Underneath #44
- Como assim?
Jade arrancou uma planta pelas raízes do canteiro. A trança negra caiu das suas costas suadas, pairando ao lado do seu rosto.
- O meu poder principal é a Cura. Eu utilizo-o frequentemente mas é, de longe, o poder que eu uso menos. E no entanto, é nele em que demonstro maior mestria e eficácia.
Catarina passara a manhã na casa da Jade, almoçou com a mãe e voltou em seguida para a casa pouco habitual da personificação da Terra. Júpiter não mostrou nenhum outro sinal de comunicação e por isso, as duas seguiram para o grande terraço aberto coberto de plantas, pequenas árvores e flores. Jade começou a contar-lhe pormenores sobre a vida dos Planetas que a deixaram cada vez mais curiosa. Ela estava ansiosa por perguntar-lhe se as representações tiveram algum papel com a época greco-romana.
- Faz sentido o teu poder ser a Cura. A natureza encontra sempre uma maneira de se curar e florir.
Jade levou um pano branco à boca e tossiu.
- Estás bem?
- Sim. É só a mudança de temperatura - explicou, com um sorriso pouco convincente. - Bem retomando à nossa conversa, o Mercúrio é o melhor exemplo que te posso dar. O seu poder é o Metal mas ele raramente o usa. Ele dá prioridade ao fogo, por alguma razão - Jade atirou a trança para trás das costas. - Quando ele tentou saltar para Lymph, ele ficou gravemente ferido enfraquecendo o seu controlo à aparência. Os seus olhos vermelho-sangue são afinal dum tom cinzento-escuro com filamentos de outras cores. Parecia que fogos de artificio tinham explodido nos seus olhos em tons esverdeados, lilás e azuis. Penso que ele mudou a cor dos olhos para ficar mais parecido com a Irmã, a Vénus.
- Os Planetas têm irmãos? Tu és irmã do Mercúrio e do Úrano?
- Sim e não. Todos os Planetas originais são considerados Irmãos. Como eu não sou a personificação original da Terra, a primeira, eu não estou ligada a eles dessa forma. O Mercúrio e a Vénus eram considerados gémeos.
- Então, mas como surgiu os Planetas? Há alguma mãe ou algum pai?
- Não faço ideia. Há várias teorias científicas e religiosas. Os meus registos não cobrem esse conhecimento. Mas acredito que todo o universo tem um pontada de ciência bem como magia. Senão, como é que eu existiria? Acho que só perguntando ao Sol ou a um das representações originais.
- Pois, é verdade. Que interessante - suspirou. Catarina achava fascinante este tópico. - Então, e qual é o poder principal de cada Planeta? Sabes?
- Vamos lá ver se me lembro - levantou-se, colocou a planta que arrancara na mesa e pegou em potes de barro. Catarina entregou-lhe três sacos com diferentes sementes. - Vénus é Luz, tenho a certeza. Neptuno controla a Água, Júpiter possui a Electricidade, Marte penso que é a Terra... Hum, vejamos... o poder de Saturno... Não me lembro - murmurou, franzindo o sobrolho e ponderando durante alguns momentos. - Ah! Já sei - baixou-se, ficando de cócoras -, Saturno comanda os ventos ou o Ar, o Úrano penso que é Gelo e o do Plutão é Rocha.
- Mas se o...
Nesse instante, uma luz abrasadora e um vento fortíssimo vieram do interior da sala. As folhas e os ramos mexeram-se todos, as sementes voaram da mão de Jade e Catarina ficou completamente despenteada e quase cega. As portas deslizantes de madeira e vidro bateram uma contra a outra fazendo rachar o vidro. Quando Catarina recuperou a visão, Jade já tinha saído do seu lado. Ao olhar para o interior, viu, primeiramente, Mercúrio e Úrano e logo depois o rosto de Ryan. Os seus olhos castanhos abriram-se numa expressão surpreendida e alegre. Catarina mexeu-se instantaneamente levantando-se e correndo na direção do amigo.
Ryan só sentiu os braços quentes dela à sua volta e logo soube exatamente de quem se tratava. Abraçou-a bem forte antes de ela o largar e notar a ausência de Troy.
- Não acredito que te foste embora sem dizer nada, Ryan Bennett! - ralhou, apertando-o. - Ainda bem que estás são e salvo - suspirou, aliviada.
Os olhos castanhos dela rondaram a sala, passando por cada rosto à procura do namorado.
- Onde está o Troy? - perguntou.
O seu olhar parou nas gémeas que estavam nos braços dos pais completamente em choque. Via-se claramente que ambas tinham chorado. Parecia que Violet ainda chorava.
- O que lhe aconteceu? Alguém me explica? - levantou-se, ficando no centro do grupo.
O seu olhar parou nas gémeas que estavam nos braços dos pais completamente em choque. Via-se claramente que ambas tinham chorado. Parecia que Violet ainda chorava.
- O que lhe aconteceu? Alguém me explica? - levantou-se, ficando no centro do grupo.
- Tentámos... - começou Ryan mas a voz falhou-lhe e não prosseguiu.
- Onde está o Troy? - repetiu, cada vez mais preocupada e pensando no pior.
- O Saeva capturou-o - respondeu-lhe Violet. O rosto não exibia emoção alguma mas uma lágrima caiu-lhe pela face.
O quê?
O quê?
- Como? Como é que isso aconteceu? Não... - Catarina não podia ter ouvido bem. - Como é que vocês deixaram que isto acontecesse? Porque não o protegeram? - gritou, virando-se para os Planetas. Colocou as mãos em cada lado da cabeça. Ela não conseguia processar aquela informação. Catarina vira como Saeva era e agora Troy estava na posse daquela criatura maléfica. Como?
- Catarina - chamou Ryan erguendo a mão para ela a agarrar.
