Underneath #12
Os pais abandonaram o quarto dele assim que explicou as coisas sobre a família das gémeas e o historial que tinha com a Escuridão. O sacrifício da Mondy foi difícil de eles engolirem, porém, estavam mais que gratos por ela o ter salvado. A mãe fez questão de repetir umas mil vezes que queria ir à casa dos Brown agradecer e mostrar os seus pêsames pela Mondy. Troy não conseguiu convencê-la do contrário e por isso tinha que combinar uma data com as gémeas para a ida da mãe à casa delas.
Depois daquela confusão toda durante a noite, Troy não conseguiu dormir mais. A sua imaginação continuava a trabalhar, criando cenários onde ele era um assassino que matava os seus próprios pais por estar possuído pela Escuridão. Por mais que tentasse, os tentáculos negros e pesados do Saeva o prendiam sem chance de escapar. Às vezes, sonhava que se tinha deixado ceder ao poder do obscuro e que os dois se tinham tornado num só. Um monstro. Só que ele tinha o sentimento estranho que não passara só de um sonho. Uma agonia movimentava-se nas suas veias a indicar que se ele não tomasse as decisões certas, seria esse o seu futuro. O futuro negro e obscuro sem nenhuma luz por onde se apegar.
Ao acordar, atrasado e cansado, Troy sentiu uma dor de cabeça a formar-se. Rastejou para a casa de banho, lavou os dentes e a cara, vestiu-se e desceu para comer o pequeno-almoço. Ele desta vez usou a bicicleta para ir para a escola. Já não tinha dores na perna magoada. O poder da Violet foi poderoso ao ponto de se alastrar pelo seu corpo todo sarando quaisquer feridas físicas. Quando finalmente chegou à escola o toque já tinha soado e estavam todos na sua respectiva sala. Troy correu para dentro da escola onde subiu pelo lance de escadas até chegar ao primeiro piso onde iria ter a aborrecida aula de história. Abriu a porta da sala para a encontrar vazia. E então lembrou-se: a aula iria ser passada num museu e quem chegasse atrasado perdia a viagem de autocarro. Troy praguejou baixinho e passou a mão pelo cabelo. Ajeitou a mala no ombro, pegou na bicicleta e pedalou até ao centro de autocarros de Crystal Water. Estava com a adrenalina ao rubro e quando se apercebeu que não tinha dinheiro consigo só desejou não ter saído da cama. Então ele foi para o único sítio onde seria capaz de se acalmar: o mar.
Troy entrou sorrateiramente no bar dos pais pelas traseiras. Abriu o seu cacifo e tirou de lá o seu fato de banho com destaques azuis e levou a sua prancha por baixo do braço. Caminhou para a praia e encerou a prancha. O sol iluminava as ondas como se fossem cristais e aquecia-o. Não havia brisa mas o mar estava praticamente perfeito. Apertou o fato e dirigiu-se para o seu abrigo. Remou com força, a princípio sem perceber e saber o porquê, mas depois notou que tinha raiva dentro de si que precisava de ser solta. Mergulhou. Emergiu e respirou fundo. Remou e remou até lhe cansar os braços. Troy entrou numa onda e falhou na sincronização. Tentou outra onda e a prancha saiu-lhe dos pés. Mais uma onda falhada, e outra, e outra. Ele não conseguia entrar no ritmo do mar. O seu corpo não o obedecia. A sua mente estava cheia de sujeira e ruído. Troy sentiu a sua cabeça a latejar, a dor de cabeça a intensificar e caiu. As mãos que estavam coladas à cabeça relaxaram enquanto os seus braços abriam e o seu corpo se fundia com o azul escuro do fundo do mar. Ele abriu os olhos. A luz do sol penetrava a linha ténue entre o mar e a superfície. Troy tentou agarrar a luz com a energia que ainda lhe restava. Deveria estar a morrer. Ou a afogar-se naquela água salgada. Mas Troy estava em suspense. O seu corpo nem lutava para viver, nem se deixava cair no abismo. Nunca se tinha sentido tão solto e tão preso. Não sabia se haveria de tentar gritar ou ficar assim. Passou-lhe pela cabeça que se morresse, talvez o mal deixasse de o atormentar. Mas o seu egoísmo não o permitiu. Queria viver, mesmo que isso significasse a morte dos seus entes queridos. Mesmo que isso significasse no seu destino de morte lenta e negra onde nunca mais veria a Luz.
