Underneath: Qaya #40
Catarina estava a sufocar com as mãos postas à volta do pescoço. Ryan estava a gritar e Júpiter parado a exercer cada vez mais força no controlo que tinha em Catarina. A nova personificação de Plutão conseguiu mover a mão até à altura do rosto. Os olhos de Júpiter estavam cegos pela raiva e determinação. Ryan abriu os dedos e da palma da sua mão direita saiu um disparo de energia que abalou completamente o homem à sua frente.
Júpiter retrocedeu e o controle sobre a Catarina caiu. Ryan foi ter com ela e ajudou-a a levantar-se.
- Nós temos de ir - disse ele.
Ela queria perguntar-lhe como ele tinha feito aquilo mas não conseguia pronunciar uma palavra.
Ryan tinha de colocar Catarina a salvo mas não sabia onde poderia ir. Ainda assim, deixou a luz azul acinzentada rodopiar em redor deles os dois. Foi nesse momento que viu quatro outras luzes a aparecer atrás de Júpiter.
- O que é que andas a fazer agora, Juju?
- Estava a perguntar-me quando iam aparecer. Pena não conseguirem ultrapassar a minha barreira - disse ele ao abrir os braços e revelando uma poderosa camada eléctrica por cima da casa da Catarina.
- Não me tentes, Júpiter - ameaçou Sol. A aura à volta dele reluziu honrando o seu nome.
Ele sorriu e fez-lhe uma vénia.
- Esteja à vontade, majestade.
- Sol, nem penses nisso - avisou Luna.
- Não te preocupes. Não penso tocar naquela barreira - apertou-lhe a mão.
A Estrela Vital avançou a ficou a cinco centímetros da barreira elétrica. Sol conseguia sentir a energia que irradiava daquela cúpula como mini trovões. Júpiter fitava-o do outro lado e atrás dele estavam Ryan e Catarina sentados no chão. A rapariga morena ainda debatia-se para respirar em condições.
- Lembra-te que não me deste outra opção.
Sol ergueu os braços com as mãos viradas para cima. O seu corpo começou a levitar e a brilhar. O seu espírito voou até ao espaço e ficou no seu local - o centro. Júpiter estava de frente para ele e com movimentos de braços, Sol enviou o espírito dele até ao espaço fazendo o Planeta surgir. Lentamente, Júpiter foi perdendo os seus sentidos e energia e foi nessa altura que percebeu o que a Estrela Vital estava a fazer.
- Sol, que pensas que estás a fazer comigo!?
- O que pensas que estás a fazer com estas crianças, Júpiter? O que pensas fazer ao Troy Evans, outra criança que não sabe nada acerca dos seus poderes e como lutar a Escuridão?
O tempo passava e ambos o Planeta e a personificação estavam a enfraquecer completamente. No espaço, o Planeta começava a desaparecer e a evaporar enquanto que na Terra, Júpiter estava caído no chão a perder a cor da pele, o brilho do azul dos seus olhos e o cabelo loiro. A barreira criada pelo maior Planeta do Sistema Solar já tinha desvanecido.
- Pede perdão, Júpiter. Pára de obcecar por coisas que não merecem obsessão.
- Ryan... O que é que lhe estão a fazer? - murmurou Catarina com a consciência recuperada.
- Não sei... Parece que ele está a morrer - respondeu-lhe.
- O quê? - ela levantou-se e logo sentiu uma tontura.
- Catarina, está quieta - ele puxou-a.
- Larga-me, Ry - ela levantou-se foi para mais perto de Júpiter.
- Caraças - resmungou e colocou-se ao lado dela. - Espero que saibas o que estás a fazer.
Ela não sabia mas não podia ficar parada.
Ela não sabia mas não podia ficar parada.
- Sol, pára com isto! - gritou. - Não achas que já chega?
A Estrela Vital nada disse. Os olhos cor de âmbar pareciam brancos de irradiar luz - todo o seu corpo irradiava luz. Terra, que estava do outro lado da barreira, gritou para a rapariga:
- Sai daí, Catarina!
- Vais matá-lo? - perguntou, ignorando a fala da Jade.
- Não - respondeu finalmente.
- Então pára com isto! Olha para ele! - Catarina indicou o homem moribundo dois metros à frente. Ela viu a pele dele a cair e a ficar em carne viva e cada vez mais parecia-se com um cadáver. - Ele já aprendeu a não desafiar-te.