- Não - disse. - Eu quero que me expliquem o que aconteceu e porque é que não fizeram nada para o impedir. Eles estavam claramente com o Troy - aprontou para o trio, dirigindo-se para os Planetas, Sol e Luna. - Se os salvaram, porque não o resgataram também? - questionou com o tom de voz cada vez mais alto. - Porque o deixaram... Porque o deixaram para trás? - ela sentia lágrimas a formarem nos seus olhos mas piscou-os várias vezes. Não queria chorar ali.
Tapou o rosto com as mãos numa tentativa de impedir que as lágrimas caíssem mas não estava a correr como queria. Com os seus olhos fechados, a única coisa que via era o Troy a ser torturado por Saeva. Pedaços do seu sonho emergiram no seu pensamento. Uma sombra negra atrás do Troy que o tornava em cinzas ambulantes de olhos tão negros como a noite. Ela mordeu o lábio, tentando com ainda mais vontade conter a tristeza. Sentiu o corpo de alguém abraçá-la. Logo percebeu que se tratava de Ryan. Ele beijou-lhe o cimo da cabeça e Catarina largou o rosto, abraçando-o também. Ao abrir os olhos, reparou que já não valia de nada continuar com aquele esforço; os seus olhos estavam marejados de lágrimas que começaram a cair como uma cascata. Ela mergulhou o rosto no peito de Ryan, abafando os soluços. Logo a seguir, as gémeas e o melhor amigo da Estrela deixaram-se ceder ao exemplo dela.
◄◊►
Troy levantou-se do chão frio. A única coisa que sentia era o frio do pavimento e uma forte dor de cabeça. Olhou para as mãos e ambas estavam normais. Tocou na face e não sentiu nada diferente. O cabelo ainda estava loiro, a pele estava morena e as suas roupas não tinham mudado apesar de haver um pequeno buraco na t-shirt no local da sua marca. Olhou em volta e parecia estar no vácuo de Saeva ainda. O que aconteceu?
Ryan e as gémeas escaparam. Os seus pais, Mercúrio e Úrano tinham vindo ao seu socorro. Estavam a salvo. Troy tinha sido deixado para trás. Ele quase sorriu até se lembrar do segundo em que Ryan desaparecera. Depois só sentiu o Saeva a puxá-lo para bem fundo, ficando cada vez mais escuro à medida que avançava e algo negro cobriu-o por completo. Troy conseguiu distinguir o veneno de Saeva a percorrer as suas veias até chegar aos olhos. Teria ele perdido a cor dos seus olhos?
- Acordaste, Alexander.
- É Troy. E sim. Onde estou?
- Não reconheces a tua própria mente?
- A minha mente? - Troy não precisou de resposta. Sabia agora o que se estava a passar. - Ainda não é o meu aniversário.
- Faltam dois dias, Troy - Saeva proferiu o nome dele com certa delicadeza. - São apenas quarenta e oito horas de espera. Mas podes crer que vou aproveitá-las ao máximo - sorriu.
- O que queres dizer?
- Lembraste do que disseste ao teu amigo? Não penso ficar parado - Saeva aproximou-se rodando à volta de Troy -, e também não penso em deixar o Sol em paz.
- Eu posso separar-me de ti a qualquer momento. Como é que pensas conquistar a galáxia sem mim? - perguntou, ignorando o facto de ele saber da conversa telepática que ele e Ryan partilharam.
- Lá está, Alexander, não vou. A melhor lição que dei ao Aaro foi que lutar não adianta. Ele tentou lutar e vê o que lhe aconteceu: matou a mãe e o irmão recém nascido.
- Foste tu que os mataste. Não coloques a culpa nele.
- Coloco sim. Afinal, foram as suas mãos que selaram o destino dos Alexander. Eu só ajudei. Como te irei ajudar e vais aprender a ouvir-me.
Troy sentia o medo a correr pela sua pele mas também alguma coragem. Só de pensar em ouvir a voz sinistra de Saeva para o resto da vida motivava-o ainda mais. Ele não ia desistir novamente ou sequer ponderar. Afinal, ele era a Estrela Vital de uma galáxia. Troy não precisava do Saeva mas Saeva precisava dele. Quem tinha a vantagem não era o monstro negro.
- Eu não sou o Tema. Esqueces-te sempre disso - afirmou.
- E é por isso que vou adorar ver-te cair - ele sorriu e os seus olhos cinzentos diminuíram com o sorriso. Logo a seguir, ele desapareceu.
◄◊►
- Elas adormeceram? - perguntou Mercúrio.
- Sim. A Jade deu-lhes um chá e a Luna ainda está com elas na cama - respondeu-lhe Sol. - Reparaste no olhar delas, Mercúrio? O quão devastadas estavam? - Mercúrio nunca tinha visto um olhar tão triste no rosto do amigo.
- Elas vão ficar bem - pousou a mão no ombro dele. Sol não parecia convencido de tal. - Garanto-te. - disse, a tentar certificar-se a Sol e a si mesmo.
- Precisamos de falar com os pais do miúdo - Úrano apareceu. Estava com um olhar péssimo. - A Catarina e o Ryan precisam deles.
Sol assentiu levemente passando os dedos pelo olho direito realçando ainda mais o seu cansaço.
Sol assentiu levemente passando os dedos pelo olho direito realçando ainda mais o seu cansaço.
- Vou buscar o telemóvel da Luna - disse Sol, passando a mão pela nuca enquanto subia as escadas.
- Alguma vez o viste assim? - comentou o sétimo Planeta. - Pensa só como estão estes miúdos, Mercúrio.
- O que achas que vai acontecer se o Saeva levar a sua avante?
- O rapaz é mais poderoso que o seu antecessor. Com o Saeva dentro dele, Sol não tem hipóteses. Especialmente neste estado. Nós só ganhámos porque a Vénus se sacrificou. Quem terá de se sacrificar para ganharmos esta batalha?
A pergunta pairou no ar, deixando uma certa angústia em redor. Mercúrio fechou os olhos tentando esquecer o momento em que viu o corpo morto da sua Irmã.
- Eles estão a caminho. Podem avisar quando eles vierem? Vou estar no quarto com as miúdas - e voltou a desaparecer pelo corredor.