Ele fechou os olhos e tentou contactar o seu outro Eu. Pensou na sua Marca completamente infiltrada na pele, no rosto idêntico que partilhava com Tema, nos olhos misteriosos cor de rubi, na luz azul que nasceu das suas mãos, nos olhos horríveis do Saeva. Pensou nos seus pais, na Catarina, no Ryan, no Noir. E por fim, ouviu as palavras do Sol ecoarem na sua cabeça. És a energia vital duma galáxia.
Estas palavras desencadearam as memórias que partilha com Tema. Sentiu uma grande energia pelo corpo todo. A energia fez com que os seus olhos se fechassem e a sua mente trancou-o numa paralisia. Primeiramente, viu Noir a aparecer no mar, atacando o seu pai e proclamando Troy como seu. De seguida, o ataque que lançou aos seus pais e o seu contra-ataque. Ele não estava preparado para o que viu a seguir. As imagens fundiam-se com a água. Pareciam irreais mas o que ele sentia na pele não deixava dúvidas que ele tinha vivido aquele momento. Porém nunca imaginou que tinha um prazo para cumprir. As palavras de Noir eram como gritos de mil crianças. Se ele não aceitar o seu destino pela altura dos seus 17 anos, neste dia e nesta hora, a Escuridão irá consumi-lo sem qualquer hipótese de retorno.
Troy parecia ter sido puxado por algo. A memória dissipou-se tão rapidamente que o seu corpo se mexeu um pouco para o lado naquela paralisia, como um espasmo. Foram apenas vislumbres, mais uma vez, de uma mulher poderosa com longos cabelos ruivos e olhos vermelhos. A mesma que lhe aparecia sempre que parecia aflito. No entanto, a imagem dela desapareceu e deu lugar a outra mulher. O seu rosto alongado e suave, com olhos azul-esverdeados e cabelo loiro, adornado com uma tiara, preso num penteado trançado de onde saiam fios lisos. Ela sorria e o seu olhar transparecia orgulho. Os seus olhos eram familiares - eram iguais aos seus e aos de Tema. Ela deu lugar a um homem onde ele viu parecenças consigo como no rosto angular e no nariz. O seu rosto poderoso e autoritário tornou-se alegre quando lhe nasceu um sorriso nos lábios. Vestia um traje que parecia de realeza. Quem eram eles? Os pais do Tema? Mas se são da sua família, como não teve sonhos sobre eles até agora? O que lhes aconteceu?
A água começou a envolvê-lo como um manto. A paralisia tinha terminado. Troy mexia os braços nervosamente e tinha os olhos esbugalhados. Não conseguia respirar. Estava em choque e alarmado. Tentava subir para a superfície mas não era capaz. O seu corpo não queria obedecer-lhe. Pesava-lhe como uma âncora. Troy estava a afogar-se. Abriu a boca numa tentativa de gritar por ajuda mas só engoliu mais água salgada. Os seus olhos fecharam-se lentamente e ele ouviu um zumbido. Depois, tudo virou negro
Depois daquela confusão toda durante a noite, Troy não conseguiu dormir mais. A sua imaginação continuava a trabalhar, criando cenários onde ele era um assassino que matava os seus próprios pais por estar possuído pela Escuridão. Por mais que tentasse, os tentáculos negros e pesados do Saeva o prendiam sem chance de escapar. Às vezes, sonhava que se tinha deixado ceder ao poder do obscuro e que os dois se tinham tornado num só. Um monstro. Só que ele tinha o sentimento estranho que não passara só de um sonho. Uma agonia movimentava-se nas suas veias a indicar que se ele não tomasse as decisões certas, seria esse o seu futuro. O futuro negro e obscuro sem nenhuma luz por onde se apegar.
