Underneath #41
Lentamente abriu os olhos. Tinha a visão turva e uma dor de cabeça terrível. As imagens nubladas mexiam num espaço que ele não conhecia. Tentou mexer-se mas sentiu as mãos atadas atrás das costas. Os pés também estavam atados. Ele ouviu sons abafados e olhou em volta com a visão finalmente normal. Violet, também presa, alertava-o para algo com os olhos bem abertos. Ryan olhou em volta e viu Troy e Melody também presos por uma corda negra nas mesmas condições que ele. O melhor amigo olhou para ele com o semblante carregado e preocupação. Uma sombra preta surgiu por cima dele.
- Decidiste voltar, Plutão? - disse uma voz sinistra sem corpo.
- Onde nos meteste, Saeva? - perguntou Troy com uma clara raiva nos seus olhos.
A sombra moveu-se e Violet, Troy e Ryan ficaram à procura do corpo fantasmagórico da criatura. Os olhos azuis de Ryan deixaram de perseguir o rasto do monstro e fitaram o corpo imóvel de Melody. A irmã estava um pouco mais à frente dela a dar-lhe protecção. Melody estava tão quieta que parecia estar inconsciente. Provavelmente estava mas Ryan esperava que ela estivesse apenas adormecida.
- Parece que desapareceu outra vez - Troy supôs. - Ryan, estás bem?
- Estou mas a dói-me imenso a cabeça. O que aconteceu?
A personificação de Plutão olhou à volta. Não havia paredes ou portas ou qualquer vestígio de uma construção. No entanto, existia claramente um chão e as paredes pareciam ser feitas de tecido ondulante preto. A luz surgia algures do tecto infinito.
- Não sei bem. Saímos da biblioteca para apanhar ar e ver se a Eve ainda estava pelo jardim e de repente fomos levados até aqui. Foi como se uma onde enorme nos tivesse sugado e depois levámos uma pancada na cabeça.
- Há quanto tempo vocês estão aqui? Evans... os dias...
- Não sabemos - desviou o olhar e o seu semblante ficou carregado de novo. Ryan quase conseguia ver o peso que Troy sentia por cima dos ombros.
- Eu fui falar com a Catarina e os teus pais, Violet - disse ele.
- A Catarina? - a atenção dele mudou completamente. - Ela está bem?
- Mais ou menos. Está bem agora. Ela tinha Júpiter atrás dela por tua causa - explicou um pouco constrangido.
Troy arrependeu-se ainda mais de a ter levado para a Terra. As saudades que sentia dela aumentaram assim como a preocupação. Ele quase que sentia os braços dela, morenos e quentes, à sua volta e logo em seguida um ar gélido à volta dele ao dar-se conta das palavras do Ryan. Fora ele próprio que causara aquele ar gélido que afastou-a de si.
- Ele magoou-a? - Ryan não respondeu ao lembrar-se dela a sufocar. - Bennett!?
- Ela está bem agora, Evans, a sério - insistiu ele.
Ele sentia os nervos a percorrem-lhe a espinha. Ele queria tanto voltar que começou a forçar as cordas que o prendiam. Como se tivessem vida, elas atacaram-no a ele e Troy sabia que sangrava dos pulsos. Violet olhou para ele preocupada e Troy logo desviou o olhar e escondeu mais a mãos atrás das suas costas.
-Então, fui falar com a Luaa... Luna, sim, e o Sol. Eles disseram-me que tu sozinho consegues parar o Saeva. Eu contei-lhes o que aconteceu e eles concordam que a tua parte boa é demasiado forte para o Saeva. A única coisa que te impede é que pensas não ser capaz de derrotá-lo, hum, tens demasiado medo e isso faz com que o Saeva consiga encontrar uma maneira de te possuir.
- Soa mais fácil do que é.
- Tu vais conseguir - replicou Violet.
- Eles também me disseram que esta galáxia dá energia ao Saeva e que enquanto existir tu nunca vais estar livre dele, Troy.
- O que queres dizer? - perguntou ele, com a atenção ligeiramente desviada de Catarina.
- O Troy tem de tirar a vida desta galáxia - respondeu Melody a bocejar.
- Mel. Sentes-te bem?
- Sim, Vi. Dói-me só a cabeça - ela sentou-se com alguma dificuldade. - Nada melhor do que ter as mãos e os pés atados e um braço dormente - ela debateu-se em encontrar uma posição confortável. - Como é que vocês estão a aguentar isto?
- Não estamos - disse Troy e virou-se mais para o lado, isolando-se um pouco.
