Underneath: Qaya #38

       Apareceram imagens de Aaro a passear com os irmãos. Numa ele estava com a Nina ao colo enquanto ela dormia profundamente. Noutra, ele e Andre competiam numa corrida de bicicletas que nada tinham a ver com as da Terra. Mais imagens iam aparecendo mostrando a vida dos Alexander e focando-se um pouco mais em Aaro/Tema. 
- Tinham mesmo de mostrar isso? - resmungou Tema. 
- As memórias são tuas - disse-lhe Vénus. 
- Acho que nunca considerei o Tema a ter uma família. 
- Ora, achas que ele apareceu assim do nada? - Lua contrapôs. 
- Não, mas a família dele era Guardiã da Luz. O que lhe aconteceu para se tornar no prodígio da Escuridão? Quer dizer, olhem para ele - Troy indicou o holograma. Nele, Aaro, Argus e Nyla riam-se duma parvoíce do Andre. 
- Estou mesmo ao teu lado - resmungou Tema outra vez. 
- Só quero saber o que te aconteceu. Pelo que vi, o Aaro nunca cederia ao Saeva. 
- Assim como tu nunca cederias ao Saeva? 
- Tema - disse Vénus. 
- Desculpa - pediu.
     Troy assentiu e sorriu como se não tivesse feito mal algum. 
- Assim como tu, o Aaro era muito novo - demasiado novo - para saber lidar com magia. Como ouviste, os seus pais deixaram que os deveres de Guardião fosse adiado para depois da infância. Tudo bem que eles aprenderem truques ao longo do caminho, mas a magia em Lys era praticada de maneira diferente. Alguns truques não eram nada comparado com as técnicas que eles teriam de aprender para serem totais mestres do Ar. Nem os seus pais o eram.  Saeva ao atacar Lys abalou a realidade de toda a gente, especialmente a dos Alexander que não conseguiam arranjar maneira de afastar aquela Escuridão do seu mundo. Portanto, quando o Aaro conheceu o Saeva, ele não tinha consciência de que o Mal podia adquirir várias formas.
     Lua trocou um olhar com Vénus e Tema. A Tal da Estrela sorriu-lhe discretamente. Com um gesto, Lua voltou a mostrar o grupo na biblioteca com Qaya a contar-lhes a história. A voz dele misturou-se com a dela enquanto contava outra parte do passado. 

- Os Guardiões gostavam de ser bastante próximos dos seus súbditos, apesar de toda a ajuda que recebiam dos assistentes e políticos. Enquanto Alaric estava a formar-se no exército em Velfy, Nöelle viajava com as crianças pelos restantes Reinos e apontava no seu diário as mudanças que precisavam de ser feitas. O governo de Basmar permitiu grande circulação de moeda mas também provocou um maior contraste na sociedade quando ela subiu ao poder. Nöelle fez os possíveis para diminuir esse contraste. Com Alaric finalmente em casa a tempo inteiro, Nöelle conseguiu uma pausa dos deveres e concentrar-se na sua recém-nascida, Nina. Argus, agora com quinze anos, começava a estudar com o pai no escritório e a ajudar com qualquer problema existente.


