The Decision #15
Sol confirmou a minha teoria e fiquei ainda mais sem reação do que imaginava. O meu pai está na Terra.
Com isto, mil e um pensamentos vieram à minha cabeça, como o porquê de ele não ter vindo procurar-me e de onde ele estaria realmente. A partir daí só queria encontrá-lo. Ele se calhar também podia estar à minha procura... Eu preciso de o encontrar, preciso de respostas, preciso dele.
Desde que fui ao espaço com Sol e soube que o meu pai estava na Terra que não paro de procurar informações. Seja na internet, seja em jornais, em qualquer lado que me indique o paradeiro do meu pai. Lembro-me que avó falava muitas vezes duma vila perto daqui que os meus pais gostavam muito de visitar... Desde que me lembrei disso que comecei a procurá-lo a partir daí. Ele podia ir de vez em quando a esse lugar, para se relembrar da minha mãe talvez.
Sol dizia para parar com esta pesquisa toda... Que eu estava a ficar demasiado obcecada. Mas ele não percebe. Eu tinha de fazer tudo para o encontrar, ele afinal de contas é o meu pai. A avó não questionava nada do que fazia, ela sabia que nada do que pudessem dizer ia fazer-me mudar de ideias. Mercúrio agia como Sol e avó. Preocupava-se mas também sabia que não ia desistir facilmente, sabia que eu sou demasiado teimosa.
Eu tenho de encontrá-lo. Eu tenho, eu preciso.
☾☀☽
4 dias depois
Já se passaram 4 dias. Não ando a dormir ultimamente, não tenho tempo e também não tenho sono. O café tem-se tornado o meu melhor amigo. Sol cada vez mais me dá na cabeça. Diz que estou a ficar demasiado obcecada, que não estou bem. Mas eu estou. Estou quase perfeita aliás. Eu só tenho de o encontrar, só isso... E só o farei se continuar à procura, se continuar mais noites sem dormir por ter tantas coisas a fazer, para ligar os pontos que vão surgindo, só vou conseguir encontrá-lo se continuar assim, se continuar com os olhos no objectivo.
Finalmente, depois de tanto pensar, encontrei uma pista no paradeiro do meu pai. Saí do meu quarto, e desta vez não foi para buscar mais café, mas sim para ir directo ao local onde o meu pai poderia estar. Estava tão empolgada, imaginava mil e um cenários de como seria o nosso encontro.
Ia em direção ao carro mas de repente algo em mim parou. Os meus joelhos fraquejaram, toda a energia que havia no meu corpo se perdera, a minha mente ficara vazia e num instante tudo o que via era preto. Desmaiei.
Acordei tonta e no meu quarto, não tinha percebido o que tinha acabado de conhecer.
Finalmente me apercebi que tinha desmaiado... Sol deve ter sentido a minha fraqueza e foi ajudar-me. Mas eu não posso ficar na cama o dia inteiro, tenho de ir encontrar o meu pai.
Levantei-me e fui procurar Sol, avó e Mercúrio. Não estavam na cozinha ou na sala, portanto fui ver no jardim. Ouvi, vindo do jardim, uma grande discussão.
- É por causa dele que Luna está assim, Mercúrio - gritou Sol a sentir-se culpado.
- Tens de ter calma Sol, tens de perceber que o Plutão é pai dela - disse Mercúrio.
- Não consigo! Plutão sempre foi assim, fugia das responsabilidades e isto é só mais um dos seus jogos - gritou - ele não quer saber da Luna.
- Não digas isso Sol...
- Vais defendê-lo Mercúrio? A sério?
- Parem de gritar, a Luna ainda pode ouvir-vos - disse avó.
- Não comeces Mondy. Isto é tudo culpa tua aliás - acusou Sol.
- Não vás por aí Sol - desafiou Mercúrio.
- Não vou porquê? É a verdade. Se a Mondy não tivesse dito à Luna que Plutão estava vivo, ela nem ficava com a ideia de poder ter o pai de volta.
E foi neste instante que percebi que isto era a minha visão a concretizar-se. A discussão entre eles estava a acontecer e a culpa era minha. Toda e somente minha.
- A culpa é minha por querer que a minha neta saiba a verdade sobre os pais? É Sol? Vá diz-me - gritou Mondy.
- É! O melhor para a Luna era nunca saber do Plutão! Tu sabes que ele é um irresponsável e não sabe dar valor à Luna. Ele mal deu valor à Mel. Tu sabes disso melhor que ninguém - gritou.
- O que se passa aqui? - gritei da porta do jardim.
- Luna... Estás aí há quanto tempo? - perguntou avó.
- O suficiente - respondi enquanto ia em direção a eles.
Mal conseguia andar. Estava demasiado fraca e Sol sentia-o.
- Luna - disse e aproximou-se de mim - agarra-te - sussurrou quando chegou perto de mim e fez-me apoiar nele.