Houve um grande silêncio e Melody ficou finalmente quieta no seu lugar ao lado da irmã. Ela não tinha estado inconsciente aquele tempo todo. O avô e os pais circularam a mente dele na maior parte do tempo. Melody sabia que ele tinha desaparecido e ao longo dos anos percebeu que ele não iria voltar mas algo sempre lhe disse que isso não era verdade. Plutão haveria de regressar e parece que até foi isso que aconteceu. Não foi exactamente o Plutão que ela pediu mas talvez seja para o melhor. Ainda assim, Melody não entendia como é que ele tinha sido capaz de abandoná-la.
Ela olhou para Ryan muito subtilmente. Parecia que tinha saído dum catálogo de praia com as roupas que vestia. A t-shirt de alças caia-lhe pelo torso e o cabelo estava perfeitamente arranjado. Ele deve ter aproveitado para tomar um banho de espuma demorado e cheiroso, depois deitou-se na cama e teve o seu sono de beleza. Ryan encontrou o olhar dela. Melody começou a corar até ficar da cor de um tomate pois já não estava a olhar para ele subtilmente. Ela começou a pensar em algo para dizer mas só ficava mais encarnada e atrapalhada.
- Está tudo bem? - perguntou ele. Melody achou por momentos que ele dirigia-se só a si. - O vosso pai contou-me porque é que vocês ficaram tão mal.
O rapaz falou no plural mas os seus olhos azuis fitavam somente a personificação de Marte.
- Como é que eles estão? - perguntou Violet com saudade.
- Bem, dado em conta as circunstâncias. A tua mãe deu-me um saco de roupas para vocês - fitou a outra gémea. - Mas isso deve estar perdido agora. Estive lá nem um dia e já conheci quase toda a gente da galáxia.
- O quê? O que se passa para estarem os Planetas na Terra?
- Vá lá, Mel... É preciso perguntar?
- Oh, pois... - Melody sentiu-se parva por não ter ligado logo os pontos. - Mas viste quem?
- Mercúrio, Úrano, que já agora tem a maior crista da história, a Terra e o Júpiter. Eles não são nada como imaginava - comentou.
- Como os imaginavas, Ryan? - perguntou Saeva. - Mais baixos? Menos exuberantes? Mais poderosos?
A atenção de Troy voltou para o que se passava à sua frente. O corpo fantasmagórico e demoníaco do espírito da Escuridão voou por cima deles com os olhos a mudar de cor em cada movimento. Os seus dentes brilhavam no sorriso convencido.
- O que vais fazer agora, Saeva? - perguntou a reencarnação de Aaro Alexander.
- Nada. Graças à tua vinda a Lymph, os dias passam a voar e é só uma questão de tempo para o teu aniversário chegar, pequeno Alexander. Depois de tudo o que passámos, seria uma pena perder agora, não achas?
- Deixa-os ir. Só precisas de mim.
- Não, não. Sabes, pequeno Alexander, se eu os libertar, eles vão trazer o papá e a mamã. Não quero isso. Portanto, vocês ficam juntos. E não vale a pena tentaram libertar-se das minhas cordas, elas mordem - abriu mais a boca num sorriso afiado e horroroso. A sua sombra dispersou-se e eles ficaram sozinhos de novo, à espera.
- Há quanto tempo vocês estão aqui? Evans... os dias...
- Não sabemos - desviou o olhar e o seu semblante ficou carregado de novo. Ryan quase conseguia ver o peso que Troy sentia por cima dos ombros.
- Eu fui falar com a Catarina e os teus pais, Violet - disse ele.
- A Catarina? - a atenção dele mudou completamente. - Ela está bem?
- Mais ou menos. Está bem agora. Ela tinha Júpiter atrás dela por tua causa - explicou um pouco constrangido.
Troy arrependeu-se ainda mais de a ter levado para a Terra. As saudades que sentia dela aumentaram assim como a preocupação. Ele quase que sentia os braços dela, morenos e quentes, à sua volta e logo em seguida um ar gélido à volta dele ao dar-se conta das palavras do Ryan. Fora ele próprio que causara aquele ar gélido que afastou-a de si.
- Ele magoou-a? - Ryan não respondeu ao lembrar-se dela a sufocar. - Bennett!?
- Ela está bem agora, Evans, a sério - insistiu ele.
Ele sentia os nervos a percorrem-lhe a espinha. Ele queria tanto voltar que começou a forçar as cordas que o prendiam. Como se tivessem vida, elas atacaram-no a ele e Troy sabia que sangrava dos pulsos. Violet olhou para ele preocupada e Troy logo desviou o olhar e escondeu mais a mãos atrás das suas costas.