- Achas que nos estamos a sair bem?
- Tu estás a sair-te lindamente. Sinto-me mal ao deixar-te a cuidar de Lys e das crianças sozinha. Isto é um trabalho de equipa, não um solo - disse enquanto brincava com os dedos finos dela.
- Estás a aprender mais sobre como proteger o nosso mundo, Alaric. Não te posso pedir mais que isso.
- Podes e deves, Nöelle - ele colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. - Acabámos de ter um bebé e eu vou ter de ir embora durante mais seis meses. Perdi os primeiros passos da Nyla. Perdi a inauguração da tua clínica em Irys. Não te ajudei em tanta coisa e tu dizes que não podes pedir mais de mim.
- Bem, se te faz sentir melhor, gostava de pedir-te que me peças finalmente em casamento - ela apoiou-se no cotovelo esquerdo e olhou para ele. - O meu dedo precisa dum anel - abriu a mão mostrando o dedo anelar.
- Tens a certeza de que queres casar comigo? - Fez uma careta. - Nem sou assim tão bonito. - Nöelle sorriu e revirou os olhos. - O meu cabelo é demasiado fino e... e tenho a certeza que vou ficar careca antes dos trinta e cinco. Depois de sair do exército o mais provável é acabar gordo que nem uma bola e tu adoras ocupar oitenta por cento da cama portanto não sei como é que isto vai resultar.
- És tão estúpido - beijou-o.
- Vês? Outra razão que apoia o meu argumento - disse, enquanto a beijava.
      Alaric colocou os braços à volta dela e Nöelle deitou-se no peito dele. Ficaram longos minutos envolvidos nos braços um do outro.
- Eu quero casar-me contigo quando não tiver viagens de seis, oito meses, um ano, na minha agenda. 
     Nöelle suspirou. - És tão romântico, Al - disse num tom de gozo. 
- Eu leio demasiado - e encolheu os ombros.
     O relógio marcou as nove.
- Um... Dois...
- O que se passa?
- Espera... Três.
- PAIIIIIIIIIIIIII!
- Papa!
      Argus entrou a correr no quarto. Alaric começou a rir-se e Nöelle sentou-se na cama. Nyla vinha atrás do irmão com um sorriso enorme. As crianças subiram a cama e abraçaram o pai.



◄◊►



- Quando o Aaro atingiu os dezasseis anos, Lys recebeu a primeira ameaça. Os seus Reinos estavam numa óptima posição onde a pobreza tinha sido reduzida graças aos esforços da Nöelle, avanços técnicos e médicos tinham surgido e novos mestres do Ar começavam a circular a terra. Saeva abalou por completo a realidade das pessoas que viviam num ambiente quase perfeito. Nöelle estava à espera doutro bebé e como já tinha ultrapassado os quarenta anos, a gravidez era de risco. Alaric ficou o tempo que pode ao lado da mulher mas o exército precisava do seu Guardião. Argus e Nyla ficaram em carregue dos deveres de Lys enquanto Nöelle passava os dias na cama a repousar. Andre entretanto entrou para o exército e estava ao lado do pai o tempo todo. 
     «Saeva não conseguia quebrar as forças do Guardião de Lys e os seus soldados. Por isso tentou a sua agora especialidade: possessão. Primeiro tentou em Nyla para poder manipular o futuro líder dos Guardiões. Como não sucedeu, decidiu apoderar-se de Argus e foi como se tivesse ganho a guerra. De início ninguém reparou mas Nyla começou a estranhar certos comportamentos do irmão. Ela conhecia-o melhor que ninguém e como Andre não estava presente recorreu à ajuda de Aaro. Nöelle ficou ciente do plano dos filhos e a princípio ficou revoltadíssima. Não queria acreditar que o seu primogénito tivesse sido capturado pelas garras da Escuridão. No entanto, numa visita dele ao seu quarto, Nöelle conseguiu ver a Escuridão movimentar-se como uma aura negra à volta dele. A partir daí, Nina não saía da sua vista e ela temia pela vida de Argus. 
      «Aaro aproveitou a chance e partiu à procura duma solução que pudesse salvar o seu irmão mais velho. Enganado por Saeva e prometido um grande poder que derrotaria todo o mal, Aaro submeteu-se à Escuridão num elo que não podia ser quebrado pelos poderes dos seus pais ou de um mestre. O rapaz ingénuo levou Saeva directamente ao coração de Lys, o palácio da família. 
- Já se estava mesmo a ver - Ryan comentou, com a cabeça apoiada na mão. - Lá não os ensinavam a não confiar em estranhos? Quer dizer, é uma sociedade muito pacífica e isso mas de certeza que há gente um pouco parva da cabeça, tipo...
- Ryan - chamou Melody, interrompendo-o. 
- O que foi? 
- Cala-te - disseram as gémeas e Troy em uníssono. 
      Qaya clareou a garganta.
Nöelle começou a ter contracções na madrugada daquele dia - retomou Qaya, ao tomar certa atenção nas letras brilhantes do livro. - Passado algumas horas na manhã, Nöelle estava a dar à luz. Aaro, que tinha estado fora uma semana, voltou com Saeva dentro do seu corpo. Completamente possuído, primeiro matou a cidade que rodeava o castelo - Aura. Para não perder energia desnecessária, o demónio retirou o seu exército negro e Alaric e Andre regressaram. Argus foi o primeiro dos Alexander a morrer pela mão do Saeva. Depois a irmã mais velha. 