- Estás a defendê-lo?
- Não estou a defendê-lo mas acho que a Violet e a Melody não queriam que o pai delas virasse um monstro.
Sol caiu duma altitude de 20 metros e aterrou com um joelho no chão apoiado pela mão direita. Luna teve a sensação de vê-lo assim uma outra vez à vinte anos atrás. A luz que irradiava dele desapareceu e Júpiter estremeceu.
- Obrigada - disse ela. Catarina virou-se para Júpiter que estava encolhido no chão. - E agora? O que vai acontecer-lhe?
- Vai ter de repousar porque está muito fraco - disse Jade que veio ter com ela. - No que estavas a pensar? Tiveste sorte que o Júpiter não explodiu. O teu pescoço - ela tocou no seu pescoço marcado.
- Não sei. Acho que ele mereceu o castigo do Sol mas estava a ser demais.
- Ainda bem que me paraste - Sol admitiu aproximando-se dela. - Temos de levá-lo para algum lugar. Terra?
- Tinha de sobrar para mim! - tirou as mãos do pescoço da rapariga e tomou atenção à Estrela. - Tudo bem, tudo bem. Só que se ele começar a chatear-me eu envio-o para a vossa casa sem pensar duas vezes, entendidos?
- Sim, Jade - Sol e Luna sorriram-lhe.
- Eu posso ajudar - ofereceu Catarina. - As aulas já terminaram para mim.
- Tens a certeza? - disse Ryan baixinho para ela.
- Tenho. Posso?
- Tens mesmo a certeza? O Juju vai ser a pessoa mais rabugenta quando acordar.
- Entre mim e ele, eu sou a pessoa mais rabugenta. Ele sabe isso.
- Pronto, por mim muito bem! Vai fazer-me bem uma companheira - disse Terra satisfeita.
Sol caiu duma altitude de 20 metros e aterrou com um joelho no chão apoiado pela mão direita. Luna teve a sensação de vê-lo assim uma outra vez à vinte anos atrás. A luz que irradiava dele desapareceu e Júpiter estremeceu.
- Obrigada - disse ela. Catarina virou-se para Júpiter que estava encolhido no chão. - E agora? O que vai acontecer-lhe?
- Vai ter de repousar porque está muito fraco - disse Jade que veio ter com ela. - No que estavas a pensar? Tiveste sorte que o Júpiter não explodiu. O teu pescoço - ela tocou no seu pescoço marcado.
- Não sei. Acho que ele mereceu o castigo do Sol mas estava a ser demais.
- Ainda bem que me paraste - Sol admitiu aproximando-se dela. - Temos de levá-lo para algum lugar. Terra?
- Tinha de sobrar para mim! - tirou as mãos do pescoço da rapariga e tomou atenção à Estrela. - Tudo bem, tudo bem. Só que se ele começar a chatear-me eu envio-o para a vossa casa sem pensar duas vezes, entendidos?
- Sim, Jade - Sol e Luna sorriram-lhe.
- Eu posso ajudar - ofereceu Catarina. - As aulas já terminaram para mim.
- Tens a certeza? - disse Ryan baixinho para ela.
- Tenho. Posso?
- Tens mesmo a certeza? O Juju vai ser a pessoa mais rabugenta quando acordar.
- Entre mim e ele, eu sou a pessoa mais rabugenta. Ele sabe isso.
- Pronto, por mim muito bem! Vai fazer-me bem uma companheira - disse Terra satisfeita.
◄◊►
- Temos de falar - disse-lhe Sol.
Atrás dele, Úrano e Mercúrio (Ryan quase riu na cara dos dois quando descobriu quem eram) tinham desaparecido numa luz roxa brilhante. Terra, Catarina e a mãe das gémeas estavam a conversar junto ao corpo desmaiado de Júpiter. Ryan estava a preparar-se para ir-se embora quando a Estrela Vital aproximou-se dele.
- O que se passa?
- Desde quando é que sabes que és a personificação de Plutão?
- Descobri hoje mesmo. Vocês sabiam?
- Não - respondeu. - Estás bem? - Sol pousou a mão no seu ombro.
- Estou - a pergunta dele surpreendeu-o mas ficou contente por saber que ele se preocupa. - Acho que sim.