Charlotte e Steve Evans colocaram-se no carro com os nervos em franja. A voz de Sol ao telefone parecia um tanto fingida e muito triste. Algo se tinha passado. Na chamada não tinha especificado nenhum detalhe nem disse nada em concreto acerca de Troy. Charlotte tinha uma mau pressentimento sobre a situação toda. A chuva intensa que decorreu à uma hora atrás parecia aumentar esse sentimento, inundando a mente dela com pensamentos preocupantes e pessimistas. Os raios solares não aqueciam o seu coração inundado de preocupação.
Com uma mão no volante, Steve deu a outra à sua mulher que fez questão de apertá-la para soltar os nervos. Também ele se sentia sobrecarregado com pensamentos menos positivos e desagradáveis. Parte dele sentia que aquilo tudo estava a acontecer por sua culpa. Ao esconder de Troy o facto de ele ter poderes pode tê-lo prejudicado. De facto, prejudicou-o. Se Steve o tivesse incentivado a usar os seus poderes para se proteger talvez Troy não estaria numa situação de perigo. Talvez ele já tivesse derrotado o inimigo que o persegue.
Mas tudo isto podia ser um enorme filme na cabeça de ambos. Se calhar Troy estava seguro na casa dos Brown com apenas um arranhão para contar a história. Era nisso que os Evans queriam desesperadamente acreditar.
Estacionaram na rua da casa, abriram o portão e percorrem o grande jardim. Ansiosamente bateram na porta, de mão dada, a desejar o melhor mas a esperar o pior. O rapaz sem t-shirt abriu-lhes a porta.
- Boa tarde. Entrem - deu-lhes espaço para entrarem. - Os miúdos estão na sala.
- O Troy está incluído? - perguntou Steve com os olhos azuis esverdeados expectantes.
Ele suspirou cruzando os braços e olhando para o chão antes de fitar os olhos do casal.
- Temo muito que não. Mas o Ryan e a Catarina precisam de vocês. Nós vamos explicar-vos tudo o que sabemos - disse.
Charlotte engoliu em seco e assim como marido, franziu o sobrolho para não desatar a chorar. Ela assentiu até a voz subir-lhe pela garganta.
- Onde estão eles? - respirou fundo, limpando quaisquer vestígios de lágrimas dos olhos.
Mercúrio virou-se, caminhando até às portas de acesso para a sala e abrindo-as. O rapaz de crista roxa estava ao lado de Catarina e esta tinha a cabeça deitada no ombro de Ryan. O homem estava a falar com ela até ver os pais de Troy junto às portas. Virou-se por um segundo e disse algo à Catarina e ela levantou o seu olhar. Assim que viu Charlotte e Steve correu para os abraçar e pela sua surpresa, começou a chorar de novo. Ryan esboçou um sorriso tristíssimo e escondeu o rosto com as mãos rapidamente. Steve beijou a cabeça da namorada do seu filho e foi ter com o rapaz. Sentou-se ao lado dele e colocou o braço à sua volta, acariciando o seu ombro.
- Podes falar comigo. Sabes disso, não sabes?
Ryan disse que sim com a cabeça.
Sol entrou na sala com Jade ao lado. Ela trazia uma bandeja com sandes e pediu a Úrano, de um modo quase imperceptível, para trazer uma outra com sumos. Charlotte sentara-se com Catarina ao lado no sofá oposto em que o seu marido e Ryan se encontravam. A mesa de centro ficou então repleta de sandes mistas e sumos de laranja. Mercúrio foi o único que pegou numa sandes e depois Ryan serviu-se dum copo de sumo, bebendo o líquido de quase uma só vez. Os três Planetas deixaram-se ficar à volta de Sol, em pé, enquanto este falava.
- Peço imensa desculpa por vos trazer más notícias e por verem os miúdos desta forma. Nós chegámos demasiado tarde e os miúdos tiveram de aguentar com a loucura do Saeva.
- Vocês vão ajudar o Troy, certo? - perguntou Catarina, levantando o rosto do ombro de Charlotte.
- Mas é claro, Catarina - respondeu-lhe Jade, ligeiramente confusa com a pergunta.
- Nós queremos ajudar, eu e o Steve - disse Charlotte, colocando as mãos à volta da Catarina para acalmá-la.
- Não vos queremos envolvidos - disse Mercúrio, muito frontalmente.
Charlotte e Steve ficaram com um semblante carregado, Catarina estava prestes a barafustar quando Úrano roubou-lhe a fala.
- O que ele quer dizer é que o Saeva está a controlar o Troy e não vai demorar muito até ele vir atrás do Sol, que é o seu objectivo desde o início. E por muito que queiram ajudar, vocês não têm o poder para tal. Nós provavelmente não temos o poder para tal.
- O Saeva tem o Troy? - perguntou Steve com a voz forte mas extremamente preocupada.
- Sim - disse-lhe Sol. - Mas ainda nem tudo está perdido. O vosso rapaz é forte. É mais forte que o Tema. Ainda falta para o seu aniversário. Ele pode conseguir libertar-se. Aliás, estamos todos a contar que o faça.
- Não parecem muito confiantes - comentou Charlotte.
Mas tudo isto podia ser um enorme filme na cabeça de ambos. Se calhar Troy estava seguro na casa dos Brown com apenas um arranhão para contar a história. Era nisso que os Evans queriam desesperadamente acreditar.
Estacionaram na rua da casa, abriram o portão e percorrem o grande jardim. Ansiosamente bateram na porta, de mão dada, a desejar o melhor mas a esperar o pior. O rapaz sem t-shirt abriu-lhes a porta.
- Boa tarde. Entrem - deu-lhes espaço para entrarem. - Os miúdos estão na sala.
- O Troy está incluído? - perguntou Steve com os olhos azuis esverdeados expectantes.
Ele suspirou cruzando os braços e olhando para o chão antes de fitar os olhos do casal.