-Então, fui falar com a Luaa... Luna, sim, e o Sol. Eles disseram-me que tu sozinho consegues parar o Saeva. Eu contei-lhes o que aconteceu e eles concordam que a tua parte boa é demasiado forte para o Saeva. A única coisa que te impede é que pensas não ser capaz de derrotá-lo, hum, tens demasiado medo e isso faz com que o Saeva consiga encontrar uma maneira de te possuir.
- Soa mais fácil do que é.
- Tu vais conseguir - replicou Violet.
- Eles também me disseram que esta galáxia dá energia ao Saeva e que enquanto existir tu nunca vais estar livre dele, Troy.
- O que queres dizer? - perguntou ele, com a atenção ligeiramente desviada de Catarina.
- O Troy tem de tirar a vida desta galáxia - respondeu Melody a bocejar.
- Mel. Sentes-te bem?
- Sim, Vi. Dói-me só a cabeça - ela sentou-se com alguma dificuldade. - Nada melhor do que ter as mãos e os pés atados e um braço dormente - ela debateu-se em encontrar uma posição confortável. - Como é que vocês estão a aguentar isto?
- Não estamos - disse Troy e virou-se mais para o lado, isolando-se um pouco.
Houve um grande silêncio e Melody ficou finalmente quieta no seu lugar ao lado da irmã. Ela não tinha estado inconsciente aquele tempo todo. O avô e os pais circularam a mente dele na maior parte do tempo. Melody sabia que ele tinha desaparecido e ao longo dos anos percebeu que ele não iria voltar mas algo sempre lhe disse que isso não era verdade. Plutão haveria de regressar e parece que até foi isso que aconteceu. Não foi exactamente o Plutão que ela pediu mas talvez seja para o melhor. Ainda assim, Melody não entendia como é que ele tinha sido capaz de abandoná-la.
Ela olhou para Ryan muito subtilmente. Parecia que tinha saído dum catálogo de praia com as roupas que vestia. A t-shirt de alças caia-lhe pelo torso e o cabelo estava perfeitamente arranjado. Ele deve ter aproveitado para tomar um banho de espuma demorado e cheiroso, depois deitou-se na cama e teve o seu sono de beleza. Ryan encontrou o olhar dela. Melody começou a corar até ficar da cor de um tomate pois já não estava a olhar para ele subtilmente. Ela começou a pensar em algo para dizer mas só ficava mais encarnada e atrapalhada.
- Está tudo bem? - perguntou ele. Melody achou por momentos que ele dirigia-se só a si. - O vosso pai contou-me porque é que vocês ficaram tão mal.
O rapaz falou no plural mas os seus olhos azuis fitavam somente a personificação de Marte.
- Como é que eles estão? - perguntou Violet com saudade.
- Bem, dado em conta as circunstâncias. A tua mãe deu-me um saco de roupas para vocês - fitou a outra gémea. - Mas isso deve estar perdido agora. Estive lá nem um dia e já conheci quase toda a gente da galáxia.
- O quê? O que se passa para estarem os Planetas na Terra?
- Vá lá, Mel... É preciso perguntar?
- Oh, pois... - Melody sentiu-se parva por não ter ligado logo os pontos. - Mas viste quem?
- Mercúrio, Úrano, que já agora tem a maior crista da história, a Terra e o Júpiter. Eles não são nada como imaginava - comentou.
- Como os imaginavas, Ryan? - perguntou Saeva. - Mais baixos? Menos exuberantes? Mais poderosos?
A atenção de Troy voltou para o que se passava à sua frente. O corpo fantasmagórico e demoníaco do espírito da Escuridão voou por cima deles com os olhos a mudar de cor em cada movimento. Os seus dentes brilhavam no sorriso convencido.
- O que vais fazer agora, Saeva? - perguntou a reencarnação de Aaro Alexander.
- Nada. Graças à tua vinda a Lymph, os dias passam a voar e é só uma questão de tempo para o teu aniversário chegar, pequeno Alexander. Depois de tudo o que passámos, seria uma pena perder agora, não achas?
- Deixa-os ir. Só precisas de mim.
- Não, não. Sabes, pequeno Alexander, se eu os libertar, eles vão trazer o papá e a mamã. Não quero isso. Portanto, vocês ficam juntos. E não vale a pena tentaram libertar-se das minhas cordas, elas mordem - abriu mais a boca num sorriso afiado e horroroso. A sua sombra dispersou-se e eles ficaram sozinhos de novo, à espera.
