Underneath #3
As aulas da manhã tinham acabado e Troy juntamente com Ryan foram até à sala das artes buscar Catarina para irem todos almoçar num café ali perto.
- Catarina? - Troy chamou da porta da sala.
- Estou aqui! Entrem - disse ela do fundo da sala.
O chão de madeira da sala tinha salpicos de tinta aqui e ali. A sala era larga e na parede paralela à porta erguiam-se uma fila de quatro janelas altas. Longas prateleiras decoradas com objectos pintados por alunos e professores, copos com pincéis, várias caixas onde se guardavam lápis de cor e cera, telas de tamanho A4 e livros sobre variados artistas encontravam-se encostadas nas paredes laterais.
Catarina encontrava-se no beco da sala, junto ao lavatório e à pilha de telas de tamanho grande. O cabelo castanho e longo estava apanhado num puxo com apenas uma mecha livre. O seu rosto tinha uma mancha de tinta e as suas mãos estavam todas pintadas, como já era habitual.
- O que estás a pintar? - ele perguntou enquanto a abraçava por trás.
- Um lugar bonito.
- Até agora, está lindo - Troy beijou-lhe na bochecha.
- Já podemos ir almoçar, casal do ano?
- Deixa-me só ir lavar as mãos, foragido.
- Que engraçadinha que ela está - Ryan sorriu divertido.
- Nós esperamos por ti ao pé da entrada, está bem? - sugeriu Troy antes que eles começassem a picar-se um ou outro.
- Tudo bem. Até já.
- Quando estiveres solteiro vou fazer questão que apanhes as maiores velas da tua vida - afirmou Ryan, quando já estavam no corredor.
- Quando estiveres solteiro vou fazer questão que apanhes as maiores velas da tua vida - afirmou Ryan, quando já estavam no corredor.
- Primeiro, tens de arranjar uma namorada. E eu e a Cat não somos assim tão chatos. Ou somos?
- Dá-me só cinco minutos que isso trata-se rápido - disse Ryan, ignorando a pergunta de Troy.
Uns minutos depois, Catarina apareceu e trouxe pessoas consigo. Troy não quis acreditar nos seus olhos quando viu a tal rapariga ao lado da sua namorada. Ficou ainda mais quando haviam duas delas.
- Desculpem a demora - ela começou - mas é que ficámos na conversa e pronto. Violet e Melody, estes são os meus amigos, Troy e Ryan. Elas são novas na escola.
Troy ficou sem fala durante uns segundos e quando começou a falar, as palavras enrolaram-se na sua língua.
Troy ficou sem fala durante uns segundos e quando começou a falar, as palavras enrolaram-se na sua língua.
- Hum, sou o Troy, prazer - estendeu-lhe a mão.
Ela gentilmente a agarrou.
Ela gentilmente a agarrou.
- Violet.
Violet emanava um aroma a frutos vermelhos e as suas mãos ainda tinham o cheiro a menta do sabonete da sala das artes. O seu cabelo ondulado caia-lhe graciosamente pelos ombros e a franja mantinha-se intacta: presa atrás da cabeça com um laço. A sua presença era alegre e não parecia tímida.
Agora que conseguia distinguir as gémeas pelo nome, Troy nunca mais as confundiu. Bem como Ryan. Elas pareciam subitamente muito diferentes.
Agora que conseguia distinguir as gémeas pelo nome, Troy nunca mais as confundiu. Bem como Ryan. Elas pareciam subitamente muito diferentes.
- Ryan - ele sorriu, estendendo a mão a Melody.
- Então, vocês vêm almoçar connosco? - perguntou Troy.
- Oh, não... Já temos planos - disse Melody.
Melody, ao contrário de Violet, parecia muito mais reservada. O seu cabelo era ondulado, como o da sua gémea, mas dum tom mais caramelizado. Ela não parecia muito confortável perto deles.
Melody, ao contrário de Violet, parecia muito mais reservada. O seu cabelo era ondulado, como o da sua gémea, mas dum tom mais caramelizado. Ela não parecia muito confortável perto deles.
- Oh, Mel, vamos lá! Vai ser giro conhecermos melhor as redondezas - apelou a irmã.
- Podemos depois mostrar-vos uma pastelaria aqui perto da escola que é de chorar por mais - encorajou Catarina.