◄◊►



- Aaro, não tens de fazer isto. Ouve-me, filho! Sou eu, o teu pai - dizia Alaric enquanto segurava com a mão direita uma espada. Andre estava ao seu lado com uma lança nas mãos. - Nós podemos ajudar-te. Somos família. 

      Aaro riu-se. 
- Já não existe um Aaro, Alexander. O teu filho foi-se - disse. 
     Os olhos dele tornaram-se brancos e com as palmas viradas para Andre ele atacou. O ataque negro reflectiu no ferro da lança dele e os dois retrocederam dois passos. Alaric viu tentáculos negros à volta do seu filho como uma aura tenebrosa e soube que aquele seria o fim de Andre. Aaro sorriu ao sentir o medo ondular no ar do corredor e apontou de novo as mãos para o irmão. 
      Tudo o que Alaric viu foi uma onde negra. 
- Andre, foge - gritou enquanto saltava para a frente do filho sofrendo o ataque mortal da Escuridão. 
      Alaric caiu diante de Andre. Os olhos azuis perderam o seu brilho e um fio de sangue escorreu da sua boca manchando a barba loira. Andre não acreditava no que os seus olhos viam...
- Pai? - baixou-se e balançou-o. - Pai, acorda! Pai! Não... Não, não, não... Pai... 
         O pai estava morto aos seus pés. Queria tanto gritar e chorar e abraçar o peito dele mas não podia nem conseguia. Os seus membros paralisaram como a sua mente. A lança tinha tombado no chão e Aaro estava à frente dele com um sorriso vitorioso. 
- O que é que fizeste ao meu irmão!? - berrou. 
- Dei-lhe propósito - cuspiu ele. 
      Andre pegou na lança e correu na direção dele. Enfiou-a no abdómen dele e ficou à espera de vê-lo tombar mas tal não aconteceu. Aaro removeu a lança do corpo e sorriu de novo. Tinha um olhar de pena no rosto e as mãos vermelhas de sangue. Andre olhou para ele chocado com o coração a bater a um ritmo acelerado. Se ele não morria, como iria derrotar o seu irmão? Aquilo não é o meu irmão. 
- Não me podes matar, pequeno Alexander. Portanto faz as contas. Não sou eu quem vai morrer hoje. 
     Aaro atacou. Andre cerrou os dentes e fechou as mãos em punhos. Deu murros no vazio e dos seus punhos surgiram ataques de ventos fortes e cortantes que fizeram o seu oponente recuar. Ele deu dois passos e impulsionou o corpo num salto girando-o de maneira a posicionar a perna num pontapé donde saiu uma rajada de ar intensa. Aaro foi parar ao final do corredor chegando perto da escadaria dupla. 
- MÃE, FOGE. AGORA. - gritou. 
      No silêncio que se seguiu ele ouviu os passos apressados da mãe e o choro do seu irmão recém nascido. Se ele conseguisse empatar Aaro o tempo suficiente, talvez eles conseguissem sobreviver a esta catástrofe e salvar o máximo de pessoas possíveis. 
        Andre fitou o monstro à sua frente levantado e com as mãos bem abertas. Delas saiam fumo negro que envolviam o corpo do seu irmão... Ele avançou. Aaro avançou. O ataque dos dois foi apagado pelo impacto. Estavam agora com as mãos agarradas e a colocar força imensa nos braços e nas pernas. Andre deu um pontapé no peito dele e atacou-o com Ar. Aaro caiu e Andre foi para cima dele. Começou a dar-lhe socos. A boca dele estava a ficar vermelha de sangue. Aaro sorveu ar e os olhos dele voltaram ao azul esverdeado. 
- Andre! - disse ofegante. - Sou eu! 
- Aaro! - ele esboçou um sorriso e o rosto foi preenchido por alívio. Ele largou o colarinho do irmão. - Aaro ainda bem que... 
       Ele foi atingido por uma sombra negra que o fez sair de cima de Aaro. Os olhos de Andre estavam esbugalhados a olhar para o irmão, em completo choque. Das mãos saíram tentáculos negros que cortaram a pele de Andre como um chicote. Como se não bastasse a dor da pele rasgada, um calor começou a percorrer o seu corpo até às feridas como fogo. Andre caiu de joelhos e gritou tão alto que Nöelle ficou paralisada. 
- Acreditaste mesmo que era o teu irmão? - Riu-se. - Foi divertido enquanto durou, pequeno Alexander. 
       Com as mãos na cabeça do rapaz, Aaro torceu-lhe o pescoço partindo-lhe a espinha e matando-o.