Ao acordar, atrasado e cansado, Troy sentiu uma dor de cabeça a formar-se. Rastejou para a casa de banho, lavou os dentes e a cara, vestiu-se e desceu para comer o pequeno-almoço. Ele desta vez usou a bicicleta para ir para a escola. Já não tinha dores na perna magoada. O poder da Violet foi poderoso ao ponto de se alastrar pelo seu corpo todo sarando quaisquer feridas físicas. Quando finalmente chegou à escola o toque já tinha soado e estavam todos na sua respectiva sala. Troy correu para dentro da escola onde subiu pelo lance de escadas até chegar ao primeiro piso onde iria ter a aborrecida aula de história. Abriu a porta da sala para a encontrar vazia. E então lembrou-se: a aula iria ser passada num museu e quem chegasse atrasado perdia a viagem de autocarro. Troy praguejou baixinho e passou a mão pelo cabelo. Ajeitou a mala no ombro, pegou na bicicleta e pedalou até ao centro de autocarros de Crystal Water. Estava com a adrenalina ao rubro e quando se apercebeu que não tinha dinheiro consigo só desejou não ter saído da cama. Então ele foi para o único sítio onde seria capaz de se acalmar: o mar.
Troy entrou sorrateiramente no bar dos pais pelas traseiras. Abriu o seu cacifo e tirou de lá o seu fato de banho com destaques azuis e levou a sua prancha por baixo do braço. Caminhou para a praia e encerou a prancha. O sol iluminava as ondas como se fossem cristais e aquecia-o. Não havia brisa mas o mar estava praticamente perfeito. Apertou o fato e dirigiu-se para o seu abrigo. Remou com força, a princípio sem perceber e saber o porquê, mas depois notou que tinha raiva dentro de si que precisava de ser solta. Mergulhou. Emergiu e respirou fundo. Remou e remou até lhe cansar os braços. Troy entrou numa onda e falhou na sincronização. Tentou outra onda e a prancha saiu-lhe dos pés. Mais uma onda falhada, e outra, e outra. Ele não conseguia entrar no ritmo do mar. O seu corpo não o obedecia. A sua mente estava cheia de sujeira e ruído. Troy sentiu a sua cabeça a latejar, a dor de cabeça a intensificar e caiu. As mãos que estavam coladas à cabeça relaxaram enquanto os seus braços abriam e o seu corpo se fundia com o azul escuro do fundo do mar. Ele abriu os olhos. A luz do sol penetrava a linha ténue entre o mar e a superfície. Troy tentou agarrar a luz com a energia que ainda lhe restava. Deveria estar a morrer. Ou a afogar-se naquela água salgada. Mas Troy estava em suspense. O seu corpo nem lutava para viver, nem se deixava cair no abismo. Nunca se tinha sentido tão solto e tão preso. Não sabia se haveria de tentar gritar ou ficar assim. Passou-lhe pela cabeça que se morresse, talvez o mal deixasse de o atormentar. Mas o seu egoísmo não o permitiu. Queria viver, mesmo que isso significasse a morte dos seus entes queridos. Mesmo que isso significasse no seu destino de morte lenta e negra onde nunca mais veria a Luz.
Ele fechou os olhos e tentou contactar o seu outro Eu. Pensou na sua Marca completamente infiltrada na pele, no rosto idêntico que partilhava com Tema, nos olhos misteriosos cor de rubi, na luz azul que nasceu das suas mãos, nos olhos horríveis do Saeva. Pensou nos seus pais, na Catarina, no Ryan, no Noir. E por fim, ouviu as palavras do Sol ecoarem na sua cabeça. És a energia vital duma galáxia.