- Temo muito que não. Mas o Ryan e a Catarina precisam de vocês. Nós vamos explicar-vos tudo o que sabemos - disse.
Charlotte engoliu em seco e assim como marido, franziu o sobrolho para não desatar a chorar. Ela assentiu até a voz subir-lhe pela garganta.
- Onde estão eles? - respirou fundo, limpando quaisquer vestígios de lágrimas dos olhos.
Mercúrio virou-se, caminhando até às portas de acesso para a sala e abrindo-as. O rapaz de crista roxa estava ao lado de Catarina e esta tinha a cabeça deitada no ombro de Ryan. O homem estava a falar com ela até ver os pais de Troy junto às portas. Virou-se por um segundo e disse algo à Catarina e ela levantou o seu olhar. Assim que viu Charlotte e Steve correu para os abraçar e pela sua surpresa, começou a chorar de novo. Ryan esboçou um sorriso tristíssimo e escondeu o rosto com as mãos rapidamente. Steve beijou a cabeça da namorada do seu filho e foi ter com o rapaz. Sentou-se ao lado dele e colocou o braço à sua volta, acariciando o seu ombro.
- Podes falar comigo. Sabes disso, não sabes?
Ryan disse que sim com a cabeça.
Sol entrou na sala com Jade ao lado. Ela trazia uma bandeja com sandes e pediu a Úrano, de um modo quase imperceptível, para trazer uma outra com sumos. Charlotte sentara-se com Catarina ao lado no sofá oposto em que o seu marido e Ryan se encontravam. A mesa de centro ficou então repleta de sandes mistas e sumos de laranja. Mercúrio foi o único que pegou numa sandes e depois Ryan serviu-se dum copo de sumo, bebendo o líquido de quase uma só vez. Os três Planetas deixaram-se ficar à volta de Sol, em pé, enquanto este falava.
- Peço imensa desculpa por vos trazer más notícias e por verem os miúdos desta forma. Nós chegámos demasiado tarde e os miúdos tiveram de aguentar com a loucura do Saeva.
- Vocês vão ajudar o Troy, certo? - perguntou Catarina, levantando o rosto do ombro de Charlotte.
- Mas é claro, Catarina - respondeu-lhe Jade, ligeiramente confusa com a pergunta.
- Nós queremos ajudar, eu e o Steve - disse Charlotte, colocando as mãos à volta da Catarina para acalmá-la.
- Não vos queremos envolvidos - disse Mercúrio, muito frontalmente.
Charlotte e Steve ficaram com um semblante carregado, Catarina estava prestes a barafustar quando Úrano roubou-lhe a fala.
- O que ele quer dizer é que o Saeva está a controlar o Troy e não vai demorar muito até ele vir atrás do Sol, que é o seu objectivo desde o início. E por muito que queiram ajudar, vocês não têm o poder para tal. Nós provavelmente não temos o poder para tal.
- O Saeva tem o Troy? - perguntou Steve com a voz forte mas extremamente preocupada.
- Sim - disse-lhe Sol. - Mas ainda nem tudo está perdido. O vosso rapaz é forte. É mais forte que o Tema. Ainda falta para o seu aniversário. Ele pode conseguir libertar-se. Aliás, estamos todos a contar que o faça.
- Não parecem muito confiantes - comentou Charlotte.
- Ele vai conseguir. Ele prometeu-nos.
Os olhares dirigiram-se para Melody que estava junto à porta da sala. Vestia o pijama em que as mangas da camisola pareciam demasiado longas. Sol levantou-se logo indo ao seu encontro até Melody encontrá-lo a meio do caminho.
- Devias estar a descansar - disse-lhe o pai.
- Eu mal bebi daquele chá. Não gosto de nenhum sem ser o mate. Aliás só consigo adormecer se a Violet ainda estiver acordada e é óbvio que ela já adormeceu mais a mãe - Melody sentou-se na poltrona sentindo uma forte dor de cabeça a picar-lhe o cimo da cabeça a cada passo que dava.
- Eu disse - afirmou Mercúrio. - Eu sabia que era ela que não gostava de chá verde.
Jade lançou-lhe um olhar cortante. Mercúrio encolheu os ombros sorrindo ligeiramente.
- Retomando o que ia a dizer, o Troy vai conseguir. Eu tenho a certeza - garantiu, apertando ligeiramente a têmpora.
- Melody, deixa-me ajudar-te...
- Não preciso, obrigada.
- É só um segundo - reforçou Jade.
- Já disse que não!
A sala ficou em silêncio.
- Mel - murmurou Mercúrio, percebendo o que se passava. - Hey, vamos ao jardim um pouco? - Ele esticou-lhe a mão e ela pegou-a. - As flores de verão estão a brotar.
- Está bem - respondeu baixinho, encostando-se ao corpo alto e magro dele enquanto andavam.
Mercúrio fechou a porta atrás de si deixando apenas o silêncio na sala de estar.
- Eu quero ir para casa - disse Ryan, levantando-se.
- Porque não ficam os dois na nossa casa hoje?
- Não - respondeu logo. - Mas obrigado.
- Não devias ficar sozinho agora - disse Jade.
- Não devia ter abandonado o meu melhor amigo, portanto - encolheu os ombros. Passou a mão pelo ombro de Steve e deu um beijo em Charlotte bem como em Catarina. - Se quiseres lá aparecer, a minha porta está aberta.
- Obrigada, mas acho que vou aceitar o convite da Charlotte - sorriu e largou a mão dele.
- Posso vir amanhã para ver as gémeas?
- Claro - disse Sol. - Precisamos de falar doutras coisas também.
- Certo. Então, até amanhã.
Ryan saiu da casa dos Brown, ignorando os olhares preocupados de todos atrás de si. Ele não percebia porque é que as pessoas não se focavam em recuperar o Troy. Ele tinha desaparecido na Escuridão à sua frente e ninguém estava a fazer alguma coisa sobre o assunto. Ryan sentia-se culpado por querer ir para casa e dormir durante doze horas seguidas mas o seu corpo não tinha forças para mais. Naquela sala, a sua voz mal foi ouvida. A sua mente estava numa constante pausa onde só despertava ao ouvir o nome do melhor amigo.