◄◊►
Durante o pequeno-almoço acelerado, Catarina certificou-se mais uma vez de que a mãe não tinha ouvido nada na noite anterior. Graças à Jade ela não tinha marcas no pescoço para contarem a história mas o corpo doía-lhe todo. Durante a noite ao rever os acontecimentos pensou que o sucedido tinha sido um sonho muito perturbado mas o corpo dizia-lhe a verdade com qualquer movimento. As imagens continuavam a passar à frente dos seus olhos: Sol a brilhar, Ryan a tremer um pouco ao seu lado e Júpiter moribundo no chão. Onde é que ela se tinha metido? Catarina não estava certa de ter feito as coisas como devia mas não se arrependia de ter entrado no mundo em que Troy a negou. Não, Catarina, ele não te negou este mundo. Ele tentou proteger-te dele e com razão, corrigiu-se. Continuava zangada com ele mas esse sentimento ia diminuindo a cada segundo que passava pois outro muito mais forte se sobrepunha a qualquer outro.
Catarina virou-se para o outro lado da cama e apertou a almofada.
A manhã estava quase a nascer e ela ainda gostava imenso dele. Apesar de ter a certeza que ele não a iria amar para sempre ainda esperava que algo em Troy vivesse por ela.
- Eu preciso de dormir - disse ela para si a fartar-se dos pensamentos que ocuparam a mente dela durante a noite. - É melhor ir comer.
Ela levantou-se da cama e foi direita à cozinha. Colocou leite e cereais numa taça e ligou o computador. Enrolou-se numa manta do sofá e começou a ver um episódio duma série. Passado vinte minutos, ela tinha adormecido.
Quando olhou para o relógio, este marcava as três da tarde. O seu estômago implorava por comida e o ronronar do gato Tufas era o único som na casa toda. Ela obrigou-se a tomar um banho, vestir-se e comer. Assim que ficou pronta ponderou onde poderia ir e o rosto de Ryan saltou-lhe na mente. Ela nem considerou telefonar-lhe. Simplesmente pegou na bicicleta e pedalou até à casa dele. Dois minutos depois, ela estava à porta. Bateu e bateu e ninguém abriu. Foi até à porta das traseiras, que estava aberta, e entrou. Ryan devia estar a dormir.
Ela saiu da cozinha grande e do corredor entre o hall, a sala de jantar, estar, e a escadaria para os quartos. Subiu as escadas pelo lado direito e bateu na porta do quarto do amigo.
- Ryan, sou eu, posso entrar? Não me digas que estás a dormir ainda. - Silêncio. - Vou entrar. Não quero saber se estás a dormir nu.
Ela entrou e encontrou o quarto vazio. Desarrumado mas vazio. O único som era a sua respiração. Estava sozinha na casa dos Bennett.
- Será que ele se foi embora sem me dizer nada? Mas como... - Ela lembrou-se dele a manejar os poderes dum Planeta. Ela abanou a cabeça enquanto começava a sentir um misto de emoções a atravessarem-lhe. Os punhos fecharam e abriram-se e ela resmungou. - Vou-me embora de Lymph e de repente do Ryan ganha poderes? Não consigo acreditar nisto... É melhor eu ir-me embora antes que os pais dele cheguem.
Catarina saiu pela porta das traseiras e deu-se de caras com Jade e a sua luz esmeralda. Desta vez, tinha o cabelo negro liso numa trança e os olhos já não tinham a cor verde do costume mas sim negros. Vestia uma saia estilo hippie com um top branco.
- Estás pronta? Espero não ter vindo em má altura.
- Estou - Jade estendeu-lhe a mão e Catarina foi ter com ela. - Adoro o teu cabelo, já agora.
- Muito obrigada - sorriu. - Sinceramente estava num dia péssimo de cabelo mas depois lembrei-me que posso fazer isto - estalou os dedos e o seu cabelo voltou aos volumosos caracóis -, e ele fica exactamente como quero. - Estalou os dedos de novo e o cabelo alisou numa traça negra.
- Quem me dera - suspirou Catarina.
A luz esmeralda da Terra envolveu-as e foram transportadas para a entrada da casa da representação. Catarina, primeiramente, não percebeu porque estavam à frente duma gigantesca árvore que devia ter uns bons anos. Só depois do seu olhar subir é que viu a casa de Jade. Suportada principalmente pela árvore à sua frente, a casa também se apoiava noutras mais próximas interligando-se por pontes de corda e madeira ou pavimentos mais elaborados. Todos os telhados eram redondos e cada complexo diferenciava no tamanho. Feitos de madeira e rodeados de natureza, cada um tinha um toque diferente, como se tivessem a sua própria função. Ela obrigou-se a respirar porque até então tinha sustido o fôlego.
