United #46



Plutão 


 
     O calor que Plutão sentia era familiar. 
     Ao abrir os olhos, uma luz muito brilhante atingiu os seus olhos azuis acinzentados fortemente. Ele não sabia onde estava ou o que tinha acontecido. 
     Depois de recuperar os sentidos, sentiu uma dor aguda na sua cabeça. Plutão passou a mão pela testa e esfregou-a, na esperança de que a dor desaparecesse. No entanto, não passou. 
    Ainda deitado, Plutão respirou fundo e fechou os olhos. Ele tentou percorrer as memórias na sua cabeça, porém, nada lhe ocorria. Era como se ele não tivesse existido até àquele momento, como se não tivesse memórias até ter acordado agora. Plutão não se lembrava de nada.
     Abriu os olhos. Respirou fundo, e levantou-se. 
     O espaço à sua volta era brilhante e bonito. Ele sentia que já lá tinha estado. Não se lembrava quando ou com quem tinha lá estado ou porquê... Plutão observou o banco em que estava sentado e ouviu um miar debaixo dele. Olhou para baixo e viu um gatinho pequenino miar e chegar-se a ele. Começou a ronronar e a pedir festinhas. Plutão assim o fez. Foi nessa altura que uma figura feminina se formou no espaço. A luz que a rodeava era belíssima. 
- Plutão - disse ela num suspiro de alívio. 
     O seu abraço atingiu-o inesperadamente. Ele não sabia como reagir. Deveria abraçá-la de volta? Ficar ali parado? Ela afastou-se ligeiramente, dando-lhe a hipótese de ficar sem reação. 
- Sabes o meu nome, Plutão? - perguntou ela, desesperada e esperançosa. 
      Plutão não conseguiu formar palavras na sua boca. Ele limitou-se a abanar a cabeça.
     O olhar dele viajava pelo corpo dela, pelo seu rosto. Porque será que ela parecia-lhe tão familiar? Quando a viu, sentiu alguma alegria, mas ele não tinha memórias dela, não sabia o nome dela... Como sabia o seu próprio nome e apenas isso era também esquisito.
      Ela sorriu por entre o olhar triste.
- Tu vais ficar bem, eu prometo - ela agarrou na sua face com as mãos e beijou a bochecha dele. 
     O gatinho roçou na perna dele e ficou atrás dela. A mulher, depois de lhe beijar o rosto, desapareceu na mesma luz com que apareceu. Plutão decidiu sentar-se no banco e tentar perceber o que se passava sem nunca colocar a chance de sair dali.

     Mais tarde, a mesma mulher voltou a aparecer. Desta vez com uma expressão alegre. Ele sorriu-lhe de volta apesar de não perceber porquê. Ela despertava sentimentos fortes nele. A mulher aproximou-se, pegou na sua mão e sorriu com ainda mais entusiasmo. Ele agarrou na mão dela com força, como se nunca a fosse deixar ir-se embora de novo. Os rostos deles estavam tão perto, a respiração deles unificou-se, o batimento do coração dos dois era o mesmo. Ela sorriu, fechou os olhos e uniu os lábios dela aos dele. 
     O seu beijo foi como fogos de artificio no seu corpo. Plutão foi atingido por um mar de memórias, sentimentos e calor, muito calor. Ele sentia um mar energia de energia a percorrer o seu corpo, pulsando a vida que ele perdeu nas suas veias de novo. Qualquer memória perdida fora recuperada. A Escuridão que restava, que bloqueava a mente dele, tinha-se dissipado com o beijo dela, o beijo da sua Mel. 
     Sorriu. 
- Mel - encostou a sua testa na dela e fechou os olhos a apreciar o momento. 
- Estás de volta. Finalmente - o sorriso sentia-se na sua voz. Mel colocou os braços à volta do pescoço de Plutão. 
     Eles deram um beijinho à esquimó e Plutão deixou-se envolver nos braços da sua Tal pelo que pareceu horas.  