Ele saiu do bairro das gémeas, virando uma esquina e caminhando sempre em frente, passando por uma ponte pequena do mato florido e verde-amarelado. Ali, tinha aprendido que Troy Evans tinha poderes mágicos e era uma Estrela Vital. As gémeas contaram-lhe que eram Planetas e filhas do Sol e da representação da Lua. A sua vida a partir daí deu outra volta de cento e oitenta graus e mais uma vez essa volta mudou-a para pior. Ryan entrou por um caminho entre árvores onde os olhos não reconheciam mas a cabeça sim.
Minutos mais tarde o cheiro a sal tornou-se forte. Ele saltou do terreno elevado aterrando num caminho arenoso. Dali conseguia sentir a brisa do mar a refrescar-lhe o rosto. Continuou o percurso, descendo até ver degraus de pedra com ligeiras poças de arreia. Ryan conseguia ver o seu mar a brilhar num céu multicolorido que brevemente iria tornar-se negro e estrelado. Tirou os sapatos e enterrou os pés na areia, indo até ao local onde o sol pairava no centro. Ele nunca tinha percebido como as coisas funcionavam quando os Planetas, e neste caso Sol, tornavam-se humanos. A Melody teria de lhe explicar melhor uma outra vez...
Faltavam algumas horas para o pôr do sol visto que o horário de verão estava quase no seu pico. No entanto, já se viam manchas carregadas de laranja no céu misturadas com o amarelo esbranquiçado e o azul do céu. Aquelas cores lembraram-lhe os olhos de Melody e foram apenas nesses segundos em que o seu pensamento se divergiu do melhor amigo. Em seguida, a vontade de surfar encheu-lhe o corpo de vontade. No entanto, deixou-se estar. Ignorou tal desejo e simplesmente fechou os olhos, deitando na areia com as mãos na barriga. A luz aquecia-lhe a pele e o cheiro a mar o coração.
Os olhares dirigiram-se para Melody que estava junto à porta da sala. Vestia o pijama em que as mangas da camisola pareciam demasiado longas. Sol levantou-se logo indo ao seu encontro até Melody encontrá-lo a meio do caminho.
- Devias estar a descansar - disse-lhe o pai.
- Eu mal bebi daquele chá. Não gosto de nenhum sem ser o mate. Aliás só consigo adormecer se a Violet ainda estiver acordada e é óbvio que ela já adormeceu mais a mãe - Melody sentou-se na poltrona sentindo uma forte dor de cabeça a picar-lhe o cimo da cabeça a cada passo que dava.
- Eu disse - afirmou Mercúrio. - Eu sabia que era ela que não gostava de chá verde.
Jade lançou-lhe um olhar cortante. Mercúrio encolheu os ombros sorrindo ligeiramente.
- Retomando o que ia a dizer, o Troy vai conseguir. Eu tenho a certeza - garantiu, apertando ligeiramente a têmpora.
- Melody, deixa-me ajudar-te...
- Não preciso, obrigada.
- É só um segundo - reforçou Jade.
- Já disse que não!
A sala ficou em silêncio.
- Mel - murmurou Mercúrio, percebendo o que se passava. - Hey, vamos ao jardim um pouco? - Ele esticou-lhe a mão e ela pegou-a. - As flores de verão estão a brotar.
- Está bem - respondeu baixinho, encostando-se ao corpo alto e magro dele enquanto andavam.
Mercúrio fechou a porta atrás de si deixando apenas o silêncio na sala de estar.
- Eu quero ir para casa - disse Ryan, levantando-se.
- Porque não ficam os dois na nossa casa hoje?
- Não - respondeu logo. - Mas obrigado.
- Não devias ficar sozinho agora - disse Jade.
- Não devia ter abandonado o meu melhor amigo, portanto - encolheu os ombros. Passou a mão pelo ombro de Steve e deu um beijo em Charlotte bem como em Catarina. - Se quiseres lá aparecer, a minha porta está aberta.
- Obrigada, mas acho que vou aceitar o convite da Charlotte - sorriu e largou a mão dele.
- Posso vir amanhã para ver as gémeas?
- Claro - disse Sol. - Precisamos de falar doutras coisas também.
- Certo. Então, até amanhã.
Ryan saiu da casa dos Brown, ignorando os olhares preocupados de todos atrás de si. Ele não percebia porque é que as pessoas não se focavam em recuperar o Troy. Ele tinha desaparecido na Escuridão à sua frente e ninguém estava a fazer alguma coisa sobre o assunto. Ryan sentia-se culpado por querer ir para casa e dormir durante doze horas seguidas mas o seu corpo não tinha forças para mais. Naquela sala, a sua voz mal foi ouvida. A sua mente estava numa constante pausa onde só despertava ao ouvir o nome do melhor amigo.
Ele saiu do bairro das gémeas, virando uma esquina e caminhando sempre em frente, passando por uma ponte pequena do mato florido e verde-amarelado. Ali, tinha aprendido que Troy Evans tinha poderes mágicos e era uma Estrela Vital. As gémeas contaram-lhe que eram Planetas e filhas do Sol e da representação da Lua. A sua vida a partir daí deu outra volta de cento e oitenta graus e mais uma vez essa volta mudou-a para pior. Ryan entrou por um caminho entre árvores onde os olhos não reconheciam mas a cabeça sim.
Minutos mais tarde o cheiro a sal tornou-se forte. Ele saltou do terreno elevado aterrando num caminho arenoso. Dali conseguia sentir a brisa do mar a refrescar-lhe o rosto. Continuou o percurso, descendo até ver degraus de pedra com ligeiras poças de arreia. Ryan conseguia ver o seu mar a brilhar num céu multicolorido que brevemente iria tornar-se negro e estrelado. Tirou os sapatos e enterrou os pés na areia, indo até ao local onde o sol pairava no centro. Ele nunca tinha percebido como as coisas funcionavam quando os Planetas, e neste caso Sol, tornavam-se humanos. A Melody teria de lhe explicar melhor uma outra vez...