- Alguém me belisque - murmurou. - Tu vives aqui? E tens acesso a Internet? Como funciona as coisas com electricidade?
- Como em qualquer outra casa - disse Jade a sorrir. - Mas o Júpiter por acaso ajudou-me nesse aspecto.
Jade levantou a mão e as duas foram elevadas do chão por um bloco de terra como um elevador. Subiram até à entrada da casa principal que ficava rodeada por um cercado de madeira. Com cuidado, Catarina colocou o pé no chão da casa e apoiou-se no cercado para ter certeza que não caia. Deu espaço para a Jade ir à sua frente e vislumbrou a vista que aquela altura proporcionava. Não conseguia ver para além das copas altas e grandiosas das árvores mas a natureza em redor brilhava e resplandecia com cada raio de luz e brisa. O ar puro e fresco limpava os pulmões sufocados dela e os pequenos animais que se esgueiravam de tronco em tronco davam-lhe uma sensação de paz de espírito e felicidade inexplicáveis. Aquele lugar emanava paz e calma e Catarina sentia-se tudo menos indiferente.
- Catarina?
- Hum? - ela viu Jade a segurar-lhe a porta. - Ah, sim, desculpa, com licença - limpou os pés no tapete da entrada e entrou.
O interior não era menos fantástico. A primeira coisa que viu e ouviu foi o crepitar do fogo numa lareira grande e rústica. Ao lado estava um monte de lenha num suporte de ferro. Jade deixou-a avançar na casa enquanto fechava a porta atrás de si. Em frente à lareira estavam um sofá de três lugares e duas poltronas a combinar. Os tapetes que ornamentavam o chão de madeira pareciam feitos à mão. No lado esquerdo estava um balcão que delineava o espaço da cozinha. Três potes pequenos de plantas resistentes e verdes decoravam o balcão de mármore juntamente com uma vela. Mesmo ao pé da porta da entrada estava uma planta grande e alta verde escura e a porta de acesso à ponte de madeira e corda. No lado aposto também se encontrava outra assim como estantes repletas de livros e CDs. Havia potes de flores pendurados no tecto e havia uma varanda grande no lado direito.
- É a casa de banho - disse Jade ao reparar o olhar curioso da Catarina para a porta do seu lado direito.
- Oh. Isto é aqui é tão acolhedor. Parece o outono.
Catarina mirou a decoração das paredes. As molduras feitas à mão com galhos, as fotografias duma floresta familiar, provavelmente aquela em que ela se encontrava agora, e uma menina pequena e a sua família. Jade voltou a reparar onde ela estava a olhar.
- É a minha família. A fotografia é tão antiga e é a única que tenho. Pelo menos estamos todos a sorrir para a câmara.
A rapariga fitou os olhos negros da personificação da Terra. Até agora, Catarina não se questionara acerca do passado dos Planetas. Pelo estado da foto, ela teria nascido entre o século dezanove e vinte. Catarina não queria pensar o pior mas não se conteve enquanto fitava os olhos cor de café de Jade.
- Vamos? O Júpiter está a descansar noutro lugar.
- Sim, vamos - respondeu e por agora guardou a sua curiosidade.
Jade andava naquela ponte como se fosse de pedra. Catarina, muito pelo contrário, andava com as pernas bambas e com medo de cair. Quando finalmente ganhou jeito, tinham chegado ao final.
Muito semelhante à anterior, aquela tinha janelas altas junto à porta de madeira. A árvore em que estava apoiada parecia estar a abraçar a construção e as folhas caiam do telhado como chuva. Ao entrar, o ambiente que aquela sala dava era completamente diferente. Estava escura devido a todas as janelas estarem tapadas por um cortinado espesso. A única fonte de luz era a de uma janela ao lado da cama do Júpiter onde o cortinado estava mal posicionado. Aquela casa era maior que a anterior pois tinha divisões mais acentuadas. Quase ao lado da cama encontrava-se uma mesa de metal com rodas cheia de plantas curativas, dois almofarizes e rolos de ligaduras.
Catarina quase foi contra as plantas penduradas junto à porta da entrada.
- Ele está assim tão mau? Pensava que por agora já estaria quase bom - comentou.
- Não - Catarina não viu mas sabia que Jade tinha abanado a cabeça. - Ser tratado pelo Sol daquela maneira, a sua Estrela Vital, prejudica muito o Planeta. O planeta em si estava quase a auto-destruir-se. O corpo vai demorar o verão todo a curar-se ao ponto de estar estável. Sinceramente, tenho mais medo do estado em que vai estar a personalidade dele quando acordar do que propriamente o corpo.
