The Practise #4

      



Tentei encontrar alguma coisa no meu armário que desse para servir como fato de treino. Com muita procura, lá no fundo da gaveta encontrei umas leggings e usei uma camisola velha que lá tinha. Calcei os meus odiados ténis e lá fui para o jardim. Ia treinar primeiro com a avó antes de estar com Sol. Ela queria ver onde as minhas habilidades físicas iam. Tínhamos parado de treinar à quase seis meses.
- Bem Luna, vamos lá ver o que és capaz - disse ela.
       Pensei eu que ia ser fácil, a minha avó não está propriamente na idade nova. Vai ser canja, dizia eu para mim própria. Até que ela veio a correr para mim, pronta para me atacar e eu só fugi na esperança de escapar a qualquer pontapé um murro que ela pudesse me dar.
- Luna! Não podes fugir! - gritou ela.
- Mas avó, ias matar-me - refilei.
- Vá, vamos fazer outra vez.
      Desta vez fiquei no meu sítio, pronta para contra-atacar mas acabei por cair nos truques mais fáceis do mundo. A avó apenas chegou-se a mim, tocou-me umas duas vezes e quando reparei já estava deitada no chão a queixar-me das dores.
- Que alguém nos ajude - disse a minha avó enquanto ia buscar uma garrafa de água no alpendre.
- E parece que é a minha deixa - disse Sol.
      Ele entrou, literalmente, a brilhar pelo jardim a dentro, praticamente despido e a soltar um sorriso encantador que me irritava imenso.
- Anda, toma a minha mão - disse -me estendendo a mão como forma de ajuda para me levantar.
     Aproveitei, já estava cansada e só tinha estado lá fora 2 minutos.
     Agarrei a mão de Sol que estava quente. Um quente acolhedor e bom. Ele puxou-me para cima, de maneira a que ficássemos frente a frente, pela segunda vez. Perdi-me no olhar que guardava mil e um segredos e desejei por segundos ficar assim para sempre. Mas caí em mim rapidamente e olhei para outro lado. Atirei a ideia de Sol ser uma pessoa séria e capaz de entender-me para o lixo e continuei a viver na realidade de ele ser infantil como tudo. A minha faladeira mental foi interrompida quando ele falou:
- Andaste a treinar a barreira?
- Sim, porquê? Queres entrar na minha mente é? - menti sobre ter treinado a barreira.
- Não, nem por sombras - disse calmo.
- Olha, como é que há sol se tu estás aqui? Está sol - perguntei parecendo uma parva por não saber já a resposta.
- Luna, não tens estudado o caderno que te dei - refilou a avó.
- Desculpa, mas eu tinha que trabalhar avó.
- Tenho os meus poderes Luna. Mandei alguns dos meus raios para o espaço para manter a normalidade no sistema - explicou Sol, compreensivo com a minha burrice.
- Hum, obrigada.
      Sorriu-me como resposta.





     Passámos a tarde a treinar e Sol apenas assistiu. Ria-se de vez em quando das minhas falhas no treino, o que me irritava imenso, e criticava a maneira como executava as posições que a avó me ensinava, o que me irritava ainda mais. A sério, quero saber o segredo da avó que conseguiu aturá-lo tanto tempo.
- Luna, podemos falar? - pediu Sol depois do treino.
- Diz.
- Eu realmente queria que nos déssemos bem - disse ele, sério.
- Eu também queria muita coisa Sol - ia-me embora quando ele puxa-me o braço.
- Que foi agora? - perguntei chateada.
       Olhou nos meus olhos durante o que pareceu anos, não falou nada, apenas olhou.
- Sol?
- Tu não tens barreira... - disse baixinho.
- Han?
- Eu não te consigo ler.
- Não é da barreira? - disse, mentindo e esperançosa que ele acreditasse. 
- Luna, isto é péssimo. Não te consigo ler!
- Péssimo? Achas que te vou deixar entrar na minha mente de livre vontade? Pelo amor de Deus Sol - larguei-me do braço dele e fui-me embora dali, a bater com o pé a cada passo que dava.
     Sol tinha realmente me irritado. Estava mais que irritada, quem é que ele pensa que é? O meu dono? Só porque sou sua protectora não lhe dá o direito de me ler. Que raio. Com tanto calor ele deve ter queimado o cérebro, só pode. 
     Tentei acalmar-me, não queria passar o resto do dia irritada e nervosa mas sempre que tentava, Sol fazia alguma coisa que me estragava ainda mais. Começava a ficar mesmo farta dele. 
- Tens que ter calma Luna. Ele não é fácil e para piorar, tu não és fácil. 
- Eu sei avó, mas ele mexe com o meu sistema nervoso. Irrita-me tanto - disse. 
- Está bem, mas tens de encontrar maneira de ultrapassar isso. 
- Eu tenho tentado, mas não é fácil. 
- Hás de te habituar querida. 
      Ajudei a avó a preparar o meu bolo de anos, ia ser de bolacha este ano. Tentamos sempre fazer um diferente desde que sei cozinhar. E até agora temos-nos saído muito bem. Sol estava lá fora, no alpendre, a fazer nada. 
- Vai lá falar com ele - disse a avó após ler-me a mente.
     Nem lhe liguei. Já nem valia a pena. Só tinha a certeza de que tinha de treinar isso da barreira. 
     Ia falar com o Sol. Não sei porquê, mas as minhas pernas andavam em direção a ele automaticamente como uma força e eu não queria nem conseguia pará-las. 
- Olá - disse - está tudo bem?
- Oh, olá Luna. Mais ou menos, senta-te.
- Posso saber o que se passa? 
- Bem, para não falar no assunto principal, deixei todos lá. 
- Todos? Lá? Lá onde, Sol? 
- Os outros planetas Luna, deixei-os sozinhos na galáxia. 
- O quê? Há formas humanas dos planetas? 
       Riu-se - Sim Luna, há. 
- Uau, sinto-me completamente burra. 
- Não tem mal, a tua avó também não sabia deles. 
- Pronto, já me sinto um pouco melhor - sorri. 

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