- Vamos lá encontrar a tua mãe e acabar com isto - disse a limpar as mãos no fato branco. - Nöelle, onde estás? - perguntou num tom de voz alto e impaciente.
       Tentou abrir as primeiras portas do corredor mas estavam trancadas. Deu um pontapé nelas e abriram-se. Não estava lá ninguém. Os dois quartos a seguir estavam vazios até ele finalmente chegar ao da Guardiã. O recém nascido agora tinha parado de chorar e o quarto tinha sido engolido pelo silêncio. No entanto, ele sabia que aquele era o quarto certo. 
- Nöelle? Aparece. Não tornes isto mais difícil. 
       Ele começou a atirar objectos contra a parede. Cacos de vidro, flores e água, quadros e candeeiros espalharam-se pelo chão. Aaro até moveu a cama. Nöelle não estava em lado nenhum. Ele deu uma volta no quarto enraivecido e gritou.
- NÖELLE! 
       Chutou a cama com raiva e foi aí que viu uma passagem escondida.  
      Aaro caminhou para o quarto secreto e viu Nöelle nos seu vestido de noite branco com a barriga de grávida ainda saliente. Tinha o bebé nos seus braços e Nina atrás de si. 
- Aaro, pára com isto - disse ela. Os olhos azuis esverdeados brilhavam. 
- Não há aqui nenhum Aaro, Nöelle. O teu Aaro foi-se. 
       Ele abriu a mão esquerda e dos seus dedos saíram fios negros. O coração de Nöelle batia tão depressa e tão alto. Ela sentiu Nina puxar o seu vestido com força. 
- O que fizeste ao meu filho? O que queres de nós? 
- Quero o vosso poder. Vocês são a única família com sangue verdadeiramente mágico. Depois de vos matar e adquirir o vosso elemento, vou atrás dos chamados Mestres. E depois disso acho que vou dar uma visitinha na galáxia ao lado. Ouvi dizer que nasceu uma grande Estrela. 
- Aaro... - murmurou Nina. - Porque estás a fazer isto? - ela moveu o rosto de maneira a conseguir vê-lo. Nöelle colocou o braço à frente dela. 
- Nina, para trás - disse Nöelle. 
- Ela é mesmo querida. Aposto que se tornaria numa Mestra. 
       Ele virou os dedos para Nöelle e as crianças. 
- Não as magoes! Por favor... Não as magoes. Usa-me! Por favor... 
- Que querido - disse ele com o rosto a enfurecer. 
       Impulsionou o ataque duma vez só mas o seu braço ficou hirto de repente e os fios desapareceram. 
- Ora ora. Aaro, decidiste aparecer? - Aaro virou a cabeça para baixo de repente -  Mãe, por favor, foge - disse ele ofegante mas num tom de voz diferente - o seu tom de voz. 
       Nöelle não se mexia. 
- Mãe, por favor! Sai daqui! Vai! 
       No momento em que ela e as crianças começaram a andar, Aaro foi possuído pela sombra negra mais um vez. 
- Este rapaz precisa de aprender uma lição - murmurou. 
       Virou a sua mão para Nina e um fio negro rasgou-lhe a garganta. Nöelle gritou e caiu ao lado da filha. Sangue jorrava da sua garganta.
- Mãe - ela conseguiu pronunciar. - Mã...
- Shh, Nina, está tudo bem, meu amor - ela acariciou o rosto da menina. Nöelle mal conseguia falar com o nó na garganta e as lágrimas a caírem-lhe. 
        Nöelle viu a vida da filha desaparecer-se-lhe dos olhos e tornou a gritar agarrada ao vestido azul dela. Ouviu Aaro aproximar-se e fitou-o. Tinha a mão levantada apontada a ela e ao bebé.
- O Alphonse não, por favor... O bebé não... Por favor... 
       Ela curvou-se sobre o bebé tentando-o proteger da pessoa diante dela. Aaro tentava lutar contra o monstro dentro de si e por muito que conseguisse o controle dos membros por um segundo, a criatura dominava-o com ainda mais força. Ele estendeu as mãos sobre Nöelle e o bebé. Por um momento conseguiu controle do seu corpo e ia gritar à mãe para ela fugir o mais rápido que pudesse só que em vez disso uma luz negra e um riso histérico surgiram. Fios pretos e peganhentos saíram da sua mão atacando a mãe e o irmão mais novo numa morte certa. Nöelle caiu para o lado com o bebé morto nos braços. Os olhos esbugalhados a fitar o seu filho em completo choque e descrença. Um última lágrima caiu pelo rosto pálido dela e assim a família Alexander caiu. 



