O Diário de Jay #10

Jay tentava dormir tranquilamente mas os pesadelos eram cada vez mais perturbadores e causavam imensas dores de cabeça. uma dor forte e aguda que nem inúmeros comprimidos pudessem curar. ele de certa forma sabia que isto não era normal, mas ainda assim marcava consultas em diferentes lugares, pois os médicos diziam-lhe que ele não tinha absolutamente nada. nada. Jay ficava sempre boquiaberto com isto. como é possível ele não ter nada, se de noite grita de dores e possíveis alucinações? Jay não se droga, quanto mais beber álcool. «Sou saudável, não tenho motivos para ter estas tais dores e alucinações, mas a verdade é que tenho» era o que dizia a todos os médicos depois de lhe entregarem o resultado de análises e testes. Jay, não compreendia, nem queria compreender. não tinha tempo, não tinha razões para. esquecer a Lara, concentrar-se nos estudos eram agora a sua única prioridade. mas ainda assim, no fundo do seu ser, sem mesmo dar-se conta disso, Jay sabia que isto não era algo normal e que nenhum médico o poderia dar a resposta. 

14 de Janeiro de 2005 

- Jay - uma voz sussurrou baixinho no canto do seu ouvido. 

Ofegante, Jay acordou do seu pesadelo suado e cansado. Farto daquela voz e dos sonhos era como ele estava. Não aguentava mais isto. 

- Tem de haver uma maneira de parar isto - disse Jay, para si.

Foi para a casa de banho, despiu-se e tomou o seu banho. A água fazia-lhe bem, limpava todo o mal acumulado durante a noite e refrescava-o para mais um dia. 
Apesar do seu horário ser bastante bom, Jay adorava voltar à escola. Sentia-se em "casa". Se lhe perguntassem ele não saberia explicar o porquê, ele simplesmente sente. 

Os seus pés quentes e molhados do banho percorriam o chão gélido da casa. Numa tentativa de encontrar coisas boas no frigorífico, desiludiu-se. 

- Porque é que não me lembro de fazer compras? - perguntou-se e fechou a porta do frigorífico brutalmente. 

Controlou-se pois não era assim que Jay queria ficar, acalmou-se e foi vestir-se. Abriu o armário e reparou que devia ir lavar a roupa e comprar mais. Ele estava a crescer ainda mais e a ficar mais forte sem razão aparente. Vestiu uma camisola vermelha escura e umas calças pretas que ainda lhe serviam, calçou uns ténis e penteou-se. Pegou na carteira e foi fazer compras. 
Ele até pode ser bom em muitas coisas, mas uma delas não é escolher a melhor fruta ou a melhor carne. A Anita costumava a ajudar-lhe nisso. Tentou lembrar-se das coisas que ela pedia e até que nem saiu mal. Pediu uma ajuda à senhora da mercearia, ao senhor do talho e lá acabou por fazer umas boas compras. Quando chegou ao seu apartamento estava um gelo. Jay questionou-se se tinha deixado alguma janela aberta mas não era o caso. 

- Mas que raio - disse. 

Foi buscar o aquecedor e ligou-o na ficha da sala. Parecia estar tudo a voltar à temperatura normal, e foi preparar o pequeno-almoço. Arrumou tudo antes, e de seguida cortou umas frutas, fez algumas waffles, e sumo. Jay sabia que não ia ser assim todos os dias, mas tinha imensa fome e na altura apetecia-lhe waffles e pensou «Porque não?». Afinal, depois de todos os pesadelos e meses terríveis que passou merecia alguma coisa de jeito na sua vida, as suas refeições. Lembrou-se a meio do pequeno-almoço o pequeno livro de cozinha que Lara deixara uma vez que tinha vindo cá. Passou logo pela cabeça do Jay começar a praticar. Vai dar-lhe jeito saber cozinhar algumas receitas e assim, sempre tinha uma coisa da Lara que era só deles os dois. Com isto, memórias vieram à sua cabeça mais uma vez, e lembrou-se do primeiro beijo com Lara. Só conseguiu sorrir e esperar que ela agora esteja a acompanhá-lo lá de cima, feliz e em paz. 

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