- Ele consegue ver-nos ou ouvir-nos?
- Acho que não. Ele não abriu os olhos uma única vez até agora. É normal para o estado em que ele está.
- Então no que posso ajudar?
- Hum, vou mudar a cama dele para não ficar na luz e tu podes continuar a misturar o que há no segundo pote - disse ela.
Ela moveu a mesa metálica para longe da cama. Jade gesticulou as mãos e a cama moveu-se e ficou longe da luz que vinha da janela. Catarina então abriu o cortinado e deixou os sons e a luz da floresta encherem o espaço. Colocou a mesa ao lado da cama e foi aí que olhou para o Planeta inconsciente.
A pele dele estava coberta por ligaduras brancas que num lugar ou outro estava a manchar-se de sangue ou a ganhar um tom amarelado. As narinas eram a única coisa visível para além do crânio sem o cabelo loiro. Júpiter tinha cabelo, mas em muitas zonas estava praticamente careca. O seu corpo já não parecia grande e poderoso mas sim carente e fraco. A respiração era longa e espaçosa, como se tivessem atrasado o ritmo duma música. Ao vê-lo tão debilitado, Catarina sentiu pena dele.
- Diz-me quando tiveres de ir para casa que eu levo-te. Não te quero prender aqui, está bem?
- Sim, eu digo-te, não te preocupes - sorriu. - Hum... Jade?
- Diz.
- O Ryan está... cá? - Jade ficou confusa à primeira mas logo recuperou o raciocínio.
- Não, não está - respondeu.
O coração escapou uma pulsação e não conseguiu evitar sentir-se abandonada.
- Temos a certeza? - perguntou Mercúrio pela quarta vez.
Ele tinha estado a avaliar os prós e os contras e, depois do grupo martelar-lhe na cabeça que não devia colocar os pés na galáxia vizinha, ele sentia-se ansioso e nervoso das escolhas da Estrela Vital e a sua neta. No entanto, assim que chegasse à divisão, iria enfrentá-la sem recuar.
- Já não te posso ouvir, a sério - queixou-se Úrano.
- Calem-se - ordenou Luna. - Por favor - acrescentou.
- Estou aqui, vamos?
- Vamos - Luna deu a mão ao marido.
Os quatro reuniram as suas luzes teletransportadoras e dois segundos depois estavam parados na gigantesca parede de estrelas de Lymph.
- Acho que não devias estar aqui, Mercúrio - disparou Úrano. - Se isto não resultar, alguém tem de ir pedir à Terra que nos ajude.
- Cala-te lá, palerma.
O primeiro Planeta do Sistema Solar atravessou de rompante as estrelas e a parede inexistente entre as galáxias. Uma luz prateada e brilhante encheu os olhos dos três. Mercúrio parecia ter sido engolido por uma onda de magia que inundou os restantes com esperança e entusiasmo.
O casal fez a sua vez e mergulhou para Lymph.
- Tinham de deixar-me para último - queixou-se Úrano.
Ele tinha medo que algo acontecesse ao seu corpo mas, ao ver uma pequena esfera de plasma mesmo posicionada entre o começo de Lymph e o final da Via Láctea, algo nele deixou de segurar esse medo e quando abriu os olhos de novo, estava diante de um belo palácio de cristal flutuante.
- Vejam bem quem apareceu no meu quintal - uma figura alta e esbelta apareceu por detrás duma grande árvore coberta por neve e gelo.
- Estamos em graaandes sarilhos - disse Úrano com os olhos fixados na loira.
- Será que ele se foi embora sem me dizer nada? Mas como... - Ela lembrou-se dele a manejar os poderes dum Planeta. Ela abanou a cabeça enquanto começava a sentir um misto de emoções a atravessarem-lhe. Os punhos fecharam e abriram-se e ela resmungou. - Vou-me embora de Lymph e de repente do Ryan ganha poderes? Não consigo acreditar nisto... É melhor eu ir-me embora antes que os pais dele cheguem.
Catarina saiu pela porta das traseiras e deu-se de caras com Jade e a sua luz esmeralda. Desta vez, tinha o cabelo negro liso numa trança e os olhos já não tinham a cor verde do costume mas sim negros. Vestia uma saia estilo hippie com um top branco.
- Estás pronta? Espero não ter vindo em má altura.
- Estou - Jade estendeu-lhe a mão e Catarina foi ter com ela. - Adoro o teu cabelo, já agora.