◄◊►


        Nenhuma imagem passava agora. Apenas a voz forte de Qaya se ouvia. 

- Alaric deu a sua vida pelo Andre e este lutou contra Saeva até ele finalmente matá-lo. Depois percorreu os quartos até encontrar o de Nöelle. Ela estava com o filho bebé Alphonse e Nina. Ela tentou procurar vestígios do Aaro mas não os encontrou. No entanto, o Aaro conseguiu controle do corpo durante uns segundos e disse à mãe para fugir. Logo a seguir o Saeva recuperou o controle e matou Nina. Nöelle deixou-se cair ao lado da filha e pediu que a vida do Alphonse fosse poupada. Mais uma vez, o Aaro recuperou consciência do corpo pensando que desta vez ia finalmente conseguir expulsar Saeva. O que ele não sabia era que Saeva tinha iniciado um ataque e quando o alma do Aaro se sobrepôs à do monstro ele deu fim ao que Saeva começou. Dessa forma, ele matou a mãe e o irmão. 
        Violet levou as mãos à boca em choque. Ryan desviou o olhar como se isso fosse evitar as imagens que passavam na sua cabeça. Melody e Troy não conseguiam processar o que tinham ouvido. 
- Ainda bem que não há imagens desses momentos - disse Ryan muito baixinho. 
- Ele matou os irmãos pequeninos? Um recém nascido? 
- Sim, Violet. 
- Como é que ele conquistou Lys? O Saeva era poderoso mas destruir um planeta inteiro deve requerer muito poder - perguntou Ryan. 
- Ele isolou Aura dos outros Reinos. Dessa forma, ele conseguiu adquirir a magia dos Mestres. Ele voltou a criar um exército que facilmente derrotou os soldados de Lys. Com o sangue dos Alexander e a sabedoria e o poder dos Mestres ao seu dispor ele acabou com a vida numa questão de dias. O Planeta ficou tão afectado que acabou por se auto-destruir. Essa galáxia agora caiu no esquecimento visto que não tem representações ou qualquer tipo de vida. Saeva aniquilou tudo à volta dele. Depois do sucedido, Saeva conseguiu manipulá-lo por completo. 
- E vocês achavam isso bem? Nunca pensaram nalguma maneira de libertá-lo? - perguntou Melody um pouco irritada. 
- O Tema ficou tanto tempo preso ao Saeva que quando finalmente obteve controle dos seus pensamentos e corpo ele não questionava o seu objectivo - conquistar o Sistema Solar. Mas ao obter esse controle, a sua personalidade também veio à tona. Ele connosco não era nem nunca foi o Saeva. Ele connosco era um Aaro com um passado terrível e ambição exagerada. E mesmo que eu quisesse tirar o Saeva do corpo dele, eu não iria conseguir. Não tenho esse poder. Para além do mais, eu nunca trairia o meu amigo.
       Surgiu um silêncio enquanto o grupo absorvia as palavras dele. 
- Troy, depois de ouvires isto vais deixar o Saeva no teu corpo? - perguntou-lhe Violet. 
- Ele não te vai responder sinceramente, Violet. Esta metade dele é demasiado orgulhosa. A tua sorte, rapaz - dirigiu-se para Troy -, é que eu conheço essa cara - disse Qaya. 
- O que vais fazer? - Troy questionou. 
        Qaya levantou-se e posicionou-se entre a mesa e a parede de fundo. Mexeu os braços enquanto murmurava palavras numa língua indecifrável e uma luz cor de rosa clara começou a surgir parecendo-se cada vez mais com uma nuvem. Qaya moveu-se e o grupo viu Lua, Tema, Vénus e vestido de branco, Troy.