Faltavam algumas horas para o pôr do sol visto que o horário de verão estava quase no seu pico. No entanto, já se viam manchas carregadas de laranja no céu misturadas com o amarelo esbranquiçado e o azul do céu. Aquelas cores lembraram-lhe os olhos de Melody e foram apenas nesses segundos em que o seu pensamento se divergiu do melhor amigo. Em seguida, a vontade de surfar encheu-lhe o corpo de vontade. No entanto, deixou-se estar. Ignorou tal desejo e simplesmente fechou os olhos, deitando na areia com as mãos na barriga. A luz aquecia-lhe a pele e o cheiro a mar o coração.
◄◊►
- É verdade. As flores estão a brotar todas - comentou com um bocejo.
- O teu pai tem razão, devias estar a dormir.
Os dois sentaram no banco pendurado ao telhado do alpendre. Mercúrio ficou a baloiçá-lo com os pés enquanto Melody deitava a cabeça no seu ombro, completamente encolhida junto a ele.
- Não consigo adormecer depois da Violet - repetiu.
- Acho que nunca vou perceber como vocês coordenam isso. Se têm sono devem dormir e pronto - ele colocou o braço à volta dela e Melody aconchegou-se junto ao seu peito. Não era quente como o do pai mas não deixava de ser confortável e familiar.
- Conta-me uma história - pediu ela a lutar contra a vontade de dormir.
- O que queres ouvir?
- Aquela em que tu e a avó vão comprar a vossa primeira árvore de Natal.
Mercúrio riu-se e ela sorriu ao ouvi-lo.
- Isso nem é bem uma história.
- É sim. Conta-me outra vez - sorriu, com os olhos fechados.
- Era dia sete de Dezembro de 1970 - começou com alguma hesitação ao tentar lembrar-se da data. - Estava um dia horrível para estar fora de casa. Tinha nevado a noite toda e na manhã ainda havia sinais de flocos de neve a caírem. A lareira estava acesa e o cheiro a chocolate quente enchia a casa toda. Como era domingo, a Mondy estava livre do trabalho no banco e eu tinha planeado ficar a dormitar no sofá o dia inteiro. Qual foi a minha surpresa quando a Mondy apareceu no final das escadas com botas até aos joelhos e meias por cima das calças justas, um cachecol grosso à volta do pescoço, as orelhas tapadas por protetores vermelhos peludos e um casaco que mais parecia um saco do lixo azul-escuro. Ela disse-me: "Hoje vamos comprar a nossa árvore de Natal!", a encher o peito e a colocar as luvas cor de rosa. Eu fiz a pior coisa que devia ter feito: rir-me. O rosto dela ficou encarnado que nem um tomate e subiu as escadas numa velocidade incrível. Chamei por ela três vezes até que ela finalmente apareceu com um sorriso malandro. Nas mãos tinha uma camisola de capuz azul-escura, luvas pretas, um gorro e protetores vermelhos. - Mercúrio tinha a certeza que Melody tinha caído no sono mas estava a gostar de reviver aquele momento. - Eu perguntei-lhe o que ela queria com aquilo tudo e ela respondeu-me com um dedo no ar: "Vais vestir esta camisola, colocar estas luvas e os protetores. Depois vou subir quatro degraus para conseguir por-te o gorro bem e nós vamos à John & Tully's Christmas Trees comprar a árvore perfeita". Até que ela me convencesse a colocar aquela camisola foram trinta minutos. Quando saímos de casa já tinha passado das três da tarde. Entretanto a neve tinha parado mas foi um esforço ter de limpar a rua para o carro conseguir passar. Chegámos ao local e estava completamente apinhado de gente. A Mondy fez questão de apontar que se eu não tivesse feito uma birra tínhamos chegado mais cedo.
- Não saltes a parte em que encontras o ex da avó - disse ela, numa voz fraca e baixa.
- Ainda te lembras disso? - ele sentiu a Melody abanar a cabeça.
- Ele não se chamava...
- Lynton - disseram os dois em uníssono.
- Bem, a Mondy só ficou com bom gosto quando me conheceu, sinceramente. O rapaz era quase tão baixo quanto ela.
- Tu é que és alto demais! - exclamou ela, levantando a cabeça e fitando-o.
Mercúrio riu-se.
- Vá, deita-te lá. Estavas quase a dormir.
- Continua a história.
- Pareces que a sabes melhor que eu. Já nem me lembrava desse homem - admitiu.
- Já és velho. A tua memória não é tão boa quanto a minha.
- Vê lá a quem chamas de velho! - e fez-lhes cócegas até ela se render. O banco baloiçou até Mercúrio fincar os pés no chão novamente. - Continuando...
- Sim, continua - deitou-se nas pernas dele, encolhendo-se.
- Já tínhamos passado por três amigas dela e ficaram a conversar durante quinze minutos cada. Quando finalmente estávamos a chegar a um consenso sobre a árvore que queríamos, aparece o tal ex, o Lynton. Isto não foi da minha cabeça mas eu lembro-me como se fossem ontem: ele não parou de fazer olhinhos à Mondy o tempo inteiro e não se calou com a nova namorada dele. Depois fez um clique e ele reparou que eu estava ali, a observá-lo e pronto a partir-lhe a cana do nariz. "Então, Mondy, não me apresentas o teu amigo?" - Mercúrio fez a voz dele num tom de gozo e grave. - Obviamente que estiquei a mão para o cumprimentar e ele ignorou-me completamente focando-se somente na Mondy até a namorada aparecer. Ao nosso lado estava a árvore que supostamente iríamos comprar mas o Lynton e a namorada começaram a enrolar tanto que chegámos ao ponto de querermos correr para longe deles. Os dois acabaram por ficar com a árvore e nós ficámos mais uma hora e meia à procura. Passámos essa hora a rir dos dois e a imitar as vozes irritantes deles. Quando o John avisou que ia fechar as visitas nós começámos a entrar em pânico. Eu no final estava tão empenhado em encontrar uma árvore tanto quanto a Mon. Prestes a desistir, nós vimos uma árvore num canto junto ao armazém, acabada de chegar e levemente polvilhada de neve. Eu e a Mondy sabíamos que era aquela. Tinha o tamanho ideal para colocar na sala junto à lareira e o seu tronco tinha sido cortado na medida perfeita para os presentes ficarem mesmo debaixo dos ramos. Ela saltou para cima de mim num abraço apertado e foi a correr puxando-me pela mão para chamar o John. Vinte minutos depois tínhamos a árvore presa ao carro e íamos a caminho de casa.