- Muito obrigada - sorriu. - Sinceramente estava num dia péssimo de cabelo mas depois lembrei-me que posso fazer isto - estalou os dedos e o seu cabelo voltou aos volumosos caracóis -, e ele fica exactamente como quero. - Estalou os dedos de novo e o cabelo alisou numa traça negra.
- Quem me dera - suspirou Catarina.
A luz esmeralda da Terra envolveu-as e foram transportadas para a entrada da casa da representação. Catarina, primeiramente, não percebeu porque estavam à frente duma gigantesca árvore que devia ter uns bons anos. Só depois do seu olhar subir é que viu a casa de Jade. Suportada principalmente pela árvore à sua frente, a casa também se apoiava noutras mais próximas interligando-se por pontes de corda e madeira ou pavimentos mais elaborados. Todos os telhados eram redondos e cada complexo diferenciava no tamanho. Feitos de madeira e rodeados de natureza, cada um tinha um toque diferente, como se tivessem a sua própria função. Ela obrigou-se a respirar porque até então tinha sustido o fôlego.
- Alguém me belisque - murmurou. - Tu vives aqui? E tens acesso a Internet? Como funciona as coisas com electricidade?
- Como em qualquer outra casa - disse Jade a sorrir. - Mas o Júpiter por acaso ajudou-me nesse aspecto.
Jade levantou a mão e as duas foram elevadas do chão por um bloco de terra como um elevador. Subiram até à entrada da casa principal que ficava rodeada por um cercado de madeira. Com cuidado, Catarina colocou o pé no chão da casa e apoiou-se no cercado para ter certeza que não caia. Deu espaço para a Jade ir à sua frente e vislumbrou a vista que aquela altura proporcionava. Não conseguia ver para além das copas altas e grandiosas das árvores mas a natureza em redor brilhava e resplandecia com cada raio de luz e brisa. O ar puro e fresco limpava os pulmões sufocados dela e os pequenos animais que se esgueiravam de tronco em tronco davam-lhe uma sensação de paz de espírito e felicidade inexplicáveis. Aquele lugar emanava paz e calma e Catarina sentia-se tudo menos indiferente.
- Catarina?
- Hum? - ela viu Jade a segurar-lhe a porta. - Ah, sim, desculpa, com licença - limpou os pés no tapete da entrada e entrou.
O interior não era menos fantástico. A primeira coisa que viu e ouviu foi o crepitar do fogo numa lareira grande e rústica. Ao lado estava um monte de lenha num suporte de ferro. Jade deixou-a avançar na casa enquanto fechava a porta atrás de si. Em frente à lareira estavam um sofá de três lugares e duas poltronas a combinar. Os tapetes que ornamentavam o chão de madeira pareciam feitos à mão. No lado esquerdo estava um balcão que delineava o espaço da cozinha. Três potes pequenos de plantas resistentes e verdes decoravam o balcão de mármore juntamente com uma vela. Mesmo ao pé da porta da entrada estava uma planta grande e alta verde escura e a porta de acesso à ponte de madeira e corda. No lado aposto também se encontrava outra assim como estantes repletas de livros e CDs. Havia potes de flores pendurados no tecto e havia uma varanda grande no lado direito.
- É a casa de banho - disse Jade ao reparar o olhar curioso da Catarina para a porta do seu lado direito.
- Oh. Isto é aqui é tão acolhedor. Parece o outono.
Catarina mirou a decoração das paredes. As molduras feitas à mão com galhos, as fotografias duma floresta familiar, provavelmente aquela em que ela se encontrava agora, e uma menina pequena e a sua família. Jade voltou a reparar onde ela estava a olhar.
- É a minha família. A fotografia é tão antiga e é a única que tenho. Pelo menos estamos todos a sorrir para a câmara.
A rapariga fitou os olhos negros da personificação da Terra. Até agora, Catarina não se questionara acerca do passado dos Planetas. Pelo estado da foto, ela teria nascido entre o século dezanove e vinte. Catarina não queria pensar o pior mas não se conteve enquanto fitava os olhos cor de café de Jade.
- Vamos? O Júpiter está a descansar noutro lugar.
- Sim, vamos - respondeu e por agora guardou a sua curiosidade.
Jade andava naquela ponte como se fosse de pedra. Catarina, muito pelo contrário, andava com as pernas bambas e com medo de cair. Quando finalmente ganhou jeito, tinham chegado ao final.