- Podemos depois mostrar-vos uma pastelaria aqui perto da escola que é de chorar por mais - encorajou Catarina.
- Sim, Mel, anda lá - pediu Violet.
- Pronto, tudo bem - Melody cedeu.
Violet não conseguia largar a sensação de que conhecia Troy de algum lugar. No entanto, essa sensação não lhe trazia confiança e tinha um pressentimento que o rapaz só traria problemas.
◄◊►
Durante a refeição, as gémeas sofreram um inquérito.
- Então, vocês sempre viveram aqui? Nunca vos vi - começou Troy.
- Sim - disseram as duas em uníssono.
Ryan soltou risinhos entusiasmados.
- Vocês têm mesmo telepatia, por causa disso de serem gémeas e tal?
- Eu gosto de acreditar que sim - respondeu Violet.
- Mas também não é como eu soubesse o que ela está a pensar a toda a hora, porque é impossível - explicou Melody.
Melody ia começar a explicar o porquê até que Violet se apressou a calá-la.
Melody ia começar a explicar o porquê até que Violet se apressou a calá-la.
- Vocês os três também sempre viveram aqui?
- Sim, exceto aqui o Ryan que desapareceu por 6 anos e voltou este fim de semana.
- O que se passou? - Melody perguntou rápido e quase automaticamente. A sua pergunta causou o silêncio entre o grupo.
Violet lançou um olhar à irmã. Ela corou um pouco. Não se tinha apercebido de que estava a ser intrometida. Rapidamente dirigiu o seu olhar para as suas mãos. Pelo tom de voz que Ryan falou a seguir, Melody entendeu que o tinha realmente chateado.
- Que tal essa história ficar para outro dia? - ele fitou o rosto corado de Melody, que não conseguia encará-lo, e a sua opinião acerca dela mudou de um segundo para o outro.
A empregada chegara mesmo a tempo de evitar mais algum constrangimento por parte de Melody e Ryan. Colocou os pedidos na mesa e, assim que começaram a comer, a conversa voltou a surgir naturalmente. Continuaram a conversa que estavam a ter mas sem tocar no desaparecimento do Ryan. Melody permanecera calada durante o almoço inteiro.
Troy não conseguia abanar a presença da mulher do seu sonho na Violet. Ele estava a tentar fazer-lhe perguntas que não fossem muito intrometidas, mas a curiosidade dominava-o como um veneno. O ambiente já estava chato devido ao comentário que ele lançou ao desaparecimento de Ryan e a pergunta de Melody. No entanto, não era isso que o chateava. O ar ficara muito denso de repente. Troy sentia-se enjoado e o cheiro da comida nauseava-o. Ele ficara pálido. De repente, o espaço à volta dele girava como se estivesse num carrossel.
- Troy? Estás bem? - Catarina colocou a mão no rosto dele. Estava frio e quente ao mesmo tempo e começara a soar. - Troy, fala comigo - pediu a direccionar os olhos dele para os seus.
- Vénus? - ele murmurou muito baixinho e no segundo seguinte encontrava-se desmaiado no ombro de Catarina.
◄◊►
A luz branca apareceu. O verde apoderou-se do espaço, o perfume era intenso e bom. O ar aromático limpava os seus pulmões. A luz branca apareceu e ele virou-se. Não sabia ao certo se era ele mesmo. Se o corpo em que ele estava inserido era o seu ou se era o corpo dum estranho. Mas algo dizia-lhe que era ele. Não totalmente, mas era ele.
O seu cabelo ardente brilhou por entre a luz, os seus olhos cor de rubi brilharam devido a um medo do desconhecido. Sem se aperceber, ele sentia o mesmo e deu por si a dizer:
- Vieste.
Ela escolheu o silêncio como resposta. Por uma ténue linha dourado, ele conseguia sentir os sentimentos dela como seus. Ela virou-se e caminhou no caminho aposto a ele. Ele seguiu-a sem hesitar, sem pensar duas vezes. A sua mão tocou na dela e a pele clara da sua amada corou. O nome dela ecoava na sua mente como se fosse a única coisa que soubesse com toda a certeza, com mais certeza que o seu próprio nome. O seu nome... T...
◄◊►
- Ele está bem? - ouviu outra dizer.
- Hmm - murmurou.