- Porque voltaste? Aconteceu alguma coisa? As minhas filhas estão bem, Ryan? - a mão de Sol fez uma pequena pressão no seu ombro.
- Bem... Aaa... Mais ou menos? Por acaso dava jeito a vossa ajuda... - disse ele.
- O que aconteceu?
- Podemos falar disto amanhã? Eu preciso mesmo de ir para casa.
- Amanhã de manhã em minha casa sem falta, está bem? - os olhos do pai das gémeas brilharam.
- Sim, entendido.
Ele subiu na bicicleta, disse adeus e foi para casa. Quando se deitou na cama ele ficou a pensar na sua realidade: ele é a personificação de Plutão. O que é que isso significa sequer? Que responsabilidades tinha ele agora? Ryan não fazia nem a mais pálida ideia. A única certeza que tinha, no entanto, era que podia ajudar o Troy num outro nível. Agora, o seu melhor amigo podia deixar de se preocupar com ele. Ryan podia ajudar e no meio de todas as dúvidas ele viu uma faísca de esperança.
Ryan dormiu demasiado. Acordou quase eram uma da tarde. Já nem sabia que dia era na Terra. Virou-se para ver o relógio digital ao lado da cama e viu as iniciais de segunda-feira marcado por cima dos números doze e quarenta. Levantou-se e vestiu-se. Pegou nuns calções, numa t-shirt larga de alças azul acinzentada com um bolso, calçou os ténis e antes de sair, lavou os dentes, a cara e penteou-se. Montou a bicicleta e dirigiu-se para a casa dos Brown.
- Bom dia - disse quando Luna abriu-lhe a porta.
- Quase boa tarde - comentou a olhar para o relógio pequeno à volta do pulso. - Entra. Já almoçaste?
- Com licença. Não, ainda não comi nada.
- Acabaste de acordar, não foi? - adivinhou.
- Sim, por acaso - eles entraram na cozinha. Sol estava sentado num dos bancos do balcão da cozinha.
- Estás um bocadinho atrasado - comentou com um tom sério que fez Ryan ficar preocupado e um pouco assustado. Depois do que tinha visto na noite anterior não sabia exactamente o que esperar das novas pessoas que conhecera. - Estou só a brincar - disse ao reparar no rosto dele. - Luna, preciso de te dizer uma coisa.
- Diz - ela aproximou-se dele deixando o lado do Ryan.
Sol fitou Ryan por uns instantes antes de fixar os olhos na sua esposa.
- Luna... Aaa... - engoliu em seco e hesitou durante um bom bocado. Luna estava a ficar preocupada. - O Ryan é a nova personificação de...
Sol nem terminou a frase. Luna sorveu ar e tapou a boca. A mão sua livre fechou e apertou a t-shirt que ele vestia. Luna virou o rosto para o outro lado e fechou os olhos. Ela não queria chorar por nada deste mundo. O pai não merecia mais as lágrimas dela.
- Nós podemos falar com ele noutra altura. Não precisas de passar por isto agora - murmurou-lhe ao ouvido.
Luna abanou a cabeça e com o cabelo a dar-lhe cobertura abriu os olhos e limpou as lágrimas que não caíram.
- Estou bem - sorriu. Sol beijou-lhe a bochecha e ela apertou-lhe a mão. Virou-se para o Ryan. - Queres sentar-te? O almoço está quase pronto, podemos falar durante a refeição.
Ela foi para o outro lado do balcão e começou a cortar qualquer coisa. Sol foi ter com ele e indicou-lhe uma cadeira. Ambos sentaram-se.
- Está tudo bem? O que se passa? A Melody teve quase a mesma reacção. Eu fiz alguma coisa de errado?
- Como é que ela reagiu? E a Violet?
- Primeiro, quando a minha marca brilhou, elas e o Troy ficaram em choque. Depois ela parecia revoltada e triste e a Violet estava a consolá-la mas também estava muito mal. O que é que se passa?
- Isto não era para acontecer assim - murmurou. - Não é culpa tua, Ryan - ele olhou de fininho para a Luna. Estava furiosamente a cortar comida. - Já sabes como as coisas no nosso mundo funcionam, certo? - Ryan assentiu. - A personificação que te antecedeu era a Original e a primeira. Plutão era o pai da Luna. Não sei o que...
