Box Full Of Secrets #20
Chegámos finalmente e quando entrámos a avó foi logo ver se estava bem do passeio.
- Então Luna, está tudo... - parou onde estava assim que viu Tiago à porta. - Oh, mas quem é este teu. amigo?
- Tiago esta é a minha avó, avó este é o Tiago - apresentei-os - Foi ele quem encontrou Persifal no outro dia.
- Ah sim, o herói.
Riu-se - É um prazer conhecê-la...
- Mondy - e esticou a sua mão para Tiago beijá-la. Tiago fez o que avó quis.
- Avó! - murmurei entre dentes meio envergonhada para avó. Apenas ela reparou. - Viemos tomar café - retomei.
- Olha que bom, acabei de fazer.
- Então vamos.
Indiquei o caminho a Tiago e fomos para a cozinha. Mercúrio claro que tinha de ver o que se passava.
- Então Luna, já nem apresentas o teu amigo?
- Desculpa, Mercúrio este é o Tiago, Tiago este é o Mercúrio - disse.
- Chamas-te mesmo Mercúrio? Que nome invulgar - confessou.
Eu, avó e Mercúrio olhámos-nos stressados. Ele não podia desconfiar de nada. Mercúrio tinha de dizer que não e que o seu nome verdadeiro era outro.
- Não é. Chamo-me... hmm - olhou para avó stressado, avó retribuiu-lhe um olhar calmo e desse modo Mercúrio acalmou-se - Chamo-me Miguel. Mas Mercúrio é um nome fixe sabes? - encolheu os ombros e foi em direção ao àrmario.
Avó olhou para mim preocupada e foi aí que dei conta de que Mercúrio estava apenas de calças de ganga, sem camisola. Ai vida.
- Mer... Hum, Miguel, porque não vais vestir uma camisola? Temos visitas - disse avó.
- Oh não tem problema, a casa é vossa - retorquiu Tiago.
- Vês, não há problema...
- Miguel, vai fazer o que disse - avó lançou-lhe o tal olhar e ele foi fazer o que ela mandou.
- Desculpa por isto - disse baixinho a Tiago enquanto avó preparava as chávenas.
- Estás a pedir desculpa porquê? Não aconteceu nada de mal, pelo contrário - sorriu.
Avó chegou com o café.
- Obrigado - sorriu-lhe.
- Ora essa - sorriu-lhe de volta.
Entretanto Mercúrio apareceu de novo, vestido, e ficámos todos à mesa a conversar e a beber café. Avó aproveitou e também colocou o novo bolo que ela tinha feito à pouco na mesa e ele acabou num instante. Já era quase hora de jantar quando Tiago disse que era melhor ele ir para casa.
- Tiago, não queres ficar para jantar? - perguntou avó.
- Sim, a Mondy faz jantares deliciosos, devias provar - disse Mercúrio enquanto limpava a mesa da cozinha.
- Oh não vos quero incomodar mais - confessou.
- Não sejas tonto - falei.
- Sendo assim - sorriu.
Tiago fez questão de ajudar no jantar, enquanto que eu e Mercúrio fomos para o alpendre do jardim conversar.
- Quem é este miúdo Luna? - perguntou, directo ao assunto.
- Sinceramente? Não sei. Ele encontrou Persifal e para agradecer perguntei se ele queria vir tomar um café cá a casa e ele recusou. Hoje encontrei-o de novo e começámos a conversar - Mercúrio olhou-me intrigado - Não se passa nem se vai passar nada.
- A tua sorte é que eu não te consigo ler, porque se conseguisse eu sabia exatamente o que vai aí na tua cabecinha.
- Pois, mas felizmente, não podes - respondi-lhe.
- Tu não podes confiar em qualquer pessoa que aparece na rua Luna.
- Quem disse que eu confio nele? Acabámos de nos conhecer Mercúrio e para além do mais, tu sabes que ainda não esqueci o Sol. Ainda estou à espera que ele entre pela porta da frente com uma bela explicação.
Mercúrio veio até mim e abraçou-me. Abracei-o de volta.
- Ele vai voltar. Ele tem de voltar - disse e beijou-me a testa.
- Obrigada, por tudo - soltei um sorriso.
Tiago apareceu e fingiu uma tosse na entrada do alpendre.
- O jantar está pronto, podem vir quando quiserem - o seu sorriso parecia meio pálido e foi em direção à mesa de jantar.
- Não me digas...
- Sim Luna, ela pensa que eu e tu... -
Rimos.
Rimos.
- Se ele soubesse o que realmente somos, enfim, eu depois falo com ele - disse enquanto íamos para dentro.
- É melhor é - soltou uma última gargalhada.
- Que cheiro maravilhoso!
- É tudo obra do Tiago, Luna.
- Cheira mesmo bem - disse-lhe.
Tiago sorriu-me de volta mas não com o mesmo entusiasmo de sempre. Talvez porque viu-me a mim e Mercúrio abraçados, mas isso não é razão para ficar tão abatido. Ele devia saber que não íamos ter assim nada de especial logo no primeiro dia em que nos conhecêssemos ou em qualquer outro dia.
O jantar até foi normal, mas havia qualquer coisa no ar. Todos notámos. Persifal a meio do jantar apareceu a miar que nem um doido. Demos-lhe comida e depois ele foi para a sala dormir.
Avó e Mercúrio começaram a tirar os pratos da mesa e a arrumar tudo, eu e Tiago fomos para o banco do alpendre do jardim.
- O jantar estava mesmo bom - voltei a dizer a tentar quebrar o gelo.
- Obrigado, a tua avó ajudou em tudo - retorquiu.
- Porque é que estás amuado?
- Quem disse que estou?
- Nota-se à distância Tiago.
- Vi-te com o tal Mercúrio...
- Pensas que ele e eu temos alguma coisa?
- Penso.
- E se tivéssemos, qual era o mal disso? Não é razão para amuares.
- Eu sei que não, mas não posso evitar.
- Fica descansado, eu e ele não temos nada e era estranho se tivéssemos. Somos família.
- Oh... ele é teu irmão?
- Meu primo - menti, mas ele não precisava de saber.
Rimo-nos.
- SOBREMESA - gritou avó.
- É melhor irmos, ela é capaz de gritar muito mais alto, acredita - avisei.
- Então vamos - sorriu.
O ambiente à mesa melhorou imenso e Mercúrio percebeu logo que tínhamos conversado.
Depois da sobremesa Tiago decidiu que era altura de ir embora.
- Eu levo-te à porta - disse-lhe.
- Obrigado pelo jantar - agradeceu Tiago.
- Ora essa, fizeste mais que eu - respondeu avó.
Tiago e eu fomos para a porta e ficámos no alpendre da frente.
- Gostei muito do dia Luna.
- Ainda bem - sorri.
- E lá vamos nós - riu-se.
- Tu. És uma caixinha de segredos.
- Não é caixinha de surpresas?
- Para mim, és uma caixinha de segredos.
- Tudo bem, que seja.
Tiago aproximou-se de mim, demasiado até. Eu sabia o que se ia passar se não me afastasse e não podia deixar isso acontecer.
- Boa noite, Tiago - e virei-lhe as costas.
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