- O teu pai tem razão, devias estar a dormir.
Os dois sentaram no banco pendurado ao telhado do alpendre. Mercúrio ficou a baloiçá-lo com os pés enquanto Melody deitava a cabeça no seu ombro, completamente encolhida junto a ele.
- Não consigo adormecer depois da Violet - repetiu.
- Acho que nunca vou perceber como vocês coordenam isso. Se têm sono devem dormir e pronto - ele colocou o braço à volta dela e Melody aconchegou-se junto ao seu peito. Não era quente como o do pai mas não deixava de ser confortável e familiar.
- Conta-me uma história - pediu ela a lutar contra a vontade de dormir.
- O que queres ouvir?
- Aquela em que tu e a avó vão comprar a vossa primeira árvore de Natal.
Mercúrio riu-se e ela sorriu ao ouvi-lo.
- Isso nem é bem uma história.
- É sim. Conta-me outra vez - sorriu, com os olhos fechados.
- Era dia sete de Dezembro de 1970 - começou com alguma hesitação ao tentar lembrar-se da data. - Estava um dia horrível para estar fora de casa. Tinha nevado a noite toda e na manhã ainda havia sinais de flocos de neve a caírem. A lareira estava acesa e o cheiro a chocolate quente enchia a casa toda. Como era domingo, a Mondy estava livre do trabalho no banco e eu tinha planeado ficar a dormitar no sofá o dia inteiro. Qual foi a minha surpresa quando a Mondy apareceu no final das escadas com botas até aos joelhos e meias por cima das calças justas, um cachecol grosso à volta do pescoço, as orelhas tapadas por protetores vermelhos peludos e um casaco que mais parecia um saco do lixo azul-escuro. Ela disse-me: "Hoje vamos comprar a nossa árvore de Natal!", a encher o peito e a colocar as luvas cor de rosa. Eu fiz a pior coisa que devia ter feito: rir-me. O rosto dela ficou encarnado que nem um tomate e subiu as escadas numa velocidade incrível. Chamei por ela três vezes até que ela finalmente apareceu com um sorriso malandro. Nas mãos tinha uma camisola de capuz azul-escura, luvas pretas, um gorro e protetores vermelhos. - Mercúrio tinha a certeza que Melody tinha caído no sono mas estava a gostar de reviver aquele momento. - Eu perguntei-lhe o que ela queria com aquilo tudo e ela respondeu-me com um dedo no ar: "Vais vestir esta camisola, colocar estas luvas e os protetores. Depois vou subir quatro degraus para conseguir por-te o gorro bem e nós vamos à John & Tully's Christmas Trees comprar a árvore perfeita". Até que ela me convencesse a colocar aquela camisola foram trinta minutos. Quando saímos de casa já tinha passado das três da tarde. Entretanto a neve tinha parado mas foi um esforço ter de limpar a rua para o carro conseguir passar. Chegámos ao local e estava completamente apinhado de gente. A Mondy fez questão de apontar que se eu não tivesse feito uma birra tínhamos chegado mais cedo.
- Não saltes a parte em que encontras o ex da avó - disse ela, numa voz fraca e baixa.
- Ainda te lembras disso? - ele sentiu a Melody abanar a cabeça.
- Ele não se chamava...
- Lynton - disseram os dois em uníssono.
- Bem, a Mondy só ficou com bom gosto quando me conheceu, sinceramente. O rapaz era quase tão baixo quanto ela.
- Tu é que és alto demais! - exclamou ela, levantando a cabeça e fitando-o.
Mercúrio riu-se.
- Vá, deita-te lá. Estavas quase a dormir.
- Continua a história.
- Pareces que a sabes melhor que eu. Já nem me lembrava desse homem - admitiu.
- Já és velho. A tua memória não é tão boa quanto a minha.
- Vê lá a quem chamas de velho! - e fez-lhes cócegas até ela se render. O banco baloiçou até Mercúrio fincar os pés no chão novamente. - Continuando...
- Sim, continua - deitou-se nas pernas dele, encolhendo-se.
- Já tínhamos passado por três amigas dela e ficaram a conversar durante quinze minutos cada. Quando finalmente estávamos a chegar a um consenso sobre a árvore que queríamos, aparece o tal ex, o Lynton. Isto não foi da minha cabeça mas eu lembro-me como se fossem ontem: ele não parou de fazer olhinhos à Mondy o tempo inteiro e não se calou com a nova namorada dele. Depois fez um clique e ele reparou que eu estava ali, a observá-lo e pronto a partir-lhe a cana do nariz. "Então, Mondy, não me apresentas o teu amigo?" - Mercúrio fez a voz dele num tom de gozo e grave. - Obviamente que estiquei a mão para o cumprimentar e ele ignorou-me completamente focando-se somente na Mondy até a namorada aparecer. Ao nosso lado estava a árvore que supostamente iríamos comprar mas o Lynton e a namorada começaram a enrolar tanto que chegámos ao ponto de querermos correr para longe deles. Os dois acabaram por ficar com a árvore e nós ficámos mais uma hora e meia à procura. Passámos essa hora a rir dos dois e a imitar as vozes irritantes deles. Quando o John avisou que ia fechar as visitas nós começámos a entrar em pânico. Eu no final estava tão empenhado em encontrar uma árvore tanto quanto a Mon. Prestes a desistir, nós vimos uma árvore num canto junto ao armazém, acabada de chegar e levemente polvilhada de neve. Eu e a Mondy sabíamos que era aquela. Tinha o tamanho ideal para colocar na sala junto à lareira e o seu tronco tinha sido cortado na medida perfeita para os presentes ficarem mesmo debaixo dos ramos. Ela saltou para cima de mim num abraço apertado e foi a correr puxando-me pela mão para chamar o John. Vinte minutos depois tínhamos a árvore presa ao carro e íamos a caminho de casa.