Luna 



     O meu pai não tinha aparecido para almoçar. Estava a ficar preocupada. A avó continuava a dizer que ele precisava do seu tempo sozinho, mas eu acho que aconteceu-lhe algo. Porém, não deixei que isso me abalasse muito. Ele pode estar bem e eu estar só a fazer filmes, como sempre. 
     Estava à uma hora a arrumar uma mala para irmos para Marte mas eu não sei o que levar. Estará calor ou frio? Húmido ou seco? Decidi que mais valia levar tudo. Peças de inverno e verão, calças quentes e calças largas. E botas mas botas rasas porque eu só tenho um par de ténis que por mim nunca usaria. Sol disse-me para não levar muita coisa, apenas o essencial. Bem 3 botas em tons de castanho rasas são essenciais... E aqueles tops também. 
     No final de tudo nem conseguia fechar a minha mala. Sol obrigou-me a tirar mais de cinquenta por cento da roupa dobrada. Provavelmente estava a exagerar, mas mais vale prevenir que remediar.
     Depois das malas estarem prontas, decidimos esperar que o meu pai aparecesse para irmos todos. 
     Ele não voltou para jantar e eu estava a ficar muito preocupada. 
- Não te preocupes, ele há de aparecer - Mercúrio garantiu-me.
     Uma parte de mim não acreditava no que ele dizia, mas outra agarrou-se às suas palavras como se fosse um colete salva-vidas. Limitei-me a respondê-lo com um olhar preocupado e um sorriso forçado.
     Nessa noite, a Lua apareceu-me nos sonhos.
- Luna - ela brindou-me com um sorriso amável. Aproximou-se com um abraço reservado para mim nos seus braços.
- Diz-me que está tudo bem, que isto é só um sonho vindo de ti porque tens saudades? Lua, eu...
- Luna, calma - sorriu-me de novo. - Está tudo ótimo. Por agora.
      Por agora está tudo bem, sempre por agora.
- Plutão está bem. Ele está aqui, no meu jardim, com a tua mãe.
      Uma dor forte atingiu-me acompanhado de um choque tremendo.
- Ele... ele morreu? Como é que está tudo bem, Lua?
- Ele não morreu, Luna - Lua suspirou e fez gestos calmantes com as mãos antes de pousarem nas minhas. - Ele sofreu um ataque. Receio que isto seja obra do Tema.
      As lágrimas já prontas para caírem dissiparam-se. Acalmei-me e respirei fundo umas duas vezes. Ele estava bem.
- O que aconteceu?
- Ele foi atacado pelo poder principal do Tema, o Ar. A Escuridão conseguiu invadir o seu corpo, a sua alma, a sua aura. Infelizmente foi fácil para o mal se apoderar dele, a alma do teu pai não é imaculada. A tua mãe chegou a tempo de destruir a Escuridão que consumiu o corpo do teu pai e restaurou a sua alma, aura e memória, a sua Luz. A tua mãe será sempre a Luz do teu pai.
     Soltei um suspiro de alívio após ouvir a explicação da Lua. O meu pai afinal estava bem, são e salvo. Sorri.
- Ainda bem que ele está bem. Se o perdesse agora não sei o que seria de mim...
- E não vais, pequena.
     A voz grave dele fez-me sorrir. Virei-me e encontrei o meu pai a poucos metros de distancia de mim. Sorri ainda mais e corri para abraçá-lo. Fui envolvida nos seus braços fortes. Nunca gostei tanto de sentir a sua barba no meu rosto, significava que ele estava realmente ali, que eu não o tinha perdido para o mundo das almas e espíritos. Ao abrir os olhos, encontrei a minha mãe a sorrir um pouco distante de nós.
- Mãe?
     Ela colocou a mão na boca e reprimiu o choro. Os cantos da sua boca subiram num sorriso. Soltei-me dos braços do meu pai e corri para abraçá-la. Por momentos consegui imaginar todos os cenários da minha vida em que eles não estiveram presentes serem repostos por este momento. O momento em que eu tive a minha família unida.





     Depois de passar longas horas no Mundo da Lua, acordei com o sorriso de Sol literalmente em cima da minha cara. Ele estava a sorrir tanto que me assustou. A careta que fiz devia estar espectacular para ele se rir durante 3 minutos sem falha. Quase o ameacei de morte.
     Fui tomar um duche e ele juntou-se a mim.
     Descemos para a cozinha para tomar o pequeno-almoço e o meu pai contou o que lhe aconteceu, já que ele só voltou para casa esta madrugada. De seguida, pegámos na pouca bagagem que cada um de nós levava e o meu pai, Sol e Mercúrio abriram um portal para Marte que emitia uma luz roxa, azul e branca.
     Assim que entrei no portal, de mão dada com Sol, uma energia possuiu o meu corpo. Sentia-me forte e com um vigor infinito. O portal passou, em forma de tubo gigante, pelo Universo e mais uma vez, eu estava maravilhada ao caminhar por ele. As estrelas, as cores dos Planetas, tudo nele me fascinava.
  Quando finalmente chegámos a Marte, deparámos-nos com uma tempestade de areia a chegar-se a nós.
- Oh não... - disse.
- Bem, filhota, podias ter mandado melhores cumprimentos não achas? - Mercúrio ironizou. O meu pai fez-lhe uma careta mas soltou-lhe um breve sorriso.
      Reparei que avó estava de mão dada com Mercúrio.
- Dêem todos as mãos. - Sol ordenou. Ficámos a olhar para ele. - Façam o que eu digo! Já!
     A voz irritada dele fez com que o obedecêssemos.
     A tempestade de areia estava segundos de nos atingir e engolir-nos completamente. Não sabia o que Sol estava a tramar, mas eu espero que funcione porque esta tempestade vai dar cabo de nós. 

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