The Insecurities #45



Luna 



- Então! Encontraste-a? Mostra-me! - Estava tão entusiasmada que nem dava Mercúrio hipótese dele falar. 
     Assim que chegara da casa de Tema eu fui a correr ter com ele. Ele poderia ter algo da minha mãe. 
- Calma, Luna - colocou a mão no meu ombro e sorriu-me. - Tenho boas notícias.  
- Encontras-te a Pedra? - ouvi o meu pai perguntar atrás de mim.
- Não, melhor ainda - ele deixou de olhar só para mim e fitou toda a gente. - Tema não tem a Pedra.  O que significa que temos de ir para Marte o mais rápido possível e encontrá-la. 
     Fiquei desiludida, queria tanto ver a Pedra, estava tão esperançosa. Mas parece que nem tudo está perdido. Se formos para Marte primeiro que Tema podemos encontrá-la e usá-la contra ele. E assim sempre posso visitar o Planeta que escolheu a minha mãe como sua personificação.
- E então, quando partimos? - perguntou Sol.
- Vocês estão tão apressados... Ainda é de manhã. Temos bastante tempo - disse a avó com cansaço. 
- Não queres ir descansar um pouco, avó? 
- Estou bem querida. Só preciso de tomar o meu chá. O Tema faz um chá horrível. 
     Ri-me com a careta dela. Acompanhei-a até à cozinha, ajudei-a a preparar o chá e depois servi-mo-lo a todos. Estava uma delícia, como sempre. E agora que a brisa anda a ficar mais fria sabe muito bem. 
- Quando partimos? 
- Amanhã? - Sol sugeriu. 
       A avó encolheu os ombros.  
- Acho que não devias ir, avó. 
- A Mel era a minha filha. Eu vou. E aliás, vou ficar em casa a fazer o quê, Luna?
     Ela tinha razão. A avó tinha de ir também. 
- Ela vem, Luna. Ponto final - disse Mercúrio com um sorriso. Eu sinceramente não sei porque ainda insistes em teimar com ela.
     A avó revirou os olhos. 
- O que é suposto levarmos? Vamos ficar lá quanto tempo? Onde é que será que está a Pedra? 
- Hey, abranda um pouco - Sol tocou com o seu ombro no meu. - Havemos de descortinar tudo isso, mas primeiro, preocupa-te com o almoço, está bem? - Ele puxou-me para a cozinha com ele.  
     Sol tirou-me a chávena da mão, colocou as suas mãos no meu rosto e fitou-me. 
- O que se passa? 
- Porcaria da Ligação... - suspirei. Contei-lhe o que me ia na alma - Eu não quero ir. Não! Eu quero. Mas não quero...
      Ele curvou os lábios num sorriso. 
- O que te preocupa? 
- Se nós formos... Para Marte... Tu talvez vás morrer. Eu não quero que isso aconteça se posso preveni-lo. 
- Não me vai acontecer nada, Luna. Como tu disseste, podemos preveni-lo.
- Tens a certeza? Ouve, eu não quero que...
     Ele interrompeu-me com um beijo. 
- Andas a falar de mais hoje. 
- Estou nervosa, é um efeito secundário - encolhi os ombros.
     Sol riu-se.
- Vamos é cozinhar o almoço.  



Vénus 



- Vais explicar-me tintim por tintim o que foi aquilo. 
     Tema fingiu não saber de nada. 
- Não tentes isso comigo, Tema. - Vénus fez-lhe cara de zangada e levantou a colher de pau que tinha na mão para ameaçá-lo.
     Ele levantou as mãos e sorriu.
- Calma.
     Vénus recuperou a postura mas continuava desconfiada e impaciente.
- Estou à espera. 
- Eu ia contar-te... Eventualmente.
     Ela suspirou. 
- Conta-me duma vez, Tema. 
- Bem. Aaa... - ele hesitava e Vénus estava cada vez mais irritada. - Eu estou à procura duma Pedra que pode dar-me todo o poder do mundo para destruir o Sol. - Tema disse tudo tão rápido que Vénus apenas percebeu as palavras "Pedra" "poder" e "Sol". Obviamente que a conclusão a que ela chegou não foi positiva.
- Pedra? Poder? Tema, o que se passa? -
     Ela pousou a colher, desligou o fogo, e concentrou-se no seu Tal.
     Tema parou de brincar e colocou o seu olhar sério. Vénus detestava aquele olhar.
- Em Marte, existe uma Pedra mágica que me pode o meu poder numa escala sem fim. Eu preciso dessa Pedra para destruir o Sol. Essa é a minha arma secreta, ou pelo menos, era.
      Em Marte... Mel... 
     Uma tristeza súbita atingiu-a como uma bala e espalhou-se rapidamente pelo corpo todo querendo manifestar-se em lágrimas. Vénus susteve o fôlego e controlou as emoções. Não queria de modo algum mostrar vulnerabilidade.
- Vénus? - Ele colocou uma mão no seu braço e fez Vénus acordar da sua pequena bolha de saudade e tristeza.
- Tu não vais roubar nada da minha irmã, Tema.
     Ela fitou-o e Tema ficou de sobreolho carregado.
- Vénus, não vou roubar. Se isto é por causa da Mel...
- Sim, é por causa da Mel. Queres usar algo dela para destruir o Sol? - Ela sem fôlego soltou uma curta gargalhada e de repente mudou o semblante para chateada e confusa. - Eu não acredito que vais continuar com isto. A Mondy e o Mercúrio estiveram aqui para ver se já tinhas essa tal Pedra?
- Estiveram - respondeu ele friamente.
     Vénus não iria permitir isto por parte do seu Tal. Tema podia ser o grande amor dela, mas antes dele já existia a sua família, a sua irmã, Mel. Ela tentou procurar algo que dissesse que ele não ia continuar com esta procura, que tinha dúvidas e já não estava certo quanto a isto mas não encontrou um vestígio de hesitação ou de desistência.
     Ela respirou fundo, procurando as forças para se ir embora outra vez.
- Não vou permitir que roubes o que é dela. O que resta do poder dela - Vénus abandonou a cozinha  e foi directa para o quarto com as temidas lágrimas já a caírem-lhe pelo rosto. Ela nem as continha, deixava-as correr pela face e esperava que eventualmente se esgotassem.
     Com o rosto ainda molhado. Vénus tirou um vestido o armário desarrumado e antes que Tema pudesse impedi-la de se ir embora outra vez, ela desapareceu na sua luz branca.