- Não faz mal, conta-lhe - ele ouviu Luna dizer na sua cabeça. Sabendo que Sol ia ter as suas dúvidas assegurou-lhe - Está tudo bem.
- A mãe da Luna morreu a dar à luz e Plutão abandonou-a. Vinte e um anos depois ele reapareceu e durante algum tempo agiu com um pai para ela mas depois voltou lentamente aos seus hábitos de solitário. Ficou muito sozinho e isolou-se. Nunca gostei da maneira como ele agia então desde sempre que avisei a Luna para não se surpreender com os dramas dele. Quando as nossas filhas nasceram ele voltou a estar mais presente mas nunca da mesma forma. Ele não conseguia superar a morte da mãe da Luna e fez todos os possíveis para voltar a estar com ela no Mundo dos Espíritos. Das duas, a Melody era a mais próxima dele e quando lhe contámos que ele tinha-se ido embora ela ficou muito triste. Não lhe chegámos a dizer que ele tinha decidido acabar com a vida dele aqui porque para além de elas serem demasiado novas para entender, isso iria afectá-las demasiado. Acho que a Violet apercebeu-se ao longo dos anos e a Melody decidiu ignorar. Acho que ela sempre esperou vê-lo a regressar pela porta da frente e isso nunca aconteceu.
Houve um silêncio enquanto Ryan pensava no que dizer e nas gémeas.
- Sem querer ofender, penso que vocês estão melhor sem ele.
Ryan desejou estar ao lado dela naquele momento. Ele e os pais delas partilhavam esse desejo.
- Mas porque sou eu o novo Plutão?
- Há várias razões... Tiveste alguma doença? - perguntou depois de pensar durante alguns momentos. - Uma que estivesse a matar-te ou a prejudicar-te severamente?
- Sim... Aa, hum, cancro - disse.
- O poder e parte da alma dele ao transferir-se para o teu corpo curou-te - explicou. Colocou a mão no ombro dele - Lamento que tenhas passado pelo que passaste. Eras um miúdo, não eras? - Ryan assentiu nervosamente. - Estás bem agora, a doença não te pode tocar mais.
- Ainda não acredito nisso - murmurou nervoso.
Sol fitou-o preocupado. O rapaz tinha os olhos azuis postos nas mãos que tremiam muito ligeiramente. Ali estava ele a dizer-lhe que podia deixar de se preocupar com a doença que assombrou-lhe a infância e a adolescência e mesmo assim, Ryan não conseguia fazer tal coisa. Sol não conseguia evitar a vontade de fazê-lo acreditar que estava tudo bem agora. Fez uma carícia no ombro dele antes de a tirar.
- O almoço está pronto - Ryan tomou atenção ao cheiro a lasanha no ar pela primeira vez. - Sol podes tirar isto do forno se faz favor?
- Sim - levantou-se.
- Ryan, vamos comer lá fora. O ambiente aqui está um pouco triste não achas? - Luna esticou o braço e quando ele se aproximou colocou-o à volta do braço dele.
- Acho - um sorriso subtil animou-lhe o rosto.
- Já estás tão crescido, que idade tens?
- Vou fazer dezoito - disse, mais confortável. Ele então descobriu de quem Melody herdara a curiosidade.
- Oh, mas não estás na turma do Troy?
- Estou sim. Em termos escolares estou no mesmo nível que ele porque tive um ano sem aulas.
Ela largou o braço dele e indicou-lhe a cadeira da ponta da mesa no alpendre. Da última vez que tinha lá estado não reparou na decoração delicada e no ambiente mágico daquele espaço como agora.
- Está muito diferente da última vez que cá tiveste não é? - Luna perguntou ao sentar-te na cadeira do lado esquerdo.
- Sim. Nem parece que houve luta alguma.
- Ainda bem. Assim quando vocês regressarem definitivamente vai estar tudo como se lembram.
Ryan queria responder-lhe que as coisas já não estão como eles - talvez somente ele - se lembram mas nada disse.
- Elas estão bem Ryan?
- Mais ou menos. Eu fui-me embora muito de repente. O Troy fez-me experimentar os poderes e sem querer saí de Qaya - explicou. - Contudo, quero voltar para lá ainda hoje.
- Luna, vai lá buscar os pratos e isso, por favor - disse ao abrir a porta com o pé. Ele carregava a travessa com duas luvas de cozinha às bolinhas e tinha um pano ao ombro.