- Tenho saudades dela.
- Eu também - acariciou-lhe o ombro passando a mão pelo cabelo.
- Não vais desaparecer como ele pois não?
Mercúrio percebeu logo o que ela quis dizer.
- Claro que não - abanou a cabeça. - Eu nunca vos deixaria. E acho que se fizesse, a Mondy iria dar-me um sermão a toda a hora. Aposto que o Plutão está a ouvir um sermão da Mel neste momento.
- Ainda bem... Acho que tens razão - bocejou.
- Não queres ir para a cama?
- Não... - respondeu com outro bocejo.
- Anda lá.
Mercúrio pegou-a ao colo com facilidade. Melody estava quase a dormir. Entrou em casa, abrindo a porta da cozinha com os pés e subindo as escadas com cuidado. A porta do quarto das gémeas estava entreaberta mas nem a Violet nem a Luna lá estavam. Foi ter ao quarto do casal e ambas estavam lá enroladas nos lençóis. Luna acordou nada surpreendida por ver a sua filha mais nova no colo de Mercúrio.
- Ela nunca adormece sozinha depois da Violet dormir - disse, com a voz rouca.
- Pois, já soube - pousou-a ao lado da irmã. Violet quase de imediato se virou ficando o mais próximo possível da gémea.
Luna levantou-se, puxou os cobertores para cima delas e saiu do quarto com o Planeta.
- Os Evans estão lá em baixo?
- Sim. Mas talvez seja melhor irem-se embora.
- Não sejas assim. O Sol já lhes contou o que se passou?
- Já.
Ouviram despedidas e a porta da frente a abrir-se. Os dois foram para o corredor das escadas inclinando-se para ver o que acontecia no hall. Os Evans, bem como a Catarina, estavam a sair da casa. Sol disse-lhes que telefonava mais logo e fechou a porta. Os seus olhos cor de âmbar encontraram logo os de Luna. Ele subiu enquanto Mercúrio descia. Luna abraçou-o e Sol foi para o quarto.
- Jade, se não te importares vou precisar da tua ajuda para fazer o jantar - disse, a limpar o olhos.
- Claro. Tenho de ir visitar o Júpiter e ver se está tudo bem primeiro. Devo aparecer daqui a uma hora - Luna assentiu sorrindo. - Até já - e desapareceu na sua luz esmeralda.
- E vocês os dois, vão fazer o quê?
Úrano aproximou-se de Mercúrio colocando as mãos nos ombros dele.
- Estou a pensar em obrigar o Mercúrio a vir à praia comigo.
- Boa sorte que vais precisar - disse Luna, a dizer-lhes adeus e dirigindo-se para o quarto.
- Hum?
- Não.
- Eu também - acariciou-lhe o ombro passando a mão pelo cabelo.
- Não vais desaparecer como ele pois não?
Mercúrio percebeu logo o que ela quis dizer.
- Claro que não - abanou a cabeça. - Eu nunca vos deixaria. E acho que se fizesse, a Mondy iria dar-me um sermão a toda a hora. Aposto que o Plutão está a ouvir um sermão da Mel neste momento.
- Ainda bem... Acho que tens razão - bocejou.
- Não queres ir para a cama?
- Não... - respondeu com outro bocejo.
- Anda lá.
Mercúrio pegou-a ao colo com facilidade. Melody estava quase a dormir. Entrou em casa, abrindo a porta da cozinha com os pés e subindo as escadas com cuidado. A porta do quarto das gémeas estava entreaberta mas nem a Violet nem a Luna lá estavam. Foi ter ao quarto do casal e ambas estavam lá enroladas nos lençóis. Luna acordou nada surpreendida por ver a sua filha mais nova no colo de Mercúrio.
- Ela nunca adormece sozinha depois da Violet dormir - disse, com a voz rouca.
- Pois, já soube - pousou-a ao lado da irmã. Violet quase de imediato se virou ficando o mais próximo possível da gémea.
Luna levantou-se, puxou os cobertores para cima delas e saiu do quarto com o Planeta.
- Os Evans estão lá em baixo?
- Sim. Mas talvez seja melhor irem-se embora.
- Não sejas assim. O Sol já lhes contou o que se passou?
- Já.
Ouviram despedidas e a porta da frente a abrir-se. Os dois foram para o corredor das escadas inclinando-se para ver o que acontecia no hall. Os Evans, bem como a Catarina, estavam a sair da casa. Sol disse-lhes que telefonava mais logo e fechou a porta. Os seus olhos cor de âmbar encontraram logo os de Luna. Ele subiu enquanto Mercúrio descia. Luna abraçou-o e Sol foi para o quarto.
- Jade, se não te importares vou precisar da tua ajuda para fazer o jantar - disse, a limpar o olhos.
- Claro. Tenho de ir visitar o Júpiter e ver se está tudo bem primeiro. Devo aparecer daqui a uma hora - Luna assentiu sorrindo. - Até já - e desapareceu na sua luz esmeralda.
- E vocês os dois, vão fazer o quê?
Úrano aproximou-se de Mercúrio colocando as mãos nos ombros dele.
- Estou a pensar em obrigar o Mercúrio a vir à praia comigo.
- Boa sorte que vais precisar - disse Luna, a dizer-lhes adeus e dirigindo-se para o quarto.
- Hum?
- Não.
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