Lentamente, Troy abriu os olhos e sentou-se. A luz do sol, que atravessava as janelas, iluminava o rosto moreno da sua Catarina.
- Catarina? O que aconteceu?
- Tu desmaiaste - ela explicou.
- Já liguei à tua mãe - informou Ryan. - Ela está a caminho.
- Eu desmaiei, não entrei em coma... - refilou, já a imaginar o caos em casa durante o jantar.
- Não digas uma coisa dessas, Troy- ralhou Catarina e em seguida deu-lhe uma palmada no peito. - Não me pregues outro susto destes.
Ele abraçou-a.
- Ouviste?
Ele abraçou-a.
- Ouviste?
- Ouvi, sim senhora. Desculpa - ele sussurrou ao ouvido dela. Quando se largaram, Troy deu um beijo no cima da cabeça da sua namorada.
- Estás melhor? - perguntou-lhe Violet.
- Devias ir descansar - acrescentou Melody.
- Ir ao médico, talvez - aconselhou a outra.
- Para não voltar a acontecer tens de descobrir a fonte e exterminá-la - concluiu Melody.
As gémeas falaram tão rápido e tão coordenadamente que o trio ficou a olhar para as duas pasmados e com um sorriso pateta no rosto. Ryan rapidamente tirou o sorriso dos lábios ao fitar os olhos de Melody.
- Estou bem, obrigado - Troy respondeu, passando uma mão pelo pescoço e em seguida pelo cabelo loiro.
- Então nesse caso, nós vamos indo, tudo bem?
- Não podemos faltar às aulas.
- Sim, está tudo bem. Ele já acordou, é o que importa - Catarina sorriu enquanto mexia no cabelo de Troy. - E como não posso ficar o dia todo com ele talvez vos encontre na escola. Digam à professora que posso chegar um pouco atrasada, sim?
- Claro. Então vê-mos-nos mais tarde. As melhoras - as gémeas despediram-se e caminharam de novo para a escola.
Dois minutos depois das gémeas saírem do café, a mãe de Troy, com uma expressão preocupada e assustada entra porta dentro. Vestia umas calças de ganga justas e por baixo do casaco castanho vestia a t-shirt amarela do bar. Os óculos de sol assentavam desajeitadamente na sua cabeça e o seu cabelo loiro estava preso num rabo de cavalo feito à pressa.
- Oh Troy, o que te aconteceu? - Charlotte abraçou-o. - Estava tão preocupada contigo. O que andaste a fazer para desmaiares? Não comeste? Será que a ferida infectou e foi por isso? Conta-me, Troy, vamos - ela largou-o um pouco para conseguir olhar-lhe nos olhos.
- Não sei... Sabes que de manhã como muito. Ainda agora almoçámos... Não percebo o que se passou. Desculpa, não te queria preocupar.
- Está tudo bem agora - ela abraçou-o de novo. - Vou levar-te ao médico.
- Não mãe... Não é preciso. Estou melhor, sinto-me melhor.
- Não interessa. Temos de saber de onde isto veio, imagina que se repete? Não quero e não posso voltar a receber chamadas do Ryan a dizer que desmaiaste do nada.
Charlotte pagou o almoço do trio, visto que as gémeas deixaram dinheiro para pagar o delas. Troy, depois deste dia apercebeu-se que Ryan nunca se irá calar sobre o seu desmaio e se fartar de encontrar uma maneira de gozá-lo. Durante alguns instantes, ele prestou atenção. A Catarina em algumas das vezes até se preparou para pontapear Ryan porque não estava a gostar da brincadeira.
- Isto é um assunto sério, Ryan Bennett - dizia ela. No entanto. ele não a ouvia.
Mas depois desses instantes, a única coisa em que ele prestou atenção foi o estranho sonho que teve. Se desmaiou, porquê o sonho? Ao desmaiar, tudo na cabeça se desliga por completo e só se vê a luz quando abrimos os olhos. Porém, não foi isso que aconteceu, e ele não percebia porquê. Estaria a ficar louco de vez? Terá ele batido a cabeça em algo quando se afogou no campeonato? Demasiadas perguntas e nenhuma resposta. Troy começara a perguntar-se até quando este tipo de coisas lhe iria acontecer. Só queria que acabassem. Só queria eliminar estes sentimentos que não pareciam ser dele. Apenas isso.
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