Estas palavras desencadearam as memórias que partilha com Tema. Sentiu uma grande energia pelo corpo todo. A energia fez com que os seus olhos se fechassem e a sua mente trancou-o numa paralisia. Primeiramente, viu Noir a aparecer no mar, atacando o seu pai e proclamando Troy como seu. De seguida, o ataque que lançou aos seus pais e o seu contra-ataque. Ele não estava preparado para o que viu a seguir. As imagens fundiam-se com a água. Pareciam irreais mas o que ele sentia na pele não deixava dúvidas que ele tinha vivido aquele momento. Porém nunca imaginou que tinha um prazo para cumprir. As palavras de Noir eram como gritos de mil crianças. Se ele não aceitar o seu destino pela altura dos seus 17 anos, neste dia e nesta hora, a Escuridão irá consumi-lo sem qualquer hipótese de retorno.
Troy parecia ter sido puxado por algo. A memória dissipou-se tão rapidamente que o seu corpo se mexeu um pouco para o lado naquela paralisia, como um espasmo. Foram apenas vislumbres, mais uma vez, de uma mulher poderosa com longos cabelos ruivos e olhos vermelhos. A mesma que lhe aparecia sempre que parecia aflito. No entanto, a imagem dela desapareceu e deu lugar a outra mulher. O seu rosto alongado e suave, com olhos azul-esverdeados e cabelo loiro, adornado com uma tiara, preso num penteado trançado de onde saiam fios lisos. Ela sorria e o seu olhar transparecia orgulho. Os seus olhos eram familiares - eram iguais aos seus e aos de Tema. Ela deu lugar a um homem onde ele viu parecenças consigo como no rosto angular e no nariz. O seu rosto poderoso e autoritário tornou-se alegre quando lhe nasceu um sorriso nos lábios. Vestia um traje que parecia de realeza. Quem eram eles? Os pais do Tema? Mas se são da sua família, como não teve sonhos sobre eles até agora? O que lhes aconteceu?
A água começou a envolvê-lo como um manto. A paralisia tinha terminado. Troy mexia os braços nervosamente e tinha os olhos esbugalhados. Não conseguia respirar. Estava em choque e alarmado. Tentava subir para a superfície mas não era capaz. O seu corpo não queria obedecer-lhe. Pesava-lhe como uma âncora. Troy estava a afogar-se. Abriu a boca numa tentativa de gritar por ajuda mas só engoliu mais água salgada. Os seus olhos fecharam-se lentamente e ele ouviu um zumbido. Depois, tudo virou negro
◄◊►
- Troy? - A voz parecia estar longe aos ouvidos dele. - Troy?
Troy despertou os sentidos e cuspiu a água salgada do seu corpo. A luz quase lhe feria os olhos se não fosse o corpo do Ryan a dar-lhe sombra. Com a água fora do sistema, ele ficou ofegante e com a boca a precisar de água potável. A areia molhada envolveu-se entre os seus dedos e cabelos. Passou a mão pela cabeça ao sentir uma dor perfurá-la.
- Hey - Ryan estalou os dedos despertando-o para a realidade. - Troy? Estás bem?
A mente dele despertou e fitou os olhos azuis preocupados do seu melhor amigo. Troy retirou o olhar daqueles olhos e virou-se para o mar. Como tinha ido parar à praia da gruta? Teria Ryan resgatado-o? Ou simplesmente teletransportou-se para a costa?
- Como cheguei aqui? - a sua voz soou rouca.
- Eu não sei, apenas encontrei-te. Estás inconsciente há pelo menos duas horas. - Troy arregalou os olhos em choque. - O que andaste a fazer, Evans?
- Afoguei-me.
- Tu o quê!?
- Ajuda-me a levantar - Ryan estava em completo choque, mas ajudou-o a levantar-se. - Que horas são?
- Quase onze. Vais contar-me o que se passou?
- Ainda não sei.
Troy tirou o máximo de areia do corpo possível, pegou na sua prancha e marchou para a saída da gruta. Ryan, porém, não ia deixá-lo ir tão facilmente. Não desta vez. Ele agarrou no braço esquerdo de Troy.
- Ryan?