Minutos depois estavam a comer a lasanha caseira com salada.
- Explica-nos o que se passa - pediu Sol.
- Quando chegámos em Qaya começámos à procura duma biblioteca que supostamente pode ajudar-nos a parar o Saeva. Entretanto, o Troy foi possuído pelo Saeva e a alma dele dividida em dois. Quando finalmente encontrámos a biblioteca a alma do Troy voltou a unir-se. Eu pensava que não podia mexer nos livros porque o Qaya disse que humanos não podiam tocar nas coisas e então o Troy, a Violet e a Melody ficaram a procurar qualquer coisa. O único obstáculo é que os livros estão escritos na língua de Qaya. Ele também disse que a biblioteca ia responder às nossas necessidades mas os livros continuam na mesma língua. O Troy faz anos daqui a uma semana e uns dias e não sabemos o que fazer.
- Não há maneira de destruir a Escuridão como não há maneira de destruir a Luz - começou. - O que me parece que está a acontecer é que o Troy não sabe o que é a sua luz. Parar o Saeva só vai ser possível quando o Troy acreditar que consegue. Disseste que a alma dele foi dividida em dois? - questionou Luna.
- Literalmente entre o bom e o mau Troy.
- O lado bom do Troy é demasiado forte para o Saeva e mesmo assim ele consegue possuí-lo porque o Troy vive com medo e ele não pode - disse Sol. - Enquanto o Saeva conseguir possuí-lo, acho que não há muito que possamos fazer.
- O Qaya disse que o Saeva não está na sua força total.
- É normal. A sua única fonte de poder era o Tema e ele morreu e a galáxia dele está fraca e frágil.
- Mas enquanto a galáxia for viva, o Saeva vai ter por onde se erguer. Especialmente com o Troy vivo e a alimentar os seus planetas.
- Então estão a dizer que temos de - fez sinal de aspas - "matar" a galáxia?
Sol e Luna entre-olharam-se. Sabiam a resposta à pergunta mas não a achavam correcta.
- Tenho a certeza que há outra solução - disse Luna, nervosa.
- E se não houver? Estão dispostos a matar uma galáxia? Há pessoas a viver em Qaya para não falar das personificações! - Ryan estava a ficar revoltado.
- Nós sabemos, Ryan - disse Luna. - Vamos encontrar outra solução. Ainda temos alguns dias.
- Acho que é altura de eu voltar.
- Espera. Fica aqui, por favor - ela levantou-se e entrou em casa.
Ryan voltou a sentar-se no seu lugar. Não conseguia suportar a ideia de matar as pessoas que viviam em Lymph. Só de imaginá-las mortas num ambiente destruído fazia-o questionar o que raio estava a fazer e com que pessoas estava a lidar.
- Nós não vamos matar ninguém, Ryan. De certeza que há outras maneiras de parar o Saeva. Foi só um pensamento, nada mais - assegurou-lhe Sol depois de ver o rosto chateado dele.
- Ryan? Podes levar-lhes estas roupas? - a voz da mãe das gémeas surgiu um pouco atrás de si. Ela segurava roupas dobradas e cheirosas.
- Posso - ela colocou-as num saco.
- Obrigada.
- Obrigado pelo almoço, estava óptimo.
- Eu levo-te à porta - Luna lançou um olhar a Sol e depois caminhou Ryan até à porta. - Espero que não fiques com uma ideia errada de nós. O que dissemos foi...
- Eu sei, desculpem. Eu estou chateado com a ideia não com vocês. De certeza que há outra maneira.
- Sim.
- Obrigado outra vez - ele deu-lhe um abraço rápido.
- Espero ver-te outra vez são e salvo com as minhas meninas e o Troy - disse ela.
- Eu também - sorriu e colocou-se na bicicleta.
Luna acenou-lhe adeus e Ryan pedalou até casa.
◄◊►
Ryan dormiu demasiado. Acordou quase eram uma da tarde. Já nem sabia que dia era na Terra. Virou-se para ver o relógio digital ao lado da cama e viu as iniciais de segunda-feira marcado por cima dos números doze e quarenta. Levantou-se e vestiu-se. Pegou nuns calções, numa t-shirt larga de alças azul acinzentada com um bolso, calçou os ténis e antes de sair, lavou os dentes, a cara e penteou-se. Montou a bicicleta e dirigiu-se para a casa dos Brown.
