The Surprise #17

     Caí em choque, de joelhos, e Lua veio ao meu alcance. Abraçou-me forte. Chorei. Precisava de chorar. Com tudo o que está a passar eu preciso de fazer alguma coisa e isso é chorar. O que mais posso fazer? Não sei nada neste momento, estou perdida. Muito perdida. 
- Vai ficar tudo bem Luna, garanto-te - Lua disse. 
- Espero que sim, espero mesmo. 
- Luna? Luna, querida, onde estás? - uma voz chamou. 
- Mãe?! Mãe, és tu? Estou aqui - levantei-me à sua procura.  
       O seu espírito apareceu mesmo à minha frente, abraçamos-nos e sorrimos. 
- É tão bom ver-te,  mãe - confessei. 
- A ti também filha - disse enquanto nos abraçava-mos. - Sei que não tens estado bem - fitou-me - mas não podes ficar assim. 
- Eu sei. 
- Tu és forte Luna. Eu acredito em ti - sorriu e abraçou-me de novo. 
- Obrigada mãe - sorri.
- Luna tenho de ir, protege-te. Segue o teu instinto - disse enquanto se afastava de mim a pouco e pouco. 
- Mas mãe... - deixei de a ver. 
- Luna - chamou Lua - ouve bem o que te vou dizer. 
- O que se passa? 
- Ouve-me Luna... Como já tinha dito e a tua mãe, tens de te proteger. Um mau momento virá e só se seguires o teu instinto conseguirás ultrapassá-lo. Estou preocupada Luna, mas tu és forte - aproximou-se de mim e agarrou na minhas mãos - prepara-te - concluiu e desapareceu num piscar de olhos.
      E num piscar de olhos acordei. Ofegante e preocupada. Apesar dos avisos da minha mãe e de Lua estarem a preocupar-me, eu estava feliz, pelo menos um pouco; Eu tinha estado com o meu pai. Eu vira-o, abracei-o e ainda vi a minha mãe. Apesar do mau momento em que me encontro, tive este momento perfeito. 
      Levantei-me. Sentia-me tonta. Precisava mesmo de comer qualquer coisa. Fui à cozinha à procura de comida e a avó aparece aflita. 
- O que se passa avó? 
- Sol, Luna. Sol foi-se embora. 
- O quê?!
      Como assim "foi-se embora"?
- Foi-se embora, desapareceu num feixe de luz. 
- Ele ao menos explicou porquê? 
- Não. Ele nem deixou um bilhete Luna, simplesmente, foi-se. 
- Ele pode ter ido dar uma volta. Não podemos assumir que foi-se embora - tentei dar uma explicação lógica.
- Duvido disso, mas seja como for, vamos esperar que ele volte - disse avó.
- Ai quando ele voltar... - refilei. 
- Se ele voltar... - sussurrou a avó preocupada.
- Ele vai. Tenho a certeza.
      Mas não tinha.





     Já é uma da manhã e nem sinal de Sol. Eu não queria ter a ideia de que ele pode ter mesmo partido para longe daqui, para longe de mim. Se há alguém que devia ter-se ido embora era eu. Somente eu. 
     Estou à espera dele na porta da frente à mais de 4 horas, com uma raiva enorme no peito. Pedia para que a nossa Ligação lhe mostrasse algum sinal de que o quero aqui, bem perto de mim, de que podemos esquecer esta discussão parva e que vamos ficar bem. 
      A avó já veio avisar-me para ir para dentro umas dez vezes a cada hora que passa, mas em vão. Não vou sair daqui. Não quero sair daqui. Quero ver Sol a caminhar na minha direção com um abraço reservado para mim. Apenas isso. 