- Troy, anda. 
        O grupo estava na ponta das suas cadeiras ao ver o portal entre Qaya e o Mundo dos Espíritos. Troy caminhou em direcção ao portal e viu a sua outra metade. 
- O que tenho de fazer? - perguntaram os dois em uníssono. 
- Basta tocarem-se sem saírem da linha entre o Mundo dos Espíritos e o Mundo dos Vivos. 
- Canja, então - murmuraram os dois Troy. 
        Lentamente, os dois colocaram as mãos ao nível do peito e as pontas dos dedos tocaram-se. Do toque saiu luz e ar e a partir daí os seus corpos uniram-se num só outra vez. O vazio que ambos sentiam desapareceu e foi como se tivessem colocado baterias novas. Troy sentia-se completo outra vez. 
- Qaya - Lua saudou. 
- Lua - ele fez uma pequena vénia e a nuvem começou a dissipar-se. Qaya colocou a mão grande no ombro dele - Como te sentes, Troy? 
- Melhor - disse ele a sorrir. 
     Troy foi surpreendido pelo abraço de Violet. 
- Desculpa - murmurou ela. Ela apertou-o com força. - Ainda bem que estás inteiro outra vez. 
- A culpa não foi tua. Não tens de me pedir desculpa por nada, Violet. Aliás, eu que é que devia desculpar-me por pôr tal peso nos teus ombros. 
- Mas Troy... 
- Já chega de mas. Já passou - eles fitaram-se. 
     Violet estava muito contente por ver o sorriso de Troy com o seu verdadeiro brilho. 
- Acho que há alguém a quem precisas de desculpar - disse ela ao sair dos braços dele. 
- Bennett - disse ao encarar os olhos azuis intensos do melhor amigo. 
     Ryan e Troy encontraram-se a meio do caminho até um e outro e abraçaram-se. Troy sabia o que tinha de dizer. 
- O mar e o sol, Bennett - e abraçaram-se com força. 
- Vocês são tão lamechas - comentou Melody. 
- Eu sei que também queres um abraço, Melody - disse Troy. 
- Não... Deixa estar - respondeu ao ver a troca de olhares entre os rapazes. - Nem pensem nisso.
        Mas já era tarde de mais. Ryan tinha pegado nela e quando deu por isso estava a ser esmagada por Ryan e Troy.
- Parem! Oh! Troy com tanta força não!
- Posso juntar-me? - perguntou Violet.
         Os rapazes deram espaço à Melody e Violet entrou no abraço.
- Estamos ridículos, sabem disso? - disse Ryan.
- Cala-te, Bennett.
- Só falta uma pessoa - murmurou, com os olhos postos no melhor amigo.
      As palavras dele afectaram-no imenso, como um choque para a realidade. Assim como as saudades, Catarina ocupou a mente dele instantaneamente. Ele sentiu a culpa a perfurar-lhe o coração como uma flecha.
        Qaya fingiu uma tosse. Todos olharam para ele.
- Podem ficar aqui durante o resto do dia. A biblioteca responderá às vossas necessidades.
- Vais-te embora? - perguntou Troy, confuso.
- Sim. Porque haveria de ficar?
- Não sei... Pensava que podíamos conversar - disse ele.
- Não há nada que eu te possa dizer que não esteja num destes livros.
- Sim mas é mais fácil falar que ler livros inteiros - insistiu.
- Eu voltarei - disse. Uma luz verde arroxeada brilhou à volta dele.
- Espera! - exclamou Melody. - O que fazemos em relação ao Saeva?
- Nada. Ele irá desaparecer eventualmente. Ah - acrescentou enquanto a luz o consumia -, nenhum humano pode tocar nos livros.
- Como se eu fosse dar-me ao trabalho - comentou Ryan.