Plutão 



     A ideia de ir ao planeta que outrora foi a sua Tal era absurda. Ir poderia significar paz ou então ainda mais tristeza. Todos os cenários que ele poderia inventar na sua cabeça no final acabavam sempre por resultar no rosto dela e no da sua Luna. Ela era o fruto do eterno amor dele e da Mel. A sua pequena que infelizmente não iria estar para sempre com ele, assim como Mel. Porém, ele ainda a tinha consigo, nos seus braços e bem perto do seu alcance. Já com Mel, era exatamente o contrário. No entanto, ele sentia-a na sua respiração, em qualquer movimento feito, em qualquer palavra dita. Ele sentia-a e ela estava lá. Plutão acreditava nisso. 
  Plutão não se importava de passar os dias em casa sem fazer nada. Durante milhares de anos o que mais fez foi andar de um lado para o outro. E agora ele só queria estar quieto, no seu canto, no seu espaço. Com Mel nunca esteve parado e cada recanto parecia ter vestígios dela que ele parecia evitar para não sentir sentimentos avassaladores.
     O cheiro de comida pairava no ar. Mercúrio e Mondy estavam na sala a conversar. Sol e Luna na cozinha. E ele... Ele estava só. Bem, pelo menos por instantes. Persifal roçou-lhe na perna a ronronar. 
- Olá pequenino.
     Plutão baixou-se e deu-lhe uma festinha. Chamou o gatinho com um pequeno som para o seguir e ele assim o fez. Os dois foram para a rua onde Persifal aproveitou para descobrir recantos pouco explorados.
     O Planeta conseguia sentir o ambiente a mudar, o frio a chegar. O frio de Tema, a raiva dele. Tema podia querer aquela Pedra para dar-lhe mais poder, mas Plutão sabe que Sol só irá ganhar esta guerra por um fio. Tema está demasiado poderoso, demasiado irritado, zangado, partido. A única esperança que resta agora são Vénus e Luna.
     De súbito, Plutão sentiu o ar a tornar-se mais denso à sua volta. Tema estava realmente a manipular o Ar. Plutão sentiu o frio maligno que pairava no ar ser absorvido pelo seu corpo. Sentiu a sua aura cinzenta brilhante a mudar para tons de preto como se fosse manchada por tinta. A sua alma não era inocente e disso aproveitou-se Tema, puxando o Planeta para a Escuridão.
     Plutão caiu de joelhos com uma dor no peito inigualável a qualquer outra. Depois de tanto tentar reprimir a dor, Plutão não a conseguiu evitar por muito tempo e berrou. Os olhos azuis acinzentados arregalaram-se e ele tornou a gritar, desta vez com a mão no peito a fazer força. Assolado pela dor, Plutão não conseguia pensar. A sua mente parecia uma montanha russa. O seu corpo não respondia ao seu comando. Ele transpirava e gritos acabaram por ficarem presos na garganta. Ele não compreendia o que estava a acontecer. Ele nunca presenciara algo assim.
     Plutão sentia a Luz dentro de si morrer. Sentia o frio e a Escuridão a apoderaram-se do corpo dele, da sua alma e aura. No entanto, quando Plutão respirou fundo uma última vez, ele conseguiu ver a luz avermelhada tão familiar. Por entre a dor, Plutão conseguiu encontrar forças.
- Mel... - esboçou um sorriso fraco.
     Depois dos seus olhos mirarem a silhueta da sua Tal, Plutão tombou no chão, completamente carente de energia, Luz e alma. 

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