- Bom dia - disse quando Luna abriu-lhe a porta.
- Quase boa tarde - comentou a olhar para o relógio pequeno à volta do pulso. - Entra. Já almoçaste?
- Com licença. Não, ainda não comi nada.
- Acabaste de acordar, não foi? - adivinhou.
- Sim, por acaso - eles entraram na cozinha. Sol estava sentado num dos bancos do balcão da cozinha.
- Estás um bocadinho atrasado - comentou com um tom sério que fez Ryan ficar preocupado e um pouco assustado. Depois do que tinha visto na noite anterior não sabia exactamente o que esperar das novas pessoas que conhecera. - Estou só a brincar - disse ao reparar no rosto dele. - Luna, preciso de te dizer uma coisa.
- Diz - ela aproximou-se dele deixando o lado do Ryan.
Sol fitou Ryan por uns instantes antes de fixar os olhos na sua esposa.
- Luna... Aaa... - engoliu em seco e hesitou durante um bom bocado. Luna estava a ficar preocupada. - O Ryan é a nova personificação de...
Sol nem terminou a frase. Luna sorveu ar e tapou a boca. A mão sua livre fechou e apertou a t-shirt que ele vestia. Luna virou o rosto para o outro lado e fechou os olhos. Ela não queria chorar por nada deste mundo. O pai não merecia mais as lágrimas dela.
- Nós podemos falar com ele noutra altura. Não precisas de passar por isto agora - murmurou-lhe ao ouvido.
Luna abanou a cabeça e com o cabelo a dar-lhe cobertura abriu os olhos e limpou as lágrimas que não caíram.
- Estou bem - sorriu. Sol beijou-lhe a bochecha e ela apertou-lhe a mão. Virou-se para o Ryan. - Queres sentar-te? O almoço está quase pronto, podemos falar durante a refeição.
Ela foi para o outro lado do balcão e começou a cortar qualquer coisa. Sol foi ter com ele e indicou-lhe uma cadeira. Ambos sentaram-se.
- Está tudo bem? O que se passa? A Melody teve quase a mesma reacção. Eu fiz alguma coisa de errado?
- Como é que ela reagiu? E a Violet?
- Primeiro, quando a minha marca brilhou, elas e o Troy ficaram em choque. Depois ela parecia revoltada e triste e a Violet estava a consolá-la mas também estava muito mal. O que é que se passa?
- Isto não era para acontecer assim - murmurou. - Não é culpa tua, Ryan - ele olhou de fininho para a Luna. Estava furiosamente a cortar comida. - Já sabes como as coisas no nosso mundo funcionam, certo? - Ryan assentiu. - A personificação que te antecedeu era a Original e a primeira. Plutão era o pai da Luna. Não sei o que...
- Não faz mal, conta-lhe - ele ouviu Luna dizer na sua cabeça. Sabendo que Sol ia ter as suas dúvidas assegurou-lhe - Está tudo bem.
- A mãe da Luna morreu a dar à luz e Plutão abandonou-a. Vinte e um anos depois ele reapareceu e durante algum tempo agiu com um pai para ela mas depois voltou lentamente aos seus hábitos de solitário. Ficou muito sozinho e isolou-se. Nunca gostei da maneira como ele agia então desde sempre que avisei a Luna para não se surpreender com os dramas dele. Quando as nossas filhas nasceram ele voltou a estar mais presente mas nunca da mesma forma. Ele não conseguia superar a morte da mãe da Luna e fez todos os possíveis para voltar a estar com ela no Mundo dos Espíritos. Das duas, a Melody era a mais próxima dele e quando lhe contámos que ele tinha-se ido embora ela ficou muito triste. Não lhe chegámos a dizer que ele tinha decidido acabar com a vida dele aqui porque para além de elas serem demasiado novas para entender, isso iria afectá-las demasiado. Acho que a Violet apercebeu-se ao longo dos anos e a Melody decidiu ignorar. Acho que ela sempre esperou vê-lo a regressar pela porta da frente e isso nunca aconteceu.
Houve um silêncio enquanto Ryan pensava no que dizer e nas gémeas.
- Sem querer ofender, penso que vocês estão melhor sem ele.