         
◄◊► 



- Achas que ele a libertou? 
     O grupo estava na casa de Jade.
- Não. Claro que não - disse Mercúrio. 
- Eu acho que ele não a libertou mas não sei o que ele está a fazer com ela - respondeu Jade. 
- Então vamos atrás dele ou? 
- Acho melhor não. Vamos aparecer todos na porta da frente dela? O que a mãe diria? 
- É por isso que existe teletransporte - contrapôs Úrano. - Estão com medo do Juju? - disse a colocar uma uva na boca. 
Úrano - Luna pronunciou o nome dele com cansaço e revirou os olhos. 
- Vocês estão a esquecer-se que eu posso mudar a memória da mãe da miúda. Podemos ir à casa dela e devemos. 
- E se o Júpiter atacar e destruir-lhe a casa? Como vais fazer? - disse Jade. 
- Sei lá, improvisamos! 
        Jade começou a tossir. 
- Estás bem? - perguntou Luna. 
- Sim. É a mesma constipação do costume - disse ela. - Volta sempre com este calor. 
- Eu vou à casa dela - disse Sol e desapareceu na sua luz dourada. 
- Sol! 
- Pronto. Vê lá se ficas chateada com ele também, Moony. 

       Júpiter estava no quarto de Catarina encostado a um canto perto da janela. Catarina estava na sala com a mãe e do quarto podia-se ouvir os risos lá em baixo. Uma luz dourada entrou pelos cortinados e gentilmente, Júpiter desviou-os. Ele viu Sol à entrada e ficou muito irritado. 
- Catarina, temos de ir - disse ele na cabeça dela. 
- Não posso - ela tentou formar a frase na cabeça. - Aa... a minha mãe... 
       Surgiu um silêncio. Júpiter continuou a espreitar e viu Sol parado. Por um momento ele pensou ter cruzado olhares com ele. Ele desapareceu com a mesma rapidez com que apareceu .  

- Ele tem um campo de forças à volta da casa. Não podemos entrar ou sair. 
- O que fazemos agora? 
- Esperamos. 
- Maravilhoso. Que plano esplêndido - comentou Úrano. 
- Nós sabemos que ele não a vai magoar de propósito - começou Mercúrio -, portanto, que tal focarmos-no noutras coisas muito mais importantes? Podemos entrar em Lymph. 

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