- Troy - Sem largá-lo, tornou-lhe a perguntar -, vais contar-me o que se passou?
Era agora. A decisão que podia implicar a vida do seu melhor amigo. Troy não esperava que acontecesse tão de repente. Pensava que ia ter mais tempo... Mas esse já não é seu amigo; Só agora tinha recuperado Ryan ao fim de seis longos anos. Troy não ia conseguir fazê-lo passar por outra experiência de possível morte. Ryan acabou de ficar curado de cancro. Pelo amor de Deus, porque é que isto tinha de me acontecer a mim?, pensou revoltado. Ainda com o braço preso pela mão forte de Ryan, Troy fitou os olhos do seu melhor amigo que lhe diziam para não o abandonar, não o desiludir. Então ele decidiu que, se vai cumprir um destino perigoso, mais valia cumpri-lo com Ryan ao seu lado. Só não queria arrepender-se dessa decisão.
- Eu conto-te. Vem comigo. - Ryan largou o braço dele. Pegou na mochila e seguiu o seu melhor amigo.
Troy despertou os sentidos e cuspiu a água salgada do seu corpo. A luz quase lhe feria os olhos se não fosse o corpo do Ryan a dar-lhe sombra. Com a água fora do sistema, ele ficou ofegante e com a boca a precisar de água potável. A areia molhada envolveu-se entre os seus dedos e cabelos. Passou a mão pela cabeça ao sentir uma dor perfurá-la.
- Hey - Ryan estalou os dedos despertando-o para a realidade. - Troy? Estás bem?
A mente dele despertou e fitou os olhos azuis preocupados do seu melhor amigo. Troy retirou o olhar daqueles olhos e virou-se para o mar. Como tinha ido parar à praia da gruta? Teria Ryan resgatado-o? Ou simplesmente teletransportou-se para a costa?
- Como cheguei aqui? - a sua voz soou rouca.
- Eu não sei, apenas encontrei-te. Estás inconsciente há pelo menos duas horas. - Troy arregalou os olhos em choque. - O que andaste a fazer, Evans?
- Afoguei-me.
- Tu o quê!?
- Ajuda-me a levantar - Ryan estava em completo choque, mas ajudou-o a levantar-se. - Que horas são?
- Quase onze. Vais contar-me o que se passou?
- Ainda não sei.
Troy tirou o máximo de areia do corpo possível, pegou na sua prancha e marchou para a saída da gruta. Ryan, porém, não ia deixá-lo ir tão facilmente. Não desta vez. Ele agarrou no braço esquerdo de Troy.
- Ryan?
- Troy - Sem largá-lo, tornou-lhe a perguntar -, vais contar-me o que se passou?
Era agora. A decisão que podia implicar a vida do seu melhor amigo. Troy não esperava que acontecesse tão de repente. Pensava que ia ter mais tempo... Mas esse já não é seu amigo; Só agora tinha recuperado Ryan ao fim de seis longos anos. Troy não ia conseguir fazê-lo passar por outra experiência de possível morte. Ryan acabou de ficar curado de cancro. Pelo amor de Deus, porque é que isto tinha de me acontecer a mim?, pensou revoltado. Ainda com o braço preso pela mão forte de Ryan, Troy fitou os olhos do seu melhor amigo que lhe diziam para não o abandonar, não o desiludir. Então ele decidiu que, se vai cumprir um destino perigoso, mais valia cumpri-lo com Ryan ao seu lado. Só não queria arrepender-se dessa decisão.
- Eu conto-te. Vem comigo. - Ryan largou o braço dele. Pegou na mochila e seguiu o seu melhor amigo.
◄◊►
Troy, que pensava já ter levado o sermão da sua vida pela mãe, enganou-se plenamente quando Melody o chamou para falar sozinha com ele na cozinha da sua casa. «O que te passou pela cabeça ao trazer o Ryan para aqui!?» dizia ela, praticamente aos berros, «Endoideceste de vez, só pode! O que vamos fazer com ele!?».