Muito semelhante à anterior, aquela tinha janelas altas junto à porta de madeira. A árvore em que estava apoiada parecia estar a abraçar a construção e as folhas caiam do telhado como chuva. Ao entrar, o ambiente que aquela sala dava era completamente diferente. Estava escura devido a todas as janelas estarem tapadas por um cortinado espesso. A única fonte de luz era a de uma janela ao lado da cama do Júpiter onde o cortinado estava mal posicionado. Aquela casa era maior que a anterior pois tinha divisões mais acentuadas. Quase ao lado da cama encontrava-se uma mesa de metal com rodas cheia de plantas curativas, dois almofarizes e rolos de ligaduras.
Catarina quase foi contra as plantas penduradas junto à porta da entrada.
- Ele está assim tão mau? Pensava que por agora já estaria quase bom - comentou.
- Não - Catarina não viu mas sabia que Jade tinha abanado a cabeça. - Ser tratado pelo Sol daquela maneira, a sua Estrela Vital, prejudica muito o Planeta. O planeta em si estava quase a auto-destruir-se. O corpo vai demorar o verão todo a curar-se ao ponto de estar estável. Sinceramente, tenho mais medo do estado em que vai estar a personalidade dele quando acordar do que propriamente o corpo.
- Ele consegue ver-nos ou ouvir-nos?
- Acho que não. Ele não abriu os olhos uma única vez até agora. É normal para o estado em que ele está.
- Então no que posso ajudar?
- Hum, vou mudar a cama dele para não ficar na luz e tu podes continuar a misturar o que há no segundo pote - disse ela.
Ela moveu a mesa metálica para longe da cama. Jade gesticulou as mãos e a cama moveu-se e ficou longe da luz que vinha da janela. Catarina então abriu o cortinado e deixou os sons e a luz da floresta encherem o espaço. Colocou a mesa ao lado da cama e foi aí que olhou para o Planeta inconsciente.
A pele dele estava coberta por ligaduras brancas que num lugar ou outro estava a manchar-se de sangue ou a ganhar um tom amarelado. As narinas eram a única coisa visível para além do crânio sem o cabelo loiro. Júpiter tinha cabelo, mas em muitas zonas estava praticamente careca. O seu corpo já não parecia grande e poderoso mas sim carente e fraco. A respiração era longa e espaçosa, como se tivessem atrasado o ritmo duma música. Ao vê-lo tão debilitado, Catarina sentiu pena dele.
- Diz-me quando tiveres de ir para casa que eu levo-te. Não te quero prender aqui, está bem?
- Sim, eu digo-te, não te preocupes - sorriu. - Hum... Jade?
- Diz.
- O Ryan está... cá? - Jade ficou confusa à primeira mas logo recuperou o raciocínio.
- Não, não está - respondeu.
O coração escapou uma pulsação e não conseguiu evitar sentir-se abandonada.
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- Temos a certeza? - perguntou Mercúrio pela quarta vez.
Ele tinha estado a avaliar os prós e os contras e, depois do grupo martelar-lhe na cabeça que não devia colocar os pés na galáxia vizinha, ele sentia-se ansioso e nervoso das escolhas da Estrela Vital e a sua neta. No entanto, assim que chegasse à divisão, iria enfrentá-la sem recuar.
- Já não te posso ouvir, a sério - queixou-se Úrano.
- Calem-se - ordenou Luna. - Por favor - acrescentou.
- Estou aqui, vamos?
- Vamos - Luna deu a mão ao marido.
Os quatro reuniram as suas luzes teletransportadoras e dois segundos depois estavam parados na gigantesca parede de estrelas de Lymph.
- Acho que não devias estar aqui, Mercúrio - disparou Úrano. - Se isto não resultar, alguém tem de ir pedir à Terra que nos ajude.
- Cala-te lá, palerma.
O primeiro Planeta do Sistema Solar atravessou de rompante as estrelas e a parede inexistente entre as galáxias. Uma luz prateada e brilhante encheu os olhos dos três. Mercúrio parecia ter sido engolido por uma onda de magia que inundou os restantes com esperança e entusiasmo.
O casal fez a sua vez e mergulhou para Lymph.
- Tinham de deixar-me para último - queixou-se Úrano.
Ele tinha medo que algo acontecesse ao seu corpo mas, ao ver uma pequena esfera de plasma mesmo posicionada entre o começo de Lymph e o final da Via Láctea, algo nele deixou de segurar esse medo e quando abriu os olhos de novo, estava diante de um belo palácio de cristal flutuante.
- Vejam bem quem apareceu no meu quintal - uma figura alta e esbelta apareceu por detrás duma grande árvore coberta por neve e gelo.
- Estamos em graaandes sarilhos - disse Úrano com os olhos fixados na loira.
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