The Loss #57



Tema 



     Fria. Morta. Caída. Destruída. Derrotada. Desiludida. Amada. Era assim que Vénus se encontrava.
- Lamento muito - Qaya murmurou ao pousar a mão no seu ombro. 
     As palavras não se formavam na sua garganta que estava seca. Ele não conseguia pensar, falar. Nem ouvia propriamente. Todos os sons pareciam um abafo, um zumbido distante, rapidamente evaporados no ar. E ele abraçava-a à espera de acordar daquele pesadelo. Porque uma coisa destas só podia acontecer num sonho.
     Finalmente, a chuva caiu dos céus.
- O que devemos fazer? - Tema ouviu Luna sussurrar ao seu Tal. 
- Não sei. Não sei. Nem acredito que ela... - a voz de Sol fraquejou.
- Nem eu - disse Luna. - Mas Sol, temos de ajudá-lo - murmurou.
- Eu não preciso da vossa pena - Tema cuspiu as palavras como se fossem água do esgoto. - Vão-se embora! Já têm o que querem! Eu perdi. Eu perdi tudo! Eu perdi tudo... Tudo...
- Tema, vamos para casa - pediu Qaya. 
- Eu não tenho casa - replicou ele, a olhar o corpo morto da sua amante. - Já não tenho. 
- Ok, loirinho. Vou ter de te arrastar pelos pés? 
- Poupa-me Noir - Tema fitou-o. - Eu vou onde ela vai. Eu fico onde ela fica. Estamos entendidos? 
     Qaya e Noir não responderam. Tema arranjou forças para se levantar, mas antes deitou a sua amada no chão. As suas pernas pareciam que iam desabar a qualquer momento. Tema aproximou-se de Plutão que estava à beira do destino de Vénus. Baixou-se para poder tocar no Marca dele e passou a na tinta negra que lhe marcava o braço esquerdo. Ao passar o dedo, toda a Escuridão no corpo dele foi sugada e Plutão acordou num despertar calmo. Luna correu até ao seu pai.  
     Tema encarava o chão invisível, que retratava o estado de espírito da Estrela.
- Se me deixarem, eu gostava de ficar com ela um pouco -  e fitou os olhos azuis de Luna.  
      Ela mal conseguia retornar-lhe o olhar. Tema não a culpava. Sol respondeu por ela. 
- Claro. Mas tens de saber que ela tem de ser enterrada no seu planeta. Se não, não irá haver a sua reencarnação. 
- S-sim. Claro - Antes de desaparecer, Tema acrescentou - Não é preciso preocuparem-se. Eu não vou... 
- Ele não vai armar-se em criança e voltar a atacar a tua galáxia - terminou Noir depois de colocar o seu braço à volta dos ombros do Tema. - Mas eu posso tentar - e piscou o olho.
     Depois disto, Noir, Qaya, Tema e o corpo da Vénus abandonaram o palco invisível da guerra perdida. 




Luna 



- Olá pequena - disse, enquanto acariciava a minha cabeça.
- Desculpa por...  - comecei.
- Eu é que peço desculpas.
     Fitei-o. Sorri e abracei-o outra vez.
     Sol estendeu-lhe uma mão, Plutão agarrou-a e levantou-se.
- Está tudo bem agora - afirmei a limpar o rosto. 
- Onde está o Mercúrio? - Plutão perguntou.
- Aquele Qaya ainda vai levar uma tareia que vai ver - Mercúrio refilou a surgir do nada.
- Onde estiveste? - perguntei.
- Desmaiado no chão com uma enorme ferida no peito. Não se nota? - ele olhou à volta. - Onde está toda a gente? O que perdi?
     Não tinha imaginado que seria tão dificil dizer que alguém morreu. O silêncio começou a reinar no espaço.
- Ganhámos certo? - Plutão questionou.
     Eu e o Sol entre olhá-mo-nos e as nossas expressões mudaram completamente.
- O que se passou? - Insistiu Mercúrio. - Onde está a Vénus?
- Impossível - murmurou Plutão.
- Ela salvou-nos. É por causa dela que estamos todos vivos - acabei por responder.
- O que estás a dizer, Luna?
     Mercúrio não esperou pela resposta e vasculhou o pavimento inteiro. A chuva não ajudava mas não se via nada sem ser eles.
- A minha Irmã não morreu.... A Vénus não morreu! - exclamou Mercúrio.
     Tremi com os berros do Mercúrio. Os seus olhos estavam a ficar com outro tom. Sol colocou um braço à minha volta. O meu pai moveu-se o suficiente para tocar no ombro de Mercúrio de modo a acalmá-lo mas Mercúrio não queria acalmar-se.
- Vamos descer. Ele só precisa de soltar a raiva.
     E, finalmente, partimos para casa com a nossa vitória.





     O ambiente em casa pesava. O ar parecia irrespirável. Quando Mercúrio finalmente regressou, o céu tornou a ficar iluminado e calmo mas nem isso conseguiu revitalizar o nosso espírito. Eu estou bem, tirando o facto que a Vénus, a Irmã do meu avô e do meu pai, uma grande amiga da minha mãe e da minha avó e do meu Tal, morreu. A Vénus nunca foi chegada a mim, e eu nem consigo processar a morte dela, mas para mim vai ser menos difícil de recuperar disto tudo. Já para o Sol, para o meu pai, para o Mercúrio e a avó vai ser terrível. Eu nem imagino o que eles estão a sentir. Para eles a Vénus foi algo: uma amante, uma amiga, uma companheira, uma irmã... Nem quero pensar no que os restantes Planetas devem estar a sentir.
     Sol estava sentado num dos degraus do alpendre do jardim. Os seus raios incidiam mesmo para o alpendre. Sentei-me ao lado dele. Sentia tudo o que ele sentia através da Ligação, contudo não sabia como ajudá-lo e isso matava-me. Encarei os rosto dele que exprimia angustia e muita raiva e naqueles olhos ambarinos vi o quão triste ele estava debaixo daquela raiva toda.
     Encostei a minha cabeça ao seu ombro, depois de beijar-lhe a bochecha, e peguei numa das mãos dele. Ele apertou a minha mão fortemente e soube que ele estava a lutar o máximo para não chorar.
- Não faz mal - murmurei baixinho. - Estou aqui para o que precisares.
     Sol agarrou a minha mão com as suas e arqueou o corpo para a frente, colocando o rosto de maneira a que não o pudesse ver e baixinho, ele começou a chorar. 

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