your look

a música baixa enchia o café, quase abandonado. sabia que irias lá estar, e por isso fui, queria ver-te. sentei-me na mesa mais ao fundo do local, não queria que me visses. não queria que me olhasses com os mesmos olhos de à meses atrás: desapontados e tristes. sabia que por esta altura estarias com um sorriso nos lábios, mesmo que não fosse verdadeiro. talvez até fosse, talvez não... a minha única certeza era que virias sozinho, apenas tu com o teu longo casaco preto e um cigarro entre os lábios. apesar de detestar este teu terrível hábito, era um pedacinho teu que já era impossível de remover, por isso não me importava. eras tu afinal. 
a espera consumia-me, a porta do maldito café não se abria, tu nunca mais chegavas. olho para a chávena quase vazia do terceiro café e deparo-me com o som da porta a abrir-se. sustive o ar quando te olhei pela primeira vez em meses, não me tinha esquecido do quão perfeito és, mas estavas maravilhoso, confesso. dirigiste te ao balcão e pediste o mesmo de sempre, uma cerveja. sei disso porque fui a única rapariga que alguma vez trouxeste a este café, e eu não aproveitei isso. sentaste-te numa mesa ao lado da parede paralela ao balcão, encostas-te e o teu olhar distanciou-se do mundo. na tua mente, viajaste para o teu pequeno mundo cheio de pensamentos. será que estaria nesses pensamentos? e se estivesse, pensarias bem de mim? duvido. suspirei. tu nunca irás olhar para mim da mesma maneira. quando me olhavas, os teus olhos reluziam amor e felicidade. olhavam para mim como a melhor coisa que te aconteceu. desculpa, desculpa-me. 
o teu olhar posto na garrafa de cerveja agora estava posto em algum lugar à tua frente. desejava que não me visses, não queria. não mereço o teu olhar. não mereço a tua atenção. não te mereço. o meu nervosismo ataca-me e só consegui pensar que ter vindo aqui foi o meu segundo maior erro. queria ir embora, mas irias ver-me. decidi ficar quieta, imóvel, naquela cadeira dura de café. surpreendeste-me quando te levantas e foste pagar a cerveja, provavelmente nem a bebeste toda. por minha sorte, o empregado demorou minutos, que mais pareciam horas, a dar-te o troco e durante a espera, os meus olhos postos em ti viram os teus postos em mim. paralisei. ficas-te sem reação, porém os teus olhos olhavam-me com saudade. sorri. era tudo o que eu precisava. 

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