguentou no mar um momento, caindo sempre. Houve momentos em que ele esteve genuinamente mais preocupado com a sua prancha do que com ela, apesar de nunca admitir tal coisa. No final, todos acabaram por esquecer o surf e lutaram na água. Catarina colocou-se nos ombros de Ryan e Violet nos de Troy e os quatro esforçaram-se para ver quem era o mais determinado em não cair. Apesar dos risos e dos gritos das raparigas, a voz de Melody ouvia-se da praia a avisar que iam acabar por se magoar. E bem, Ryan aleijou-se...
- Eu avisei-vos - exclamou ela.
- Melody, já chega... - disse Ryan cansado. - Foi só um arranhão.
- Nem comento.
- Óptimo.
Aquele não foi o final da discussão.
O silêncio (quase total se não fosse o burburinho da discussão) permitiu-lhe relaxar um pouco e pensar sobre o seu dia e principalmente, sobre o último mês. Nada estava igual. Tudo tinha mudado. Ele tinha mudado. Troy mudara completamente: passou de um miúdo normal para uma Estrela Vital e em seguida, para um miúdo meio normal com poderes do Ar.
A mente mudara: estava mais segura mas também eivada de manchas que ele não sabia se alguma vez sairiam. E ele aceitava isso agora. Sem essas manchas, se calhar não teria derrotado o Saeva.
Os seus sentimentos mudaram.
- Troy?
O seu coração bateu aceleradamente.
Violet apareceu à sua frente.
- Hum? - ele sentiu a sua cara a escaldar.
- Estás a esconder-te?
- Não - abanou a cabeça.
- Posso sentar-me?
- Claro.
Ela sentou-se ao lado dele.
- Estás a gostar do teu dia?
- Estou mesmo. Nem me lembrei que fazia anos até vocês me saltarem para a frente - respondeu, a sorrir. - Foi uma boa surpresa.
Violet sorriu. Por alguns momentos ficaram a olhar para o pôr do sol. Depois a situação começou a tornar-se estranha onde ambos queriam dizer alguma coisa mas não sabiam o quê ou como. Ela tinha preso na garganta tudo o que queria dizer a Troy e ele estava ansioso por isso.
- Estás a gostar do teu dia?
- Estou mesmo. Nem me lembrei que fazia anos até vocês me saltarem para a frente - respondeu, a sorrir. - Foi uma boa surpresa.
Violet sorriu. Por alguns momentos ficaram a olhar para o pôr do sol. Depois a situação começou a tornar-se estranha onde ambos queriam dizer alguma coisa mas não sabiam o quê ou como. Ela tinha preso na garganta tudo o que queria dizer a Troy e ele estava ansioso por isso.
- Eu tenho de - disseram os dois em uníssono.
Ambos sorriram e desviaram o olhar. Violet respirou fundo e fitou-o.
- Eu... - A voz dela tremeu ligeiramente e encarou as mãos. - Eu sinto algo por ti.
As mãos dela apertavam-se uma à outra. Os dedos estavam entrelaçados. Ambos pensavam que se continuassem em silêncio, o batimento acelerado dos seus corações ouviria-se. Os lábios de Troy abriram-se num sorriso tonto ao ouvir as palavras dela. De súbito, tudo à sua volta tinha-se enevoado e tudo o que ele via eram os olhos azuis-ambarinos de Violet a brilharem tão intensamente quanto a luz do sol. Pareciam autênticas estrelas. Aqueles olhos derretiam qualquer hesitação ou insegurança e puxavam-no para ela como uma força inquebrável - um fio dourado. Troy sabia que Violet sentia o mesmo.
- Mas o que eu quero mesmo é que possamos ser amigos primeiro - continuou ela, hesitando.
Troy não estava nem surpreendido nem desiludido. Ele queria o mesmo. Queria conhecê-la de todas as formas possíveis.
- Nós mal nos conhecemos - disse ela -, e a única forma de mudar-mos isso é sendo amigos. Espero que percebas.
- Claro que percebo. É o que eu quero também - assegurou.
A mão esquerda de Violet estava apoiada agora na areia fina da praia e Troy, em movimento instantâneo, moveu a sua para perto da mão dela. Os lados das suas mãos tocaram-se e os dedos mindinhos entrelaçaram-se subtilmente. Na outra mão, Violet apoiou o rosto corado e fitando os olhos azuis-esverdeados dele murmurou:
- Feliz aniversário, Troy Evans.
Troy não estava nem surpreendido nem desiludido. Ele queria o mesmo. Queria conhecê-la de todas as formas possíveis.
- Nós mal nos conhecemos - disse ela -, e a única forma de mudar-mos isso é sendo amigos. Espero que percebas.
- Claro que percebo. É o que eu quero também - assegurou.
A mão esquerda de Violet estava apoiada agora na areia fina da praia e Troy, em movimento instantâneo, moveu a sua para perto da mão dela. Os lados das suas mãos tocaram-se e os dedos mindinhos entrelaçaram-se subtilmente. Na outra mão, Violet apoiou o rosto corado e fitando os olhos azuis-esverdeados dele murmurou:
- Feliz aniversário, Troy Evans.
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