Ryan desejou estar ao lado dela naquele momento. Ele e os pais delas partilhavam esse desejo.
- Mas porque sou eu o novo Plutão?
- Há várias razões... Tiveste alguma doença? - perguntou depois de pensar durante alguns momentos. - Uma que estivesse a matar-te ou a prejudicar-te severamente?
- Sim... Aa, hum, cancro - disse.
- O poder e parte da alma dele ao transferir-se para o teu corpo curou-te - explicou. Colocou a mão no ombro dele - Lamento que tenhas passado pelo que passaste. Eras um miúdo, não eras? - Ryan assentiu nervosamente. - Estás bem agora, a doença não te pode tocar mais.
- Ainda não acredito nisso - murmurou nervoso.
Sol fitou-o preocupado. O rapaz tinha os olhos azuis postos nas mãos que tremiam muito ligeiramente. Ali estava ele a dizer-lhe que podia deixar de se preocupar com a doença que assombrou-lhe a infância e a adolescência e mesmo assim, Ryan não conseguia fazer tal coisa. Sol não conseguia evitar a vontade de fazê-lo acreditar que estava tudo bem agora. Fez uma carícia no ombro dele antes de a tirar.
- O almoço está pronto - Ryan tomou atenção ao cheiro a lasanha no ar pela primeira vez. - Sol podes tirar isto do forno se faz favor?
- Sim - levantou-se.
- Ryan, vamos comer lá fora. O ambiente aqui está um pouco triste não achas? - Luna esticou o braço e quando ele se aproximou colocou-o à volta do braço dele.
- Acho - um sorriso subtil animou-lhe o rosto.
- Já estás tão crescido, que idade tens?
- Vou fazer dezoito - disse, mais confortável. Ele então descobriu de quem Melody herdara a curiosidade.
- Oh, mas não estás na turma do Troy?
- Estou sim. Em termos escolares estou no mesmo nível que ele porque tive um ano sem aulas.
Ela largou o braço dele e indicou-lhe a cadeira da ponta da mesa no alpendre. Da última vez que tinha lá estado não reparou na decoração delicada e no ambiente mágico daquele espaço como agora.
- Está muito diferente da última vez que cá tiveste não é? - Luna perguntou ao sentar-te na cadeira do lado esquerdo.
- Sim. Nem parece que houve luta alguma.
- Ainda bem. Assim quando vocês regressarem definitivamente vai estar tudo como se lembram.
Ryan queria responder-lhe que as coisas já não estão como eles - talvez somente ele - se lembram mas nada disse.
- Elas estão bem Ryan?
- Mais ou menos. Eu fui-me embora muito de repente. O Troy fez-me experimentar os poderes e sem querer saí de Qaya - explicou. - Contudo, quero voltar para lá ainda hoje.
- Luna, vai lá buscar os pratos e isso, por favor - disse ao abrir a porta com o pé. Ele carregava a travessa com duas luvas de cozinha às bolinhas e tinha um pano ao ombro.
Minutos depois estavam a comer a lasanha caseira com salada.
- Explica-nos o que se passa - pediu Sol.
- Quando chegámos em Qaya começámos à procura duma biblioteca que supostamente pode ajudar-nos a parar o Saeva. Entretanto, o Troy foi possuído pelo Saeva e a alma dele dividida em dois. Quando finalmente encontrámos a biblioteca a alma do Troy voltou a unir-se. Eu pensava que não podia mexer nos livros porque o Qaya disse que humanos não podiam tocar nas coisas e então o Troy, a Violet e a Melody ficaram a procurar qualquer coisa. O único obstáculo é que os livros estão escritos na língua de Qaya. Ele também disse que a biblioteca ia responder às nossas necessidades mas os livros continuam na mesma língua. O Troy faz anos daqui a uma semana e uns dias e não sabemos o que fazer.
- Não há maneira de destruir a Escuridão como não há maneira de destruir a Luz - começou. - O que me parece que está a acontecer é que o Troy não sabe o que é a sua luz. Parar o Saeva só vai ser possível quando o Troy acreditar que consegue. Disseste que a alma dele foi dividida em dois? - questionou Luna.
- Literalmente entre o bom e o mau Troy.
- O lado bom do Troy é demasiado forte para o Saeva e mesmo assim ele consegue possuí-lo porque o Troy vive com medo e ele não pode - disse Sol. - Enquanto o Saeva conseguir possuí-lo, acho que não há muito que possamos fazer.