- Melody, acalma-te. Ele ainda não sabe de nada ainda. Podemos sempre... Inventar - Troy dizia a desapertar o fato de surf e ficando com o tronco nu.
- Ha! Que plano brilhante, Troy Evans! Cuidado com essa areia no tapete.
- Estou a falar a sério.
- Eu também. Vamos lá para fora, então, e dizer-lhe que afogaste-te e que a Ariel te salvou da morte. Que tal?
Ele suspirou. Passou a mão pelo cabelo ainda com areia. Não conseguia pensar em nenhuma explicação lógica que envolvesse a queda dele no mar. O que poderia ele dizer? Ainda mais com a Melody a massacrar-lhe o juízo. Se ela adivinhasse que ele pensava contar à Catarina disto podia jurar que Melody lhe arrancaria a cabeça.
- Então o que fazemos, génio? - perguntou Troy.
- Dizemos-lhe a verdade.
- Oh, está bem. Acabaste de me dizer que contar-lhe era uma loucura e é precisamente isso que queres fazer? - Troy colocou as mãos na coxas, inclinando-se para a gémea. - Melody, vá lá. Ajuda-me.
Os olhos de Troy eram como os de um cachorro perdido à procura de um lar. Ela conseguiu perceber que havia desespero naquele olhar, um pouco de tristeza e ansiedade. Ryan era o melhor amigo dele. Não podia perdê-lo de novo. Certo?
- Eu quero ajudar-te. Mas não sei qual decisão será a melhor: contar-lhe ou deixá-lo na ignorância. Basicamente o que tens de ter em conta é em qual desses cenários ele vai estar mais seguro.
- Hey, Troy - chamou Ryan pela porta dupla para a cozinha.
- Sim?
- Podemos falar?
- Claro. - Melody saiu da cozinha, deixando-os a sós. - Ouve, eu vou explicar-te tudo. Só não sei como.
- Eu acho que já percebi.
- Já percebeste? O que...
- Foi difícil de acreditar. Mas não precisas de ter segredos comigo. Quero dizer, não é uma coisa fora do comum - dizia ele enquanto passava a mão pelo pescoço. - Andas a fumar, não andas? Só estou surpreendido por não notar cheiro algum na tua roupa.
- A fu...
Genial. Agora Ryan pensava que ele fumava. O dia continuava a melhorar a cada segundo. Troy deixou-se ir por essa história. Não estava nem um pouco preparado para lhe falar da sua vida. Da sua outra vida.
- Sim. Pois é. Ando a fumar. Mas foi só coisa de uma vez ou duas. Sabes... Para experimentar. Não pretendo continuar porque... porque estraga o meu surf!
Genial. Agora Ryan pensava que ele fumava. O dia continuava a melhorar a cada segundo. Troy deixou-se ir por essa história. Não estava nem um pouco preparado para lhe falar da sua vida. Da sua outra vida.
- Sim. Pois é. Ando a fumar. Mas foi só coisa de uma vez ou duas. Sabes... Para experimentar. Não pretendo continuar porque... porque estraga o meu surf!
- Então foi por isso que disseste que te afogaste. Já entendi. Mas porquê este drama todo?
- As gémeas... Elas incentivaram-me a desistir.
- A Catarina sabe disto?
- Achas?! - Respondeu tão rápido que voz soou fina. - Achas? - Disse mais calmamente.
- Já vi que não. - Ryan riu-se. - Só te metes em porcaria, Evans.
- Tenho-te a ti para a resolveres, portanto. - Troy levantou-se. - Anda, vamos almoçar.
Ao sair, as gémeas lançaram-lhe um olhar. Ele tinha de vir falar com elas mais logo e perceber o que raio se passava com ele. As coisas não podiam voltar a continuar assim. Troy acabou de mentir ao seu melhor amigo. Mas ele não podia estar com a cabeça à volta desse assunto agora. Primeiro tinha de descobrir quem era o Noir, a mulher de olhos vermelhos e Tema. E com o seu aniversário quase à porta, as suas chances de suceder diminuíram para níveis negativos.
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