- Obrigada e parem de discutir por favor. A decisão é minha, seja ela má ou não. Eu quero conhecê-lo.
- Mas Luna... Ainda não reparaste o mal que ele já te está a causar? - disse Sol.
- Mas isto é tudo culpa minha Sol, eu é que não soube cuidar de mim mesma - confessei - e peço desculpa por colocar-vos aflitos. Não queria que nada disto acontecesse...
- Eu é que peço desculpa, a ti e a vocês - e olhou para avó e Mercúrio.
- Pedimos todos - disse avó a mostrar o sorriso mais reconfortante.
Coloquei a minha cabeça no ombro de Sol e ele percebeu que tinha de ir descansar mais. Levou-me para o quarto e preparou-me um banquete com a ajuda da avó. Estava proibida de sair da cama, a não ser para ir à casa de banho. Mercúrio trouxe o tabuleiro com o meu jantar e o seu rosto mostrava seriedade.
- Passa-se alguma coisa?
Mercúrio colocou o tabuleiro a meu lado na cama e pensou muito antes de proferir qualquer palavra.
- Luna, acho que Sol tem razão. Eu sei que queres conhecer o teu pai mas talvez não seja o melhor.
- Não vamos falar disto outra vez pois não? Pensava que já tinham percebido que eu quero conhecê-lo.
- Percebi e tu sabes que eu quero o melhor para ti, mas Plutão pode não o ser.
- Não te preocupes, eu fico bem. Tenho-te a ti - sorri - O Sol e a avó, também.
- Tenho um mau hábito de subestimar-te - confessou - mas sei que és capaz de superar tudo - deu-me um beijo na testa. - Se precisares de mim, grita está bem?
- Sim - sorri.
Comecei a comer assim que Mercúrio saiu do meu quarto. A refeição que prepararam estava mesmo boa.
Bateram à porta.
Bateram à porta.
- Entra!
- Então, como estás? - sorriu - A comida está boa? - sentou-se na cama.
- Estou bem e a comida está ótima, obrigada - sorri.
- Ainda bem que gostaste.
Reparei que Sol queria falar de algo, como era de prever seria sobre o meu pai.
- O que se passa Sol? Desembucha.
- Luna, eu acho que estás a levar isto tudo do teu pai demasiado longe.
- Eu sei que fui a um extremo, mas não vai voltar a repetir-se Sol - ele não parecia convencido - Não confias em mim?
- Confio Luna, é claro - disse com todas as certezas, porém, havia um mas. - Mas é no teu pai que eu não confio. Ele deixou-te sozinha Luna, deixou-te em bebé. No momento em que mais precisavas dele, ele deixou-te... Eu não consigo parar de pensar que se ele conseguiu-te deixar em bebé, ele irá conseguir deixar-te agora e não quero que te desiludas.
Sol ao dizer isto levantou-se e ficou de costas viradas para mim com as mãos na cabeça. Ele tinha razão, mas eu não podia pensar assim. Obriguei-me a levantar e abracei-o por trás.
- Hey, olha para mim - virou-se e os nossos olhos encontraram-se.
- Desculpa, estou a ser egoísta.
- Eu percebo, se fosse contigo eu provavelmente iria reagir pior - sorri. - Mas eu preciso de o encontrar. Eu preciso de respostas, preciso de o conhecer Sol... Ele é o meu pai, não é? Eu mereço conhecê-lo.
- Mas ele não merece conhecer-te Luna.
- Talvez, mas isso já é decisão minha. E espero que me apoies em qualquer decisão que faça, seja do teu agrado ou não.
- Claro - disse meio magoado e meio rabugento.
- Não fiques assim, vá lá - pedi.
- Como queres que fique quando acho que estás prestes a mergulhar numa desilusão enorme? Ainda por cima se não sou capaz de o impedir - confessou.
- Sol ele é meu pai! O meu pai! - afastei-me dele. - Toda a vida quis conhecê-lo, mesmo sabendo que ele pode não ser a pessoa que estou à espera, ele continua a ser o meu pai. Isso não vai mudar. Parte de mim é parte dele, por isso não pode ser assim tão mau não é?
- Luna tu não tens nada a ver com ele!
- Então deixa-me verificar isso com os meus próprios olhos! Sei que achas isto uma má ideia, mas eu não vou desistir Sol, nunca. E se não estás disposto a aceitar as minhas decisões, por favor sai.
- Luna? Estás a falar a sério? - perguntou perturbado e confuso.
- Estou.
Sol fez uma cara de espanto. Estava chocado com o que acabei de lhe propor e uma parte de mim queria que ele saísse, mas outra só queria que ele percebesse e apoiasse. Porém, ele não conseguiu tomar a decisão acertada e saiu porta fora do meu quarto. Quando dei por mim, o meu coração tinha-se partido aos mil e um bocados e os meus olhos derramavam lágrimas sem fim.
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