- O Qaya disse que o Saeva não está na sua força total.
- É normal. A sua única fonte de poder era o Tema e ele morreu e a galáxia dele está fraca e frágil.
- Mas enquanto a galáxia for viva, o Saeva vai ter por onde se erguer. Especialmente com o Troy vivo e a alimentar os seus planetas.
- Então estão a dizer que temos de - fez sinal de aspas - "matar" a galáxia?
Sol e Luna entre-olharam-se. Sabiam a resposta à pergunta mas não a achavam correcta.
- Tenho a certeza que há outra solução - disse Luna, nervosa.
- E se não houver? Estão dispostos a matar uma galáxia? Há pessoas a viver em Qaya para não falar das personificações! - Ryan estava a ficar revoltado.
- Nós sabemos, Ryan - disse Luna. - Vamos encontrar outra solução. Ainda temos alguns dias.
- Acho que é altura de eu voltar.
- Espera. Fica aqui, por favor - ela levantou-se e entrou em casa.
Ryan voltou a sentar-se no seu lugar. Não conseguia suportar a ideia de matar as pessoas que viviam em Lymph. Só de imaginá-las mortas num ambiente destruído fazia-o questionar o que raio estava a fazer e com que pessoas estava a lidar.
- Nós não vamos matar ninguém, Ryan. De certeza que há outras maneiras de parar o Saeva. Foi só um pensamento, nada mais - assegurou-lhe Sol depois de ver o rosto chateado dele.
- Ryan? Podes levar-lhes estas roupas? - a voz da mãe das gémeas surgiu um pouco atrás de si. Ela segurava roupas dobradas e cheirosas.
- Posso - ela colocou-as num saco.
- Obrigada.
- Obrigado pelo almoço, estava óptimo.
- Eu levo-te à porta - Luna lançou um olhar a Sol e depois caminhou Ryan até à porta. - Espero que não fiques com uma ideia errada de nós. O que dissemos foi...
- Eu sei, desculpem. Eu estou chateado com a ideia não com vocês. De certeza que há outra maneira.
- Sim.
- Obrigado outra vez - ele deu-lhe um abraço rápido.
- Espero ver-te outra vez são e salvo com as minhas meninas e o Troy - disse ela.
- Eu também - sorriu e colocou-se na bicicleta.
Luna acenou-lhe adeus e Ryan pedalou até casa.
◄◊►
Ryan telefonou à mãe a dizer que ia passar o dia e talvez dormir na casa dos Evans. Ela não gostou muito da ideia mas deixou. Logo depois ele concentrou-se e deixou o seu misterioso poder rodeá-lo e levá-lo para outra galáxia.
O brilho da biblioteca fez os seus olhos arderem um pouco e fecharem.
- Troy? Voltei! Melody, Violet, trouxe roupas lavadas - disse e começou a caminhar à volta.
Os seus olhos começaram a habituar-se ao luminoso ambiente e assim que se focaram ele viu algo preto aproximar-se velozmente. Ele tapou o rosto com o antebraço e deixou o saco cair.
Como se estivesse num escorrega, Ryan estava a descer e a descer num caminho curvilíneo, torto e confuso. Os seus olhos nada viam naquele espaço completamente preto. Estava tão escuro que sentia ser apenas uma voz andante sem corpo. Parecia um sonho. Então quando um pequeno fio de luz apareceu e iluminou três corpos, ele foi atingido na cabeça e tudo voltou a ser negro.
O brilho da biblioteca fez os seus olhos arderem um pouco e fecharem.
- Troy? Voltei! Melody, Violet, trouxe roupas lavadas - disse e começou a caminhar à volta.
Os seus olhos começaram a habituar-se ao luminoso ambiente e assim que se focaram ele viu algo preto aproximar-se velozmente. Ele tapou o rosto com o antebraço e deixou o saco cair.
Como se estivesse num escorrega, Ryan estava a descer e a descer num caminho curvilíneo, torto e confuso. Os seus olhos nada viam naquele espaço completamente preto. Estava tão escuro que sentia ser apenas uma voz andante sem corpo. Parecia um sonho. Então quando um pequeno fio de luz apareceu e iluminou três corpos, ele foi atingido na cabeça e tudo voltou a ser negro.
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