     Sol não aparece em casa à pelo menos duas semanas. Ele realmente foi-se embora. Ele deixou-me. 
      A sua partida trouxe-me apenas tristeza e solidão. Já não queria fazer nada, porém a avó disse-me para desanuviar nos treinos. E a verdade é que isso é a única coisa que me ajuda a manter-me ocupada e num estável estado mental, porque o estado emocional já está partido aos infinitos pedaços. 
      As palavras de Lua ecoam na minha cabeça, "Um momento mau virá". Pois parece que já veio. No entanto não consigo de parar de pensar em como vai ser esta luta contra Tema. Temos uma responsabilidade e independentemente do que ele esteja a fazer, ele está a ser egoísta. Espero que ele ao menos tenha consciência disso.  
      Avó e Mercúrio faziam os possíveis para me manter distraída, divertida e alegre. Mas sabiam que isso era praticamente impossível. Sol, ao desaparecer, partiu o meu coração e ambos sabem que isso é algo difícil de aguentar. Não queria deixá-los preocupados mas eu também não conseguia animar-me o suficiente para convencê-los de que estou bem, porque eu não estou bem. Nunca mais vou estar totalmente bem por causa dele. Tudo por causa dele.  
- Luna - chamou avó. 
- Sim? 
- Podes chegar ao jardim por favor? 
- Estou a ir - respondi.
      Avó e Mercúrio sorriam, estavam lado a lado e escondiam algo atrás das suas costas. 
- O que estão a esconder? O que se passa? - perguntei confusa. 
- Bem... - começou avó. 
- Como andas meio em baixo por causa de Sol pensámos em dar-te algo para animar-te... - continuou Mercúrio. 
- E por isso decidimos dar-te um gatinho - concluiu avó a sorrir. 
     Corri para eles com a curiosidade e a alegria que sentia. Estava realmente empolgada. Sempre que quis ter um animal mas a avó sempre achou que eu não era capaz de cuidar de um e a ideia foi lentamente indo para baixo do tapete. 
     Avó estendeu as duas mãos que seguravam o precioso recém-nascido e deixou-me pegá-lo. Era um gatinho mau egípcio, com uns lindos olhos azuis. Tinha os olhos fechados e as patinhas para cima. Dormia profundamente.  
- É o gatinho mais lindo do mundo! - sorri - Obrigada, ele vai mesmo conseguir animar-me. 
- Ainda bem que gostaste, mas quero que saibas que és tu que vais cuidar dele - disse avó. 
- Não quero cocó no jardim Luna - disse Mercúrio. 
     Ri-me. - Sim, sim. 
     Fomos para dentro e Mercúrio foi buscar as coisas dele, a cama, as tigelas de comida, etc, no carro e levou a cama dele para a sala e o resto para a cozinha. Deitá-mo-lo na cama dele e fiquei a fazer-lhe festinhas até ele voltar a dormir. Era tão pequenino que só queria manter os olhos fechados.
- Ele precisa de um nome! 
- Tu é que escolhes Luna.
- Oh mas podias ajudar avó. 
- Hm, eu não sei nomes para gatos. Os que tive foram sempre nomeados pela minha mãe. 
- Mercúrio! - gritei. 
- Luna, mais baixo! Ainda o acordas. 
- Desculpa - sussurrei. - MERCÚRIO PODES VIR CÁ? 
- O que se passa, Luna, para tanta gritaria? 
- Ajuda-me a escolher um nome para ele, por favor - pedi. 
- Oh Luna, escolhe qualquer coisa - refilou, enfiando-se pela poltrona abaixo.
       A poltrona parecia agora uma miniatura por que ele era altíssimo.
- Obrigada pela ajuda Mercúrio, a sério. 
- Sempre às ordens - sorriu. 
- Acho que o vou chamar...Hmm... Per... si...faaa... Persifal! - sorri - Sim! Agora és o meu Persifal. 

Comentários

  1. à imenso tempo que te sigo e adoro o que escreves :))
    por isso deixo-te um selo no meu blog :D

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

expressa-te:

Mensagens populares deste blogue

gold #1

newborn

